terça-feira, 31 de agosto de 2021

Dica de Leitura


"Gostaria de contar como L. entrou na minha vida, em que circunstâncias. Gostaria de descrever com precisão o contexto que permitiu que L. entrasse na minha esfera privada e, com paciência, a dominasse. Mas não é tão simples. E no instante em que escrevo esta frase, 'como L. entrou na minha vida', percebo que a expressão ganha pompa, um exagero desnecessário, uma maneira de dar ênfase a um drama que ainda não existe, uma vontade de anunciar uma virada ou uma reviravolta".

Abertura do livro "Baseado em fatos reais" (2015), de Delphine de Vigan, lançado no Brasil pela editora Intrínseca (2016, 256 páginas, tradução de Carolina Selvatici). O romance, um thriller psicológico, acompanha os dias turbulentos da escritora Delphine quando conhece uma jovem, de apelido L., que trabalha como ghost writer. As duas ficam próximas, uma auxilia a outra no processo de escrita, ao mesmo tempo que loucura e pesadelo se misturam, tornando aquela relação perigosa.
Ágil, tenso, com traços autobiográficos e reviravoltas brilhantes, o premiado livro da escritora francesa ganhou uma formidável versão para cinema, de mesmo título, lançada em 2017, com direção de Roman Polanski, e contando no elenco com nomes de peso, como Emmanuelle Seigner, Eva Green e Vincent Perez. Recomendo livro e filme!
Obrigado, equipe da Intrínseca, pelo envio do exemplar.




Cine Brasil


4x100: Correndo por um sonho

Duas atletas, após fracassarem nas Olimpíadas do Rio em 2016, preparam-se arduamente para os jogos de Tóquio com a meta de reerguer a carreira.

As atrizes Thalita Carauta e Fernanda de Freitas engrandecem esse drama sobre competições esportivas que acaba de entrar no catálogo do Telecine, dois meses depois de estrear nos cinemas (tem como produtora a Globo Filmes com a Gullane e distribuição da Imovision). Elas interpretam duas mulheres dando duro para reerguer a carreira no Atletismo após um fiasco nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Ao serem derrotadas no revezamento 4x100 e consequentemente perderem a chance de ganhar medalhas de ouro, um efeito catastrófico se abate sobre suas vidas. Os anos se passam, e elas têm a chance de uma nova etapa no mundo do esporte. Mas precisarão abandonar a rivalidade para conseguir espaço nas Olimpíadas de Tóquio de 2020, e quem sabe reviver os tempos áureos de quando eram verdadeiras estrelas na mídia.
É raro vermos filmes sobre atletismo feminino (confesso que nunca havia assistido um feito no Brasil), e esse é um exemplar modesto, bem realizado e com alta qualidade de roteiro e trabalho técnico. Não é apenas sobre esporte, competição, determinação, há subtramas sobre preconceito e a mídia esportiva no Brasil, sendo um bom entretenimento para quem está à procura de conferir o nosso cinema brasileiro.
É o melhor trabalho do diretor de “Operações especiais” (2015) e “Desculpe o transtorno” (2016), Tomas Portella, que reuniu um elenco adequado em papéis sinceros, como o de Augusto Madeira (o treinador), além das duas atrizes já mencionadas.


Esqueça o título genérico e nada chamativo, e assista, pois é um dos bons feitos do cinema brasileiro de 2021, e que anteciparia a participação do país nas Olímpiadas de Tóquio.

4x100: Correndo por um sonho (Idem). Brasil, 2021, 91 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Tomas Portella. Distribuição: Imovision

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Cine Lançamento


Val

Documentário sobre o ator Val Kilmer, do início da carreira nos anos 80 até os dias atuais, em que enfrenta um duro tratamento contra o câncer, que o fez perder a voz.

Nesse documentário revelador produzido pela A24, com distribuição mundial pela Amazon Prime Video, conhecemos a vida e a carreira do ator Val Kilmer, que foi astro nos anos 90 e hoje se encontra debilitado devido a um terrível câncer de garganta que o fez perder a voz – ele está irreconhecível aos 61 anos, utiliza um aparelho de inteligência artificial para falar, além de sonda para se alimentar. Traz um vasto material de arquivo, com vídeos caseiros de Kilmer quando criança e momentos de juventude em família, além de trechos de filmes do ator e registros de bastidores/making of, como dos longas “The Doors”, “Tombstone: A justiça está chegando”, “Batman eternamente”, “Fogo contra fogo” e “A ilha do Dr. Moreau”.
O filme surpreende ao mostrar como Kilmer encontra-se atualmente (confesso que fiquei impressionado com sua aparência), devido ao exaustivo tratamento de quimio e radioterapia. Ele revelou a doença em 2016, e na première do documentário, no início desse mês em Los Angeles, seus dois filhos informaram à imprensa que o pai ainda está sob tratamento médico.


Os astros e estrelas de cinema não são eternos, um dia envelhecem, outros morrem cedo, e tem aqueles que são acometidos por enfermidades, como qualquer pessoa. Que o ator se recupere e retorne em breve à cena! Assista ao doc, que é um dos grandes lançamentos do mês no Prime.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Cine Cult


Amor à queima-roupa

Na cidade de Detroit, Clarence (Christian Slater) passa uma noite com a garota de programa Alabama (Patricia Arquette). Eles se apaixonam e resolvem fugir para morar em outra cidade. Mas ela precisa dar satisfação ao seu cafetão, Drexl (Gary Oldman). Clarence tenta chegar a um acordo com Drexl, que não aceita entregar Alabama para ele, dando início a uma guerra com traficantes e criminosos. Clarence mata Drexl, arrasta Alabama com ele, e a dupla foge com uma mala de cocaína pertencente ao cafetão, o que desencadeia uma perseguição interminável pelas estradas de Michigan.

Cultuadíssima fita policial dirigida pelo inglês Tony Scott (irmão de Ridley Scott e diretor de “Top Gun”, “Dias de trovão” e “Inimigo do estado”), com um roteiro porrada e violento de Quentin Tarantino em início de carreira (um ano depois de fazer “Cães de aluguel” e um ano antes de “Pulp fiction”). Infelizmente Scott morreu cedo, aos 68 anos, em 2012 (cometeu suicídio), deixando uma marca notável no cinema americano dos anos 80 e 90.


“Amor à queima-roupa” é talvez o melhor trabalho dele, o mais movimentado, realizado com eficácia, ousado nas cenas de sexo e drogas, e com uma estética da violência típica de Tarantino. Era o auge da carreira de Christian Slater e Patricia Arquette, em cena com feras do cinema em participações admiráveis, como Christopher Walken (o bandido vilão), Dennis Hopper (o policial pai de Slater), Gary Oldman (o cafetão, sob forte maquiagem e cabelos rastafari), Val Kilmer (o mentor, em homenagem a Elvis Presley, que conversa com Slater como se fosse sua mente), além de pontas de Brad Pitt, Michael Rapaport, Saul Rubinek, Bronson Pinchot, Chris Penn, Tom Sizemore, James Gandolfini e Samuel L. Jackson.


Marcou época, influenciou o gênero e tornou-se cult (deu prejuízo na estreia, depois afamou-se entre um seleto público americano).
Fita de ação de excelência, saiu em DVD pela Obras-primas do Cinema, em 2018, com uma hora de extras, inclusive com um final alternativo, e recentemente ganhou edição de luxo no box em DVD “Tony Scott – The red collection”, pela Classicline, acompanhado dos longas “Fome de viver” (1983, com David Bowie e Susan Sarandon), “Vingança” (1990, com Kevin Costner e Anthony Quinn) e “Estranha obsessão” (1996, com Robert De Niro e Wesley Snipes). Ambas as versões estão em excelente cópia, retiradas do mesmo master, e são a versão do diretor, de 121 minutos (isso porque houve a versão editada para cinema, de 119 min).


Amor à queima-roupa (True romance). EUA/França, 1993, 121 min. Policial/Romance. Colorido. Dirigido por Tony Scott. Distribuição: Classicline (DVD de 2021, no box ‘Tony Scott’) e Obras-primas do Cinema (DVD de 2018)

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Na Netflix


Homicídio na Costa do Sol

O desaparecimento de uma jovem em Andaluzia, no sul da Espanha, em 1999, mobiliza a polícia e a comunidade local. Dias depois ela é encontrada morta, e a ex-namorada de sua mãe é presa pelo crime. Poucos anos mais tarde, outra garota é assassinada na região, e os dois casos ganham uma nova perspectiva.

A Netflix investe há tempos em documentários criminais, de séries a filmes realizados em diversos países, muitos deles bem produzidos. “Homicídio na Costa do Sol” é uma dessas atrações especiais, voltada para quem procura um intrigante filme de mistério e revelações chocantes. Trata do caso de Rocío Wanninkhof, jovem assassinada em Andaluzia em 1999, um caso que teve vasta repercussão na mídia espanhola. Na época, a ex-namorada da mãe da vítima foi sentenciada e presa acusada pelo crime, colocando um ponto final naquela tragédia. Porém, anos depois, outra garota, de nome Sonia Carabantes, aparecia morta na região, e os traços do crime assemelhavam-se a de Rocío. A polícia e a opinião pública foram mobilizadas, e pairavam perguntas no ar: A mulher presa no primeiro caso é realmente a criminosa? Será ela integrante de um grupo que assassina meninas indefesas? As respostas são dadas no filme, que reconstrói os casos Wanninkhof-Carabantes de maneira singular, com depoimentos de familiares e autoridades policiais, até atingir uma conclusão estarrecedora.


Sem apelar ao sensacionalismo, o doc é uma obra intrigante que discute o papel da mídia no jornalismo policial e pretende desvendar a mente de perigosos assassinos. É uma das boas novidades no catálogo da Netflix, lançado há poucas semanas. Recomendo.

Homicídio na Costa do Sol (El caso Wanninkhof-Carabantes). Espanha, 2021, 88 minutos. Documentário. Dirigido por Tània Balló. Distribuição: Netflix

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Dica de Livro


"Iris ficou muito surpresa para responder. Olhou incrédula para as terras arenosas e cheias de plantas espinhosas que passavam pela janela, como se esperasse vê-la se transformar em chalés suíços, ou em lagos italianos.
- 'Ó', suspirou ela. 'A senhora é inglesa'.
- 'É claro. Achei que parecesse típica. Gostaria de tomar um chã?'
- 'Sim, é claro'.
Ao caminhar pelo vagão atrás de sua guia, Iris descobriu consternada que sua cabine ficava no final do corredor, bem na ponta do vagão. Parecia que seu quadrado protetor não lhe dava garantias contra acidentes, afinal de contas".

Trecho do clássico romance "A dama oculta" (1936), da escritora inglesa especializada em literatura policial Ethel Lina White, lançado no Brasil pela editora Vestígio, selo da editora Autêntica (2016, 272 páginas, tradução de Rogério Bettoni).
Em uma viagem de trem pela Europa, a jovem socialite Iris fica próxima de uma simpática senhora, Srta Froy. Horas depois, a idosa desaparece de forma misteriosa, sem deixar vestígios. Iris não entende o que ocorre ao questionar as pessoas a bordo, que informam nunca terem visto tal senhora. Então começa uma longa investigação com direito a muitas reviravoltas.
Com momentos de humor e suspense, o livro, aclamado dentro e fora da Europa, originou o filme homônimo de Alfred  Hitchcock, lançado em 1938, com Margaret Lockwood e Paul Kukas (disponível em DVD no Brasil pela Versátil Home Video, relançado recentemente). Procure já o livro!


sábado, 14 de agosto de 2021

Na Netflix



Army of the dead: Invasão em Las Vegas

Grupo de mercenários planeja um assalto milionário em uma Las Vegas tomada por zumbis.

É engraçado reparar como o diretor Zack Snyder tem acentuados altos e baixos na carreira. Dizem assim sobre ele: “ame-o ou deixe-o”, e até certo ponto concordo. Seus filmes, em grande parte, são coloridos, criativos, que dá nova roupagem ao mundo dos super-heróis e ajuda na revisão de gêneros como ação e terror. Snyder surgiu do mundo dos clipes musicais nos anos 90, e se tornou uma promessa do cinema a partir de 2004, quando estreou, com “Madrugada dos mortos”, seu melhor trabalho e que era um remake violento da fita de zumbis de George A. Romero “O despertar dos mortos” (1978). A seguir inovou trazendo a computação gráfica com outra estilização em “300” (2006) e “Watchmen: O filme” (2009), também dois filmes peculiares e muito enérgicos, e a partir dos anos 2010 houve a sua fase de declínio, com longas medianos, esquecíveis e zombados, como “A lenda dos guardiões” (2010), “Sucker punch: Mundo surreal” (2011) e os de heróis da DC Comics “O homem de aço” (2013), “Batman vs. Superman: A origem da justiça” (2016) e “Liga da Justiça” (2017, que esse ano ganhou a versão do diretor, estendida e deve chegar em DVD e Bluray em breve no Brasil). “Army of the dead: Invasão em Las Vegas”, sua nova produção, pela Netflix, é o retorno de Snyder ao bom cinema de ação com terror (lembrando que ele fez a fita de zumbis ‘Madrugada dos mortos’), em que se utiliza de uma licença para fazer o que quiser... uma fita de ação de assalto que vira terror sangrento, do humor escrachado à violência, o falso romance e os jumpscares desmedidos, e até mesmo não se preocupa com a duração (são 148 minutos, o filme de zumbi mais longo da história).



Ele continua dividindo opinião, muita gente avacalhou o longa, e eu confesso que curti muito e quero logo rever. Tenho um fraco por fitas de apocalipse zumbi, então esse me ganhou já nos trailers. Com uma geração de novos atores e parte deles canastrões que condizem com os papéis debochados, a destacar Dave Baustista, Ella Purnell, Garret Dillahunt e Ana de la Reguera, “Army of the dead” vem desse universo do cineasta que dialoga com a cultura pop, a cafonice (Las Vegas é um prato cheio para o lado brega do ser humano), super-heróis de dois jeitos (os sérios e os abestalhados), humor negro incutido na violência gráfica, ou seja, é uma pérola do gênero, esperta e bem construída. Sem contar que reinventou seus monstros, já que os zumbis são fortes, correm, saltam alto, e tem umas sacadas da metade pro final que não revelar... Valeu a intenção e a proposta! Assista sem preocupação, divirta-se com cenas hilariantes, segure-se na cadeira para algumas assustadoras e não critique o brega proposital. Só para aguçar sua curiosidade, tem uma aparição inesquecível, a de um tigre morto-vivo! Já na Netflix.

Army of the dead: Invasão em Las Vegas (Army of the dead). EUA, 2021, 148 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Zack Snyder. Distribuição: Netflix

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Cine Cult


Neve ardente

Em dezembro de 1942, soldados alemães preparam uma ofensiva contra os soviéticos às margens do Rio Volga, o que irá acarretar num revés para as forças nazistas durante a Segunda Guerra.

Esse filme de guerra soviético, lançado recentemente em DVD pela CPC-Umes Filmes, resgata um caso real na Segunda Guerra Mundial vivido por Yuri Bondarev, na época chefe de artilharia da URSS e que depois se dedicaria à literatura e ao cinema (seria roteirista de vários longas sobre a Segunda Guerra, como “Os últimos disparos” e as duas partes “Libertação”, rodados entre 1960 e 1970). Bondarev escreveu o romance original e adaptou-o para as telas, nessa obra dramática irretocável, com grandiosas cenas de batalha que assustam pelo grau de verdade e realidade. A história se passa durante a Operação Tempestade de Inverno, que durou 11 dias, entre 12 e 23 de dezembro de 1942, logo depois da ofensiva alemã, com blindados da Panzer, que invadiram Stalingrado. Os soviéticos haviam armado um cerco, inibindo 300 mil soldados alemães do general das forças nazistas Friedrich Paulus. Hitler, para quebrar o bloqueio e resgatar a tropa, enviaria uma frota de tanques, comandado por Marechal Manstein, enfrentando, assim, uma bateria antitanque do Exército Vermelho, em uma batalha surpreendente que marcaria os rumos dos dois países na guerra.


Tem um apuro técnico, filmagens em locações abertas como se existisse uma verdadeira guerra, e serve para quem aprecia História, ainda mais aquelas da Segunda Guerra. Tem um roteiro bem trabalhado, e uma montagem que engrandece o resultado. Recomendo conhecer!
É uma grata surpresa assistir a essa fita soviética raríssima, disponível numa cópia exemplar da CPC-Umes (destaco que o filme havia saído muitos anos atrás pela extinta Cultclassic, no entanto a versão da CPC está com melhor imagem e som).

Neve ardente (Goryachiy sneg). URSS, 1972, 102 minutos. Guerra. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Gavriil Egiazarov. Distribuição: CPC-Umes Filmes (DVD de 2021) e Cultclassic (DVD de 2007)

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Cine Clássico


No mundo dos monstros pré-históricos

Na Antártica, quatro pessoas caem numa cratera e vão parar em um mundo pré-histórico, dominado por perigosos dinossauros.

É uma daquelas fitas saudosistas de monstros e dinossauros clássicos realizada nos anos 50, com efeitos especiais chamativos para a época, mas que hoje soam cafonas e ultrapassados. Totalmente rodado em estúdios, com criaturas recriadas a partir de bonecos mecânicos e de pessoas vestindo fantasias. Originalmente produzido pela Universal, saiu há pouco tempo no box “Invasão Sci-fi: Dinossauros”, com outros três filmes da mesma linha: as duas versões de “O mundo perdido” (1925 e 1960) e “O despertar do mundo” (1940).
Vemos aqui um grupo de três homens e uma mulher cair numa cratera profunda na Antártica, que os leva a um mundo paralelo, como se voltassem ao tempo. O local é uma extensa floresta tomada por dinossauros voadores, outros terrestres, que passam a caçar os humanos. O quarteto tem de se proteger e encontrar a saída daquele mundo misterioso.


Em preto-e-branco, o filme tem direção de Virgil Vogel, que foi montador de cinema na década de 50 (editou, por exemplo, o clássico “A marca da maldade”), e posteriormente virou diretor de cinema e de séries televisivas, trabalhando até sua morte, em 1996. “No mundo dos monstros pré-históricos” é seu longa de cinema mais conhecido, bem popular entre os americanos e muito exibido na TV nos Estados Unidos. É um passatempo bacana para quem procura se divertir, para fugir de filmes que exigem demais nossa atenção.


No mundo dos monstros pré-históricos
(The land unknown). EUA, 1957, 78 minutos. Ação/Ficção científica. Preto-e-branco. Dirigido por Virgil Vogel. Distribuição: Obras-primas do Cinema

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Cine Cult


O destino de um homem

Motorista de caminhão do Exército Vermelho, o soldado soviético Andrey Sokolov (Sergey Bondarchuk) é preso pelos alemães durante a Segunda Guerra e levado ao campo de concentração. Quando a guerra termina, retorna para casa e descobre uma tragédia familiar sem precedentes. Ele então passa a refletir sobre a existência, a morte e recorda de momentos da guerra e das pessoas que o ajudaram a chegar até aqui.

Contundente e memorável, o drama de guerra escrito, dirigido e protagonizado por um dos cineastas soviéticos mais importantes de sua geração (Sergey Bondarchuk), é um filme de mensagem antiguerra, de aspecto memorialista – e lançado recentemente em DVD pela CPC-Umes. Dividido em duas partes, na primeira há a exaustiva jornada de um soldado soviético preso pelos nazistas, que sofre no campo de concentração, mas nunca perde a esperança; na segunda parte, com o fim da guerra, esse mesmo soldado retorna ao lar, e se depara com um fato que abalará para sempre sua vida.
O diretor fala sobre os horrores da guerra e a perseguição aos soviéticos pelos nazistas. Há uma trama paralela que fará todo sentido na segunda parte do filme que é a comovente relação entre o soldado e seu filho pequeno. O sólido roteiro é adaptado do romance homônimo de Mikhail Sholokhov, que ganharia o Prêmio Nobel de Literatura em 1965 (eu li o livro, a versão para cinema é muito fiel, e recomendo tanto o filme quanto a obra literária).


A CPC-Umes já lançou filmes do diretor Sergey Bondarchuk, como “A história de um homem de verdade” (1948), “Guerra e paz” (1965-1967), “Eles lutaram pela pátria” (1975) e “Boris Godunov” (1986).

O destino de um homem (Sudba cheloveka). URSS, 1959, 103 minutos. Drama/Guerra. Preto-e-branco. Dirigido por Sergey Bondarchuk. Distribuição: CPC-Umes Filmes

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Cine Lançamento



A casa que Jack construiu

O engenheiro Jack (Matt Dillon) é na realidade um serial killer que ataca mulheres e sofre de TOC. Ele tem um método próprio: após assassinar as vítimas, guarda seus corpos em um frigorífico desativado para um projeto futuro.

Causou indignação com direito a vaias no Festival de Cannes em 2018 o filme mais perverso e polêmico do cineasta dinamarquês Lars von Trier, o mesmo de “Dançando no escuro” (2000), “Dogville” (2003), “Melancolia” (2011) e “Ninfomaníaca – partes 1 e 2” (2013). E é o seu segundo longa na linha de terror psicológico, depois do também controverso “Anticristo” (2009). Na exibição em Cannes, parte da plateia abandonou a sessão, reclamando da violência explícita (exatamente numa das cenas mais chocantes, a caçada em que o protagonista mata crianças com um rifle). O diretor fez esse seu projeto ultrapessoal em resposta às acusações sofridas no festival, de que ele era misógino e nazista. A vingança veio dura, numa fita de arte perturbadora, macabra, indigesta e para público restrito.
Matt Dillon está maduro e super bem no papel difícil do serial killer Jack, um engenheiro que mata mulheres de inúmeras maneiras. O psicopata narra todos seus crimes em cinco capítulos (chamados de “incidentes”) para um interlocutor de nome Virgílio (papel de Bruno Ganz, num de seus últimos trabalhos - ele morreria em 2019 aos 77 anos). Virgílio faz referência ao maior poeta romano, autor de ‘Eneida’, que passa a ouvir as falas e evocações do protagonista, chega a dar conselhos e tramar com ele - Virgílio também teria outras simbologias, como o diabo e até a própria mente de Jack em suas indagações.


Virgílio (com uma voz gutural de amedrontar) e Jack filosofam acerca de obras-primas da História da Arte, falam de momentos históricos (como o Nazismo), onde se discute a grandiosidade e a beleza da arquitetura e das pinturas, e num dado momento até há uma menção ao próprio cinema de Trier, com cenas de seus filmes. E numa belíssima sequência alegórica em slow-motion eles imitam ‘A divina comédia’, de Dante Alighieri, navegando numa barca quando seguem para visitar o inferno.
Enquanto a conversa se desenrola com Virgílio, Jack comete crimes bárbaros, tortura as vítimas, esconde seus corpos em um frigorífico desativado, e até registra fotos dos mortos. Só que ele não é um assassino comum: ele tem TOC, precisa voltar à cena do crime várias vezes para checar se ficou tudo limpo, se nada vai incriminá-lo. E tudo prepara Jack para um objetivo maior: um projeto de engenharia referente à construção de uma casa com materiais únicos (e no desfecho você ficará aturdido com a escolha dele).
Com um humor macabro que chega a ser agressivo, o filme descontrói paradigmas e cria situações incômodas para exibir com sordidez a mente de um psicopata e fazer uma analogia à banalidade da violência no mundo contemporâneo.
Repito que é um filme para poucos, tachado até de doentio, com cenas de mortes brutais (em uma delas ele mutila o seio de uma mulher). Longo em seus 154 minutos e complexo, traz rápidas participações de atores e atrizes em momentos marcantes, como Uma Thurman, Riley Keough, Siobhan Fallon Hogan, David Bailie e Jeremy Davies.


Novamente colabora no roteiro com Trier Jenle Hallund, que haviam feito “Melancolia” e “Ninfomaníaca – volume 1”.
A pedido dos colecionadores, a Versátil lançou o filme em bluray em parceria com a California Filmes; acaba de sair no Brasil em edição especial em disco duplo, contendo, além do filme em BD, um disco em DBD com duas horas de extras, com dois cards, pôster e livreto.

A casa que Jack construiu (The house that Jack built). Dinamarca/ Suécia/ França, 2018, 153 minutos. Drama/Horror. Colorido. Dirigido por Lars Von Trier. Distribuição: Versátil

domingo, 8 de agosto de 2021

Resenhas especiais


Dois filmes para o público jovem, disponíveis no streaming. Recomendo!

Clouds

Zach Sobiech (Fin Argus), um jovem estudante com poucos meses de vida devido a um câncer agressivo, recorre à música para aproveitar seus últimos momentos. Uma de suas composições, chamada “Clouds”, fará enorme sucesso na internet.

Produzido pela Warner Bros, com distribuição mundial pela Disney+, o canal de streaming da Disney que vem se popularizando no Brasil, o filme é um drama para os jovens, humano e bem realizado, bem escrito e que deve levar boa parte deles às lágrimas. Isso porque conta a triste trajetória de um jovem estudante com muitos planos, Zach Sobiech (1995-2013), porém acometido por um câncer nos ossos, e que morreria prematuramente aos 18 anos, deixando para trás músicas compostas que seriam gravadas, depois, por outros cantores. Tinha talento e carisma, mas partiu cedo. “Clouds”, sua música mais conhecida, bombou no Youtube em 2012 poucos meses antes de Zach falecer e chegou a ser hit no Reino Unido, Canadá e França - e em 2020, por causa do lançamento do filme, voltou com tudo, atingindo o ‘top music’ no iTunes.


O filme tem momentos melodramáticos, o ator que o interpreta tem carisma e está adequado ao papel (Fin Argus, da série da Marvel “Agentes da S.H..I.E.L.D.”, de 2020), e praticamente tudo foi extraído do livro autobiográfico escrito pela mãe dele, Laura Sobiech, de título “Clouds: A memoir” – quem faz esse papel é Neve Campbell, da franquia de terror “Pânico”.
Direção do mesmo de “A cinco passos de você” (2019), o ator e produtor Justin Baldoni.

Clouds (Idem) EUA, 2020, 121 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Justin Baldoni. Distribuição: Disney+


A guerra do amanhã

Num futuro incerto, em um mundo tomado por monstros, o pai de família Dan (Chris Pratt) é convocado para uma guerra para defender a humanidade, juntamente com uma tropa de elite. Mas a missão será a mais árdua de sua vida.

Já vimos filmes de ação assim, de mercenários preparados para uma guerra incerta contra criaturas. Seguindo o mote de filmes desse naipe, “A guerra do amanhã” virou da noite para o dia um blockbuster no streaming, um filme caro, explosivo, que não para e lembra um jogo de videogame infernal. A palavra de ordem é “destruição”, e mais nada, contando com uma equipe técnica que bolou ótimos efeitos digitais para segurar o público na cadeira (efeitos bons por sinal, sejam nas explosões ou na concepção dos monstros horripilantes). Para os que procuram algo pra se distrair e não se importam com barulheira, a dica é válida.
Protagonizado pelo simpático Chris Pratt, um dos rostos mais bonitos do cinema de entretenimento atual e que segura qualquer filme, seja aventura, romance ou comédia, a fita de ação distribuída pela Amazon Prime Video em sua plataforma de streaming quebrou recordes e foi visto por milhões de pessoas no fim de semana de estreia (na primeira semana de julho), o que indica o futuro do cinema, que agora está dentro da casa dos indivíduos. O streaming veio para ficar, queira ou não... O filme também contou com uma campanha de marketing extensiva e mundial, com milhares de anúncios em redes sociais, rádios e TV, além de display especiais com monstros espalhados em pontos estratégicos nos centros de grandes cidades, inclusive no Brasil. Outro indicativo do futuro do cinema: o filme foi produzido pela Paramount com a Skydance Media e o Amazon Studios, e adquirido pelo Prime por U$ 200 milhões para ser lançado no ambiente virtual/remoto – isso por conta da Covid, que fez com que o filme não fosse lançado no cinema. Essa é aposta de muitos produtores, de lançar suas obras de cinema na rede, já que o número de assinantes de streaming, como Netflix e Prime, cresceu absurdamente entre 2020 e 2021 em relação aos anos anteriores, uma das consequências da pandemia.


Dirige Chris McKay, da animação “Lego Batman: O filme” (2017), que foi montador de “Uma aventura Lego” (2014).

A guerra do amanhã (The tomorrow war). EUA, 2021, 138 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Chris McKay. Distribuição: Amazon Prime Video

 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Cine Especial



Nerve: Um jogo sem regras

* Resenha publicada em 30/05/2017

Vee (Emma Roberts), uma estudante do Ensino Médio, aceita, por intermédio de colegas da escola, entrar em um jogo online que propõe ao participante inúmeros desafios reais. Para completar as fases do jogo e ganhar prêmios e aumentar o número de seus seguidores, é necessário se jogar em atividades perigosas. Vee então se torna popular nas redes sociais, ao lado de um competidor de quem se torna parceiro, Ian (Dave Franco), enquanto os desafios do jogo tornam-se ainda mais arriscados.

Fita de ação de ótima montagem que escancara discussões acerca dos perigos das redes sociais, bem como da Darknet e Deepweb e dos jogos online que nos últimos anos causaram mortes de jovens devido aos perigosos desafios propostos, como a tão falada “Baleia Azul” (essa ganhou páginas e páginas das mídias nesse ano, e vale lembrar que a polícia russa investiga mais de 40 suicídios provavelmente relacionadas à ‘Baleia’).
Em “Nerve” (nome de um jogo fictício com tais propostas), jovens são inseridos num mundo cibernético em busca de satisfação e likes com torcida para que vençam desafios, feitos no plano da vida real. As competições são vigiadas, gravadas ao vivo e lançadas nas redes, virando um hit entre os jovens.
É um filme com linguagem jovial, para o público adolescente, sobre a “alta modernidade” e a construção do self na era da mediação, onde os personagens estão sob alta exposição. É o mundo atual, o da espetacularização da vida íntima pelas redes sociais, a alienação e narcose de mãos dadas, naquele espaço, o da cibercultura, em que principalmente os adolescentes se sentem pertencidos. Faz pensar como a tecnologia está presente em nossas relações e como ela modela os padrões sociais.


Baseado no romance de Jeanne Ryan, com roteiro de Jessica Sharzer, roteirista de episódios de “American horror story”, o filme tem à frente do elenco Emma Roberts (de “American horror story”) e Dave Franco, irmão mais novo de James Franco (de filmes como “Vizinhos 1 e 2”), e participação especial da indicada ao Oscar Juliette Lewis.
Nos cinemas fez boa carreira, rendendo nas bilheterias U$ 85 milhões (de um orçamento de U$ 19 milhões), e foi lançado há poucas semanas em DVD e Bluray pela Paris Filmes. A direção é da dupla que havia feito “Atividade paranormal 3 e 4”, Henry Joost e Ariel Schulman.

Nerve: Um jogo sem regras (Nerve). EUA, 2016, 96 minutos. Ação/Suspense. Colorido. Dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman. Distribuição: Paris Filmes

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Dica de Livro


"3 de marsso: Dotor Strauss diz que eu deveria iscrever o que eu penso e mi lembra de tudo que acontese de agora endiante. Não sei por que mas ele diz que é importante  então eles vão poder ver se vão mi usar. Quero que eles mi usem porque a professora Kinnian disse que tal vez eles possão mi fazer intelijente. Eu quero ser intelijente. Eu mi chamo Charlie Gordon, trabalho na padaria Donners onde o senhor Donner mi dá 11 dolares por semana e pão e bolu se eu quero".

Abertura do livro "Flores para Algernon" (1966), de Daniel Keyes, lançado no Brasil pela editora Aleph (2018, 288 páginas, tradução de Luisa Geisler). O clássico romance da literatura americana inspirou o filme "Os dois mundos de Charlie" (1968), que deu a Cliff Robertson o Oscar de melhor ator, no papel do personagem principal. Trata de um homem chamado Charlie, que tem deficiência intelectual, que aceita participar de uma cirurgia pioneira para reverter seu QI. A inteligência dele cresce de forma assustadora, e o paciente passa a ter novas percepções da realidade.
Delicado, profundo e sem dúvida uma obra-prima do mundo da ficção científica, o livro também deu origem a um musical da Broadway. PS: A escrita do livro com erros de grafia é proposital, já que é a escrita do personagem com deficiência intelectual.




segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Dica de Leitura


"À medida que os dias passavam, a atmosfera da cidade foi ficando estranha. Era como se Nova York tivesse perdido algo - seu aspecto de realidade ou sua importância - e a cidade agora representasse uma peça, apenas para ele, uma peça colossal com seus ônibus, táxis, transeuntes apressados pelas ruas, os programas de televisão em todos os bares da Third Avenue, as marquises dos cinemas [...]"

Trecho de "O talentoso Ripley", o polêmico romance policial da escritora americana Patricia Highsmith, lançado em 1955 e que recebeu no mês passado uma caprichada edição em capa dura no Brasil pela editora Intrínseca (2021, 337 páginas, tradução de José Francisco Botelho). O livro conta a vida do golpista Tom Ripley em uma arriscada missão: convencer o herdeiro de uma fortuna, o playboy Dickie Greenleaf, a retornar para casa para assim assumir os negócios da família. Mas ao conhecer Dickie, Ripley tentará ficar cada vez mais próximo dele, pois pretende ter aquela vida de riqueza também.
Com elementos das autênticas tramas policiais de investigação e momentos de suspense e subversão, o livro tem um clima erótico entre os dois personagens masculinos centrais, que causou muita controvérsia na época do lançamento. E ganhou duas grandes versões para cinema: a primeira em 1960, "O sol por testemunha", com Alain Delon no papel do protagonista, e a mais famosa, em 1999, um thriller de Anthony Minghella, com Matt Damon na pele de Ripley - o filme foi indicado a cinco Oscars, incluindo melhor ator coadjuvante para Jude Law e melhor roteiro adaptado.
A Intrínseca também lançou esse mês a continuação, "Ripley subterrâneo", que em breve comento aqui. Por enquanto leia com atenção essa obra-prima da literatura contemporânea norte-americana.




domingo, 1 de agosto de 2021

Especial Netflix


Confira indicações de três filmes novos produzidos pela Netflix e disponíveis no streaming.


Céu vermelho-sangue

Bandidos fortemente armados sequestram um voo transatlântico e fazem os passageiros de refém. No avião, uma mulher portadora de uma estranha doença tentará salvar as pessoas, inclusive seu filho pequeno.

Bom filme alemão da Netflix que estreou semana passada e promete surpresas. Em partes lembra a estrutura de “Um drink no inferno”: começa com um sequestro (aqui a de um avião), numa típica fita de ação, com clima de desespero; só que a ação dá espaço para o terror, quando a personagem central, portadora de uma doença misteriosa, vira uma criatura vampiresca sedenta por sangue (calma que não é spoiler, a criatura aparece no trailer e na própria capa do filme). Para explicar ao público o que ocorreu com essa mulher, o filme recorre a flashbacks. Há mortes sangrentas, tiroteios e serve para quem procura um entretenimento diferente. Só acho um pouco longo e por vezes há momentos que se repetem – eu reduziria a duração de 121 minutos em 20 minutos pelo menos. Mesmo assim é prato cheio para apreciadores de filmes de horror.
Dirige o jovem cineasta Peter Thorwarth que colaborou no roteiro de um dos filmes mais impactantes da Alemanha nos anos 2000, o perturbador e atual “A onda” (2008).

Céu vermelho-sangue (Blood red sky). Alemanha/EUA, 2021, 121 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Peter Thorwarth. Distribuição: Netflix


Paternidade

Ao perder a esposa um dia após o parto, Matt (Kevin Hart) fica responsável pela filha recém-nascida. A grande tarefa de sua vida será cuidar sozinho da bebê e construir os laços de uma família.

Surpresa da Netflix, esse drama sincero e baseado em fatos reais é para todos os públicos, e chama a atenção a atuação de Kevin Hart num papel humano e sem melodramas. Isso porque ele deixa de lado o humor rasteiro com caras e bocas das comédias rasgadas que sempre fez para se entregar a um personagem mais desafiador, um homem que acaba de ficar viúvo e tem de cuidar da filha bebê. Ele promete ser um pai responsável para assumir o trabalho mais complexo de sua vida: a paternidade integral. Aos poucos ele vai superando dificuldades para cuidar sozinho da criança, a filha cresce e se ele torna um aliado vital para o desenvolvimento da garotinha.
Inspirado no livro autobiográfico escrito por Matt Logelin, tem no elenco duas grandes aparições, de Alfre Woodward e Lil Rel Howery. Atenção especial para a atuação fantástica da garotinha Melody Hurd, que faz a filha do protagonista e rouba as cenas! É um belo trabalho dessa atriz mirim.
O diretor e roteirista Paul Weitz manja de assuntos familiares, fez filmes dramáticos cativantes como “Um grande garoto” (2002 – onde recebeu indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado) e “A família Flynn” (2012) – ele é irmão de outro diretor e roteirista com quem já trabalhou, Chris Weitz. Até o humor que ele coloca no filme é leve e reflexivo, para tornar a história mais fluída. Produzido pela Columbia Pictures, foi distribuído pela Netflix.

Paternidade (Fatherhood). EUA, 2021, 109 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Paul Weitz. Distribuição: Netflix


Interrompemos a programação

Na noite do Ano Novo de 1999, um rapaz invade os estúdios de uma rede de TV na Polônia, faz refém a apresentadora e insiste em entrar ao vivo para transmitir uma mensagem ao público. Aos poucos o caso toma grandes proporções.

Filme angustiante cuja trama se assemelha a de “Jogo do dinheiro” (2016, com George Clooney e Julia Roberts): em ambos um rapaz invade um estúdio de TV ao vivo e faz as pessoas de refém (também houve outro bom filme de ação parecido, que gosto muito, “O quarto poder”, de 1997, de Costa-Gavras, com John Travolta e Dustin Hoffman). Armado e ansioso, o jovem faz exigências e prepara uma mensagem-surpresa para falar durante a programação.
Primeiro longa de ficção do jovem cineasta polonês Jakub Piatek, o filme foi indicado ao Grande Prêmio do Juri no Festival de Sundance desse ano. O ator principal, na pele do sequestrador, é interpretado por Bartosz Bielenia, de 29 anos, que deu vida a um dos protagonistas mais impressionantes dos últimos tempos, o ex-detento que se torna padre, Daniel, na cultuada fita de arte indicada ao Oscar “Corpus Christi” (2019). Ele guarda expressões fortes, tem um rosto marcante, especialmente os olhos, e é uma promessa do cinema polonês. Aqui ele repete uma performance nervosa, com vigor, que nos deixa à flor da pele.
É um filmão de uma história só, que se passa integralmente dentro dos estúdios com o personagem fazendo reféns e exigências. Há um ou outro plot twist, que vale a pena ver de perto!

Interrompemos a programação (Prime time). Polônia, 2021, 93 minutos. Ação/Suspense. Colorido. Dirigido por Jakub Piatek. Distribuição: Netflix