Segredos (2024)
Escrito, dirigido, produzido e protagonizado por Emiliano Ruschel, o thriller
‘Segredos’ mistura drama, romance e suspense, com um final trágico. Tem aspectos
de melodrama com novelão mexicano e traz no seio da trama um casal
aparentemente feliz, mas que se autodestrói com segredos terríveis que ficaram
adormecidos. Aos poucos eles são revelados para o público. Infelizmente o filme
não tem emoção, falta capricho no desenvolvimento da história e é muito longo,
com seus 125 minutos que rodam, rodam, e não trazem novidades ou um clímax potente.
Também acho presunçoso um filme com 100% do elenco e produção brasileira com idioma
inteiramente em inglês – provavelmente fizeram isso para ter entrada nos
cinemas norte-americanos. No elenco, Emiliano Ruschel e Danni Suzuki interpretam
o casal, e tem participações de Carlos Takeshi e Monique Lafond. Exibido no Monthly
Film Festival, na Sérvia, e no Marbella Internatinal Film Festival, na Espanha,
a produção é da Ruschel Studios, em parceria com a Great Movies, com
distribuição nas salas de cinema do Brasil pela A2 Filmes.
O voo do anjo (2024)
O veterano Othon Bastos,
um dos meus atores favoritos, que completou 91 anos, é a atração desse filme
motivacional que conta ainda com o bom desempenho do ator Emílio Orciollo Netto.
Eles interpretam respectivamente dois professores que se encontram de maneira
inesperada; o primeiro é aposentado e vive com o filho médico num apartamento
de luxo, enquanto o segundo abandonou a carreira após uma tragédia familiar e
hoje faz entregas de comida. O destino unirá os dois para uma extraordinária amizade.
Rodado em locações de Goiânia, com cenas que exibem a cidade e seus pontos
turísticos, o filme independente traz reflexões sobre os baques da vida, a
velhice, o suicídio, o destino e o poder transformador da amizade. Simples na
forma, sem muita estratégia técnica, foi produzido pela Fata Morgana-Olhar Cinematográfico de Goiânia, escrito e
dirigido por Alberto Araújo, com produção executiva de Debora Torres, e tem
distribuição da California Filmes. Araújo havia trabalhado com Othon Bastos em ‘Vazio
coração’ (2013), ao lado de Murilo Rosa, um filme que gosto muito e assisti na
época no Anápolis Festival de Cinema.
Corisco e Dadá (1996)
Retorna aos cinemas brasileiros, agora em cópia restaurada em 4K, o maior filme do diretor cearense Rosemberg Cariry, ‘Corisco e Dadá’ (1996), uma ode trágica e violenta aos últimos dias do cangaceiro Corisco (1907-1940), o ‘Diabo Loiro’, integrante do bando de Lampião. O foco é a relação com a parceira Dadá (1915-1994), sequestrada por ele quando tinha 12 anos e levada ao cangaço - Dadá faleceu dois anos antes de o filme ser lançado. O filme, um drama com ação e romance, mostra um amor improvável no calor do alto sertão do Sergipe, onde lá Corisco instalou sua base no cangaço para vingar a morte de Lampião. Chico Díaz e Dira Paes dão vida aos personagens-título, entregando interpretações perfeitas que entrariam para a História do cinema – o filme saiu no ano-chave da Retomada, quando o cinema brasileiro se restabeleceria após anos cruéis de desincentivo à cultura. Chico Díaz, nascido no México, já era um ator consagrado do cinema e da TV, e Dira Paes, com 28 anos, ainda era um rosto desconhecido e aqui firmaria a carreira. Rodado em locações, em cidades do sertão do Ceará e de Pernambuco, foi exibido na época nos Festivais de Toronto e de Havana e ganhou o Kikito de Ouro de melhor ator para Chico Díaz no Festival de Gramado e o Troféu Candango de atriz para Dira Paes no Festival de Brasília. A restauração foi realizada com apoio da Cinemateca do MAM - RJ, Arquivo Nacional, Link Digital, Iluminura Filmes, Sereia Filmes e Mapa Filmes, a partir de negativos de imagem e som originais. Uma obra poética grandiosa, que veio num momento delicado do cinema brasileiro e agora pode ser visto/revisto na tela grande, com toda a beleza e provocação que o filme proporciona. Em exibição nas principais salas de cinema de São Paulo e Rio de Janeiro – as capitais Aracaju, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Salvador e Vitória tiveram exibição em semanas anteriores. Distribuição pela Sereia Filmes.
O aprendiz (2024)
O diretor e roteirista
iraniano Ali Abbasi já havia nos surpreendido com ‘Border’ (2018) e ‘Holy
spider’ (2022), dois trabalhos ímpares de suspense com drama psicológico, o
primeiro sobre um homem deformado que desenvolve o dom de sentir o cheiro do
medo, e o segundo, sobre a captura a um cruel serial killer de prostitutas.
Agora, em ‘O Aprendiz’, ele arrebenta a porta do mundo dos negócios de Nova
York dos anos 70 trazendo para a tela ninguém menos que Donald Trump. É ele o
protagonista desse filme sagazmente crítico que aborda sua ascensão no ramo
imobiliário. Sebastian Stan está feroz com o jovem Trump disposto a tudo para
obter fama e sucesso. Ele será ‘o aprendiz’ do advogado Roy Cohn, um homem
temido, inescrupuloso e cheio de manias – papel impressionante de Jeremy
Strong, um provável candidato a Oscar de ator coadjuvante. O drama aborda a Era
Trump, com todas as suas lateralidades, como os anos da Aids, o boom
imobiliário de Nova York, o neoliberalismo durante e pós-Reagan. E o filme não
é tímido em mostrar os embates de Donald com o pai e a crise no casamento com
Ivana (papel rápido, mas de destaque de Maria Bakalova) – tem até uma cena
forte em que ele estupra a esposa. Curiosa é a maneira de filmar de Abbasi –
ele insere cenas aéreas e das ruas de uma NY real, com apelo de documentário,
fazendo com que algo tenha envelhecido nas imagens, resultando numa fotografia
ambígua e original. Indicado à Palma de Ouro em Cannes. Um dos melhores filmes
do Festival do Rio. Estreou nos cinemas brasileiros no dia 17/10, pela Diamond
Filmes.
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