quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Especial de cinema


Os melhores filmes da Mostra de SP – Parte 7

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até 30 de outubro. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está no site oficial, em https://48.mostra.org.

Confira abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.

 



A cozinha

 

Saí atônito da sessão de imprensa ontem desse que é um dos melhores filmes da Mostra de SP e já integra a minha lista dos grandes filmes do ano – e que deve estrear em breve nos cinemas (por isso, deixem no radar). Com um elenco mexicano e norte-americano, o filme é uma brutal reflexão sobre xenofobia/imigração nos Estados Unidos, e tudo acontece em um restaurante em Manhattan, um microcosmo dos dilemas e crises da sociedade. Na cozinha do ‘The Grill’ trabalham imigrantes mexicanos, muitos deles ilegais e sem documentos, que chegaram aos EUA para tentar nova vida. Uma grande quantia de dinheiro desaparece do caixa, e todos os funcionários são suspeitos – principalmente os mexicanos. Figura central na cozinha, Pedro (Raúl Briones) é acusado pelo furto, mas nega; temperamental, ele fala o que vem na mente, e apesar de bom cozinheiro, arruma confusão facilmente. Ele acabou de engravidar uma das garçonetes, com quem passou uma noite, Julia (Rooney Mara), que é americana. Quando ela conta a Pedro que deseja abortar, uma crise entre os dois se estende para dentro da cozinha, criando um ambiente insuportável. Rodado num preto-e-branco incrível, com uma ou outra cena com cor, o filme é construído com inúmeros planos-sequencias de tirar o fôlego, com momentos que marcarão a memória do público – como a cena da confusão na cozinha, que dura 10 minutos, com pratos caindo, gente brigando e uma máquina de Cherry Coke explodindo. Além da xenofobia, o drama é uma crítica severa à exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo. Destaque para o elenco todo, com especial menção a Briones e Mara, e a superdireção do mexicano Alonso Ruizpalacios, do espetacular e premiado filme de assalto baseado em fatos ‘Museu’ (2018). Exibido nos festivais de Berlim e Tribeca, tem sessões na Mostra de SP nos dias 24, 25 e 29/10.

 



 

Misericórdia

 

O diretor de ‘Um estranho no lago’ (2013), Alain Guiraudie, mais uma vez chacoalha o público com seu novo longa-metragem, que foi exibido em Cannes e lá indicado ao Queer Palm. O cinema gay com reviravoltas inusitadas retornam em outro nível em ‘Misericórdia’, um drama que vira comédia dramática, sobre um jovem que retorna à cidadezinha natal para o funeral de um antigo chefe. No vilarejo, resolve se instalar por alguns dias na casa da viúva do homem, que tem um filho agressivo. Ele revê antigos amigos, fica próximo do pároco que mora ao lado e parece estar se habituando àquela rotina, exceto pelos atritos com o filho da viúva. Numa tarde, uma violenta briga com o rapaz termina em um gravíssimo incidente, que dará margem a uma série de desencontros enquanto está hospedado na cidade. O ator central, Félix Kysyl, segura o papel com um personagem de múltiplas camadas, que cresce em cena – de um rapaz tímido, introvertido e sem falar muito, envolve-se com um crime e vai se afeiçoando aos coadjuvantes de maneira ousada, abalando toda aquela comunidade. O roteiro é imprevisível, que nos leva a caminhos impensáveis. Conta com participação firme de uma atriz francesa que gosto muito, Catherine Frot. Há boas doses de um humor ácido, que transforma a fita num dos melhores momentos do diretor Alain Guiraudie. Sessões na Mostra de SP nos dias 24 e 30/10.

 



 

Árvores que eu me lembro

 

Drama turco melancólico e feminino, com uma protagonista de forte presença. Ela é uma jovem grávida que quer se suicidar. Porém, entra em dilema moral (pois matará o filho que está na barriga). Procura alguém que possa entregar o bebê, já que ‘prorroga’ seu suicídio para depois do parto. Acaba se reencontrando com um amigo de infância, hoje na cadeira de rodas, que mora com o pai idoso. Os três constroem uma estranha e delicada relação. Com ar de melodrama, tem uma história controversa que muda de tom ao longo da passagem do filme, e aos poucos, e com detalhes, somos inseridos no mundo triste da protagonista. Gosto da fotografia, dos personagens em meio a encostas e matas, que ajudam na construção da ideia de despedida da personagem. Sessão ainda no dia 24/10. Disponível gratuitamente na plataforma SPcine Play até dia 30/10.





Nenhum comentário: