segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Nota do Blogueiro


"Os aparelhos de DVD estavam em alta naquele Natal, e, no início de 2002, nosso negócio de assinatura de DVDs por correio crescia rapidamente outra vez. De uma hora para outra, estávamos trabalhando muito mais - com 30% a menos de mão de obra. Para a minha supresa, aquelas oitenta pessoas faziam tudo com mais paixão do que nunca. Trabalhavam mais horas, mas o ânimo estava ótimo. Não eram apenas os funcionários que se sentiam mais felizes".

Trecho de "A regra é não ter regras: A Netflix e a cultura da reinvenção", primeiro livro do CEO da Netflix, Reed Hastings, escrito em parceria com a escritora Erin Meyer, que acaba de ser lançado no Brasil pela editora Intrínseca (2020, 352 páginas, tradução de Alexandre Raposo). Na obra, Hastings relembra o surgimento da Netflix no final dos anos 90 como um serviço online de aluguel de DVDs, até se transformar na mais poderosa plataforma de filmes em streaming do mundo. Também traça um perfil completo da empresa quanto à sua filosofia de trabalho e das políticas empresariais, de uma maneira fluida e com breves comentários de funcionários. 
É um livro autoral tanto para amantes de cinema quanto para publicitários e pessoas interessadas na área de administração de empresas.
Obrigado, pessoal da Intrinseca, pelo envio do exemplar.




Cine Especial


Getúlio

Últimos dias de Getúlio Vargas (Tony Ramos) como presidente do Brasil, em agosto de 1954, poucos antes de cometer suicídio.

A primeira biografia do presidente Getúlio Vargas para o cinema, que resultou num bom trabalho (e controverso) e com uma composição sintomática de Tony Ramos no papel principal – a lendária figura política só havia ganhado forma em documentários e seriados brasileiros.
Reconstituíram a era Vargas com recortes jornalísticos a partir de fatos precisos, com uma edição caprichada para tornar o filme ágil. Percorre momentos oportunos da vida do político gaúcho, com foco nos dias finais, em agosto de 1954, a partir do atentado a bala contra Carlos Lacerda, o jornalista de posição ao governo (conhecido como Atentado da Rua Tonelero), que terminou com a morte do major da Aeronáutica Rubens Vaz, e a consequente pressão popular para obter respostas daquele crime (três semanas depois o presidente cometeria aquele estranho suicídio, com um tiro no peito).
Ramos humanizou Vargas, criou a imagem de um governante conciliador, bem educado, atitudes diferentes do que ouvimos falar de Vargas por aí (o filme, por se fixar no fim da vida dele, numa espécie de despedida cheia de temores, foge de fatos polêmicos da primeira vez como presidente, como a ditadura do Estado Novo e a aproximação com os fascistas, porém evidencia atos que o tornaram populista naquela época, como a consolidação das leis trabalhistas). Para não ser injusto, a única menção a fatos polêmicos se dá na abertura, num tom confessional em que o presidente reconhece que foi um ditador, que torturou e fez censura à imprensa.



Um teor original foi a criação de cenas de seus sonhos, que junta fatos com ficção, que cai bem no modelo de filme proposto.
Parte das cenas foi rodada no verdadeiro Palácio do Catete, com um elenco cheio de nomes importantes, como Alexandre Borges, Claudio Tovar, Drica Moraes e Marcelo Medici. Ponto alto também está na fotografia de época de Walter Carvalho.
Produzido por Carla Camurati, ganhou prêmios como melhor ator no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2015. Um filme para ver e discutir.

Getúlio (Idem). Brasil, 2014, 100 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por João Jardim. Distribuição: Europa Filmes

sábado, 26 de setembro de 2020

Cine Especial



Silkwood: O retrato de uma coragem


Funcionária de uma indústria nuclear, Karen Silkwood (Meryl Streep) denuncia a empresa por irregularidades, tornando-se uma voz do ativismo em prol aos trabalhadores americanos nos anos 70.

Baseado em incríveis fatos verídicos, o fortíssimo filme-denúncia é a cinebiografia da ativista americana Karen Silkwood (1946-1974), que lutou por melhores condições de trabalho para funcionários de usinas radioativas, e morreu num suspeito acidente de carro. Meryl Streep, indicada ao Oscar pelo papel de Karen, dá vida, com brilhantismo, à luta dessa mulher contra a indústria nuclear no interior dos Estados Unidos, que resultou num longo embate com homens poderosos que tentaram, de diversas formas, silenciá-la. Corajosa, ela formou um sindicato ativo, mobilizou a classe e colaborou para o futuro bem estar e segurança dos trabalhadores. A empresa em questão era a fábrica de plutônio Kerr-McGee, em Oklahoma, que ainda existe, mas atua no ramo de petróleo.
Paralelamente ao ativismo, o filme relata os dramas pessoais de Karen, a exemplo o convívio de altos e baixos na mesma casa com a colega de trabalho lésbica (Cher). Os diálogos entre elas são arrebatadores - o roteiro foi escrito por duas premiadas roteiristas já falecidas, Nora Ehpron (das comédias românticas “Harry e Sally: Feitos um para o outro” e “Sintonia de amor”, pelas quais recebeu indicação ao Oscar) e Alice Arlen (de “A baía do ódio”).
Direção de Mike Nichols, um dos diretores americanos mais influentes dos anos 60, 70 e 80, de obras-primas como “Quem tem medo de Virginia Woolf?” (1966) e “A primeira noite de um homem” (1967), em seu primeiro trabalho com Meryl - depois vieram dois filmes com ela, “A difícil arte de amar” (1986) e “Lembranças de Hollywood” (1990). Nichols reuniu um elenco formidável de coadjuvantes, tem Kurt Russell, Craig T. Nelson, Diana Scarwid, Fred Ward, Ron Silver, Josef Sommer, Bruce McGill e David Strathairn.


Indicado a prêmios como cinco Oscars (atriz para Meryl, coadjuvante para Cher, diretor, roteiro e edição), deu o Globo de Ouro para Cher, e ainda teve nomeações ao Bafta.
Disponível em DVD em duas versões (a mesma cópia), uma antiga da Editora Europa e a recém-lançada pela Obras-Primas do Cinema (a diferença é que a última tem um bônus, no caso entrevista com o produtor Michael Hausman).

Silkwood – O retrato de uma coragem (Silkwood). EUA, 1983, 131 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Mike Nichols. Distribuição: Obras-Primas do Cinema

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Cine Cult



Planeta fantástico

Num futuro incerto, em um planeta distante chamado Yagam, humanos são escravizados por seres azuis gigantes. Certo dia se rebelam contra o sistema de opressão em que estão subordinados.

Está de volta ao catálogo da Obras-Primas do Cinema essa animação em DVD comentadíssima na época do lançamento, em 1973. É um filme de desenho para público adulto, uma scifi psicodélica que dialoga com o mito da criação e a formação da civilização humana. Os personagens são estranhos, com traços bizarros, cuja história foi baseada no livro “Oms en serie”, do francês Stefan Wul, publicado em 1957. Trata de um planeta distante mantido por seres gigantes azulados, os Draags, que escravizam os humanos, ou Oms, nascidos num mundo chamado Terre (“Terra”). Os Oms passam a ser domesticados como animais, portando coleira. Os Draags fazem deles bobos da corte, até que um pequeno grupo se rebela para pôr fim àquelas iniquidades.
Aliado aos preceitos do movimento surrealista e do Psicodelismo, o filme trata de uma sociedade opressora, ao mesmo tempo em que mostra os Draags como uma raça em evolução, que têm formas tecnológicas de aprender e se comunicar, criadores de aparatos promissores, elevados a outro nível espiritual, enquanto critica os humanos como seres ultrapassados, bestializados e submissos.



Demorou cinco anos para ficar pronto – o filme teve início em 1968, lançado somente em 1973 (isso porque a fita, francesa, teve como coprodutora a Tchecoslováquia, e em 1968 esse país sofreu invasão pelas forças soviéticas, que pretendiam conter a Primavera de Praga; nesse um mês de invasão, houve uma série de atrasos na execução do longa-metragem).
Ganhador de um prêmio especial em Cannes, indicado à Palma de Ouro também, o filme tem como diretor e roteirista o francês René Laloux (1929–2004), que voltaria a trabalhar com o escritor original da obra, Stefan Wul, nove anos depois, quando adaptou para o cinema o livro “Os mestres do tempo” (1982). Vale destacar os traços do desenho, uma obra-prima, de um mestre da ilustração moderna, o artista plástico, escritor e cineasta Roland Topor (é dele, por exemplo, o romance “O inquilino”, que virou o premiado e assustador filme de Roman Polanski em 1976).


O DVD de “Planeta Fantástico” foi relançado esse mês, no recente reaquecimento do mercado de mídia física no Brasil. No disco há dois curtas-metragens do diretor, em parceria com Topor, com destaque para “Os caracóis” (1966), onde ele já demonstrava simpatia com o Surrealismo (tem no disco ainda entrevistas e especiais). E se você gostou de “Planeta fantástico” com certeza irá curtir “Os anos de luz” (1987), o terceiro e último longa de René Laloux, que acaba de sair em DVD no box “Clássicos da animação”, também pela Obras-primas do Cinema – a caixa contém mais três animações de três países diferentes, “Uma grande aventura” (1978), “Quando o vento sopra” (1986) e “Perfect blue” (1997).

Planeta fantástico (La planète sauvage). França/República Tcheca, 1973, 72 minutos. Animação. Colorido. Dirigido por René Laloux. Distribuição: Obras-Primas do Cinema

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

No Netflix


O dilema das redes

Documentário sobre o impacto das redes sociais na vida das pessoas a partir do século XXI.

É o filme do momento da Netflix, um documentário que estuda as formas de manipulação das redes sociais, como o Facebook e o Instagram, e de como elas impactam a vida em sociedade. A partir de uma série de entrevistas com executivos de grandes corporações ligadas a redes sociais e sites, o documentário escancara o sistema de informação de algoritmos que interfere, de propósito, nas escolhas individuais quando estamos conectados na internet, e assim manipula o consumo e provoca a alienação/narcose.
As redes faturam bilhões de dólares por ano num negócio que já fugiu de controle e só tende a se expandir pelo mundo. Era o papel que a TV exercia antigamente, de segurar as pessoas em frente ao televisor para que consumissem determinados conteúdos. Agora são as redes sociais quem assumem essa função. O lado obscuro, e diferente da TV, é que o sistema conhece o perfil dos usuários, o que acessamos, quais temas clicamos em “curtir” no Facebook e no Instagram, o que gostamos de comprar, de ler etc. O sistema das redes sociais conhece individualmente o público, como se o vigiasse dia e noite. O tal do algoritmo junta dados e fornece uma gama de conteúdos à exaustão com o objetivo de deixar as pessoas cada vez mais conectadas – tanto é que um dos males do novo século é a ansiedade aliada ao uso descontrolado da tecnologia, causando, por exemplo, danos psicológicos. Vivemos numa sociedade controlada pelo Grande Irmão, da obra “1984”, de George Orwell, o sistema de vigia que tudo sabe sobre nós (pois é, esse era o tema futurista e amedrontador pensado 70 anos atrás por Orwell, que agora chegou pra valer).
Com foco nos perigos da internet, o filme, que estreou semana passada na Netflix, exemplifica o caos sem precedentes advindos do uso em excesso das redes sociais, como o suicídio cometido por jovens no mundo inteiro (que procuram as redes como aceitação). Também alerta sobre as fake news, que se espalham dez vezes mais que uma notícia verdadeira e que vem sendo utilizadas em campanhas políticas de quatro anos para cá, decisivas nas últimas eleições nos EUA, Rússia e Brasil; as fake News enganam pela aparência de notícia real, elas viraram um negócio milionário, mas criminoso – há uma citação ao governo Bolsonaro, e no final do doc o exemplo da negação do coronavirus via fake news pelos Estados Unidos, de gente que, além de não acreditar na Covid, espalha mentira, e consequentemente a doença avança.
Alguns entrevistados avisam: a democracia sofre um ataque global e está sob ameaça com a escalada da extrema-direita no poder em vários países, sempre apoiada pelas redes sociais. Portanto, o filme é extremamente urgente e precisa ser visto.



Recebeu indicação no Festival de Sundance esse ano, dirigido por Jeff Orlowski, que fez dois doc sobre ecossistema e natureza, o indicado ao Oscar “Chasing ice” (2012) e “Em busca dos corais” (2017). Interessante foi a técnica escolhida por Orlowski de misturar documentário com ficção: enquanto acompanhamos as entrevistas, vemos a relação de uma família com as redes sociais (um dos atores é Skyler Gisondo, de “Férias frustradas”, o remake, e “Fora de série”).

O dilema das redes (The social dilemma). EUA, 2020, 94 minutos. Documentário/Drama. Colorido. Dirigido por Jeff Orlowski. Distribuição: Netflix


sábado, 19 de setembro de 2020

Cine Cult


Balada para satã

Myles Clarkson (Alan Alda) é um pianista clássico em busca de reconhecimento. Recém-casado com Paula (Jacqueline Bisset), vai aprender piano com o lendário Duncan Ely (Curd Jürgens), que está gravemente doente. No primeiro dia juntos, Myles descobre que Duncan é adorador do diabo. Poucas semanas depois, o velho morre, mas na hora da morte, a alma dele é transferida para o jovem Myles. Ele passa a ser reconhecido, com uma mão brilhante para tocar piano. Paula, sem saber do ocorrido, estranha o comportamento do marido, e uma série de fatos perturbadores causarão surpresas ao casal.

Impulsionado pelo sucesso de “O bebê de Rosemary” (1968), realizado três anos antes, “Balada para satã” segue a mesma abordagem, de um homem que faz um pacto com o diabo para obter sucesso profissional. É uma referência a Dr. Fausto e Mefisto (o filme tem como título original “The Mephisto waltz”, ou “A valsa de Mefisto”), uma lenda popular alemã sobre um médico e alquimista que vende a alma para o diabo, chamado Mefistófeles – a história ganharia vida no poema dramático “Fausto”, de Goethe, uma obra-prima universal.
Pois bem, o filme norte-americano mantém traços da lenda, com contexto atual (década de 70), para discutir a decadência do espírito humano. É terror alegórico da melhor qualidade, mal interpretado na época, com cenas memoráveis (como a da transferência da alma pelas máscaras de gesso). Tem trilha sonora do genial Jerry Goldsmith e uma técnica inovadora de jogo de lentes que distorcem a imagem, para confundir o público do que é realidade e imaginação, além da fotografia com cores fortes, estranhas. A trama diabólica é bem conduzida, com um desfecho surpresa.


No auge da beleza, a atriz Jacqueline Bisset contracena com Alan Alda novinho, antes do sucesso de “M.A.S.H.” na TV, e se junta a eles o veterano ator alemão Curd Jürgens, num papel perturbador.
Foi o último trabalho do roteirista Ben Maddow, criador de fitas de faroestes e noir nos anos 40 e 50, que adaptou o romance de Fred Mustard Stewart para as telas. Quem dirige é Paul Wendkos, que teve longa carreira como diretor de séries, e fez aqui seu melhor trabalho no cinema.
A versão disponível em DVD no Brasil, pela Fox, é a editada, de 108 minutos, enquanto nos Estados Unidos existe a integral, de 115 min. Altamente recomendado para quem curte filmes sobre rituais satânicos, ocultismo e bruxaria.

Balada para satã (The Mephisto Waltz). EUA, 1971, 108 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Paul Wendkos. Distribuição: 20th Century Fox

sábado, 12 de setembro de 2020

Cine Clássico



Crepúsculo de uma raça

Capitão da Cavalaria Americana, Thomas Archer (Richard Widmark) assume a missão de conter a fuga dos Cheyennes de uma reserva indígena. Ao conhecer de perto a causa dos índios, o oficial decide ajudar o grupo entrando em conflito com o Exército Americano.

Penúltimo trabalho do mestre do western John Ford, que recebeu indicação ao Oscar de melhor fotografia, um trabalho plástico impressionante de William H. Clothier, outro gênio do cinema faroeste, o mesmo diretor de fotografia de “O álamo” (1960) e “O homem que matou o facínora” (1962). Rodado em Super Panavision 70, tecnologia de ponta da época, o filme é uma saga de brancos contra índios, a partir de uma história verídica, o chamado “Êxodo do Norte Cheyenne”, quando os índios Cheyenne do Norte tentaram voltar à antiga reserva andando mais de dois mil quilômetros, mas entraram em conflito com o Exército Americano – houve uma luta sanguinária, com centenas de mortes, que durou sete meses, entre 1878 e 1879. Essa história contada no filme foi baseada nos estudos da historiadora Mari Sandoz, especialista do Velho Oeste, com um longo roteiro para cinema de James R. Webb, ganhador do Oscar por “A conquista do oeste” (1962), filme anterior de John Ford realizado com outros três cineastas (como Henry Hathaway).


John Ford trata com humanismo e partido a questão indígena, mostrando o povo Cheyenne como bravos guerreiros em defesa de suas terras (eles foram expulsos pelo povo branco, migraram do Leste para o Oeste rumo às Grandes Planícies, onde ficaram instalados, e sempre lutaram para reconquistar o território original).
Mistura personagens fictícios com alguns históricos do Velho Oeste, como os verdadeiros xerife Wyatt Earp e seu parceiro de tiro Doc Holliday (interpretados respectivamente por James Stewart e Arthur Kennedy), o general Carl Schurz (Edward G. Robinson) e dois chefes dos Cheyennes, Little Wolf (Ricardo Montalban) e Dull Knife/Morning Star (Gilbert Roland – indicado ao Globo de Ouro aqui de melhor coadjuvante). Já deu para ter noção do elenco, que é magistral: tem Richard Widmark, Sal Mineo, Carroll Baker, Karl Malden, Dolores Del Rio e John Carradine, e uma trilha sonora coesa de Alex North.
Disponível numa cópia lindíssima da Classicline, em DVD.

Crepúsculo de uma raça (Cheyenne autumn). EUA, 1964, 157 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por John Ford. Distribuição: Classicline


Cine Lançamento


Sessão dupla de terrir no Netflix

A babá: Rainha da morte

Cole (Judah Lewis) sobreviveu a uma chacina liderada por sua babá durante um culto satânico em sua casa. Dois anos se passaram da tragédia. Ele agora está no colegial, atormentado por lembranças daquele fatídico dia. Para descontrair, viaja com novos amigos da escola para um lugar ermo, entre rios e montanhas. Numa noite de jogos, o grupo da babá Bee retorna das trevas com um pacto demoníaco firmado com todos que estão presentes na casa, exceto Cole.

Terrir sangrento ainda mais insano e exagerado que o anterior, “A babá” (2017), essa segunda parte produzida pelo Netflix recorre a cenas nonsense com mortes escabrosas para fã de terror nenhum botar defeito. Há sequências semelhantes às do primeiro, algumas piadas se repetem, o gore volta com tudo, com direito a cabeças cortadas, vísceras, jatos de sangue e violência em alta voltagem.
Retornam praticamente todos os personagens (e os atores originais) do filme 1, incluindo Judah Lewis e uma participaçãozinha de Samara Weaving, na pele da sádica babá Bee. A ambientação de agora é bem mais sinistra, uma cabana entre riachos, onde o terror correrá solto. Apesar do roteiro reciclado, diverte, dando chance ao público de risos nervosos.
Dirigido novamente por McG (de “As Panteras” e “O exterminador do futuro: Salvação”), com roteiro dele e de outros roteiristas iniciantes, baseado no argumento de Brian Duffield. Entrou ontem no Netflix e já é um sucesso entre o público jovem!

A babá: Rainha da morte (The babysitter: Killer queen). EUA, 2020, 102 minutos. Terror/Comédia. Colorido. Dirigido por McG. Distribuição: Netflix


Assista também à primeira parte de “A babá” (2017), no Netflix



A babá

Bee (Samara Weaving) é uma babá que vai fazer companhia para o adolescente Cole (Judah Lewis) enquanto os pais dele estão fora. Ela pertence a um grupo de culto satânico. Leva alguns conhecidos para a casa de Cole, e enquanto o garoto dorme, inicia rituais de sacrifício humano. Será Cole a próxima vítima do grupo?

Sexy e matador, o terrir (terror com humor) mais sangrento do Netflix conta com cenas grotescas de mortes, que viram um banho de sangue na tela. De estilo moderno e descontraído, o entretenimento lembra produções B dos anos 80 e é um prato cheio aos fãs de filmes rápidos. Lembre-se que é uma brincadeira absurda, portanto não leve a sério (e tenha estômago forte!)
No elenco, destaque para a australiana Samara Weaving, sobrinha do ator Hugo Weaving, e do menino Judah Lewis.
O roteiro sangrento é de Brian Duffield, de “Divergente: Insurgente” (2015) e do recém-lançado “Ameaça profunda” (2020). Quem dá a nota na direção é o norte-americano McG (nome artístico de Joseph McGinty Nichol), que começou a carreira na indústria da música nos anos 90, dirigindo clipes, e que estreou no cinema com “As Panteras” (2000) – fez ainda a continuação, “As Panteras: Detonando” (2003), “Somos Marshall” (2006) e “O exterminador do futuro: Salvação” (2009).


Divertido e macabro, esse é um filme para público apropriado. Acabou de ganhar continuação essa semana, “A babá: Rainha da morte” (2020), reunindo mesmo elenco, produtores e diretor.

A babá (The babysitter). EUA, 2017, 85 minutos. Terror/Comédia. Colorido. Dirigido por McG. Distribuição: Netflix

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Cine Cult


Estação Bielorrússia

No verão de 1945, no fim da Segunda Guerra, um trem para na Estação Bielorrússia e conduz um grupo de soldados russos de volta ao lar. Lá estão cinco combatentes que defenderam o país no front de batalha e ficaram muito próximos. 25 anos depois, quatro deles reencontram-se para o funeral do quinto amigo. Durante um dia inteiro juntos, vão relembrar fatos obscuros da guerra, bem como momentos de amizade e solidariedade.

Mais um filme cult raríssimo que a CPC-Umes lança no Brasil em DVD, na série “Cinema soviético”. Ele acaba de chegar numa cópia restaurada pela Mosfilm, com excelente qualidade de imagem e som. É um drama todo dialogado sobre o reencontro de amigos que lutaram juntos na guerra defendendo a União Soviética, e agora, com certa idade, estão de volta num momento triste, que é o funeral de um deles. São tomados pela melancolia, passam a rememorar fatos que viveram na guerra, não só de tragédias, mas de ternura, irmandade e humanidade. Passeiam por bares, reveem outras pessoas que marcaram suas vidas e visitam a velha Estação Bielorrússia, onde um trem, 25 anos antes, conduziu-os de volta ao lar quando a guerra terminou (o filme se passa durante um dia inteiro na vida dos amigos, do amanhecer ao anoitecer).
Tem teor memorialista, dentro do gênero drama, com algumas cenas sutis de comédia para dialogar com os laços de fraternidade criados num contexto de tensão, na maior guerra de todas, e de como a guerra ainda afeta a existência desses amigos ex-combatentes.



Em uma cena curiosa, na metade do filme, quando os quatro amigos bebem em um restaurante, ouve-se no fundo a música “Brasileirinho”, o famoso choro de Waldir Azevedo.
Dirigido por Andrey Smirnov, que era ator e participou de dezenas de filmes entre os anos 60 e 2000.

Estação Bielorrússia (Belorusskiy vokzal). URSS, 1971, 95 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Andrey Smirnov. Distribuição: CPC-Umes Filmes

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Nota do Blogueiro


Cine Debate abre hoje nova programação com filmes e discussão online

O formato remoto virou palavra de ordem dos dias atuais, atingindo o trabalho, o ensino, os encontros entre amigos, tudo via internet. A arte também entrou nesse processo de adaptação com as ferramentas online. Pensando nisso, o Imes Catanduva inicia esse mês as novas sessões do Cine Debate 2020, que serão realizadas pela internet uma vez por mês, até dezembro.
Os filmes anteriormente programados no início do ano (e divulgados tanto no blog quanto no site, na fanpage e na imprensa de Catanduva) não serão mais contemplados, e no lugar deles entram novas obras cinematográficas que podem ser assistidas online na plataforma Sesc Digital, na seção “Cinema em Casa”. O acesso é gratuito, não é necessário cadastro, e o link direto para os filmes é https://sesc.digital/colecao/42876/cinema-emcasacomsesc
A plataforma Sesc Digital foi lançada em abril de 2020, e de lá para cá mais de 40 longas estão disponíveis gratuitamente ao público. Um deles é “Kapò: Uma história do Holocausto” (1960), que será a sessão de setembro do Cine Debate 2020. A coprodução Itália e França, indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, conta a trajetória de uma garota judia presa durante a Segunda Guerra em um campo de concentração, e sua tentativa de escapar de lá ao lado de outras mulheres. O filme ficará disponível online ao público até o dia 30/07/2021, e o debate será hoje, terça-feira, às 19h, no canal do Sesc Catanduva no Youtube, https://www.youtube.com/user/sesccatanduva.
O idealizador do Cine Debate, o jornalista e crítico de cinema Felipe Brida, professor do Senac, do Imes e da Fatec Catanduva, fará a discussão e mediação ao lado do programador do Sesc Catanduva, Alexandre Vasques. Participem!

Próximo filme

Em outubro, a sessão online do Cine Debate 2020 será do filme “Os palhaços” (1970), ganhador de prêmio especial no Festival de Veneza, e um dos grandes filmes do mestre italiano Federico Fellini. Nesse mockumentário (falso documentário), o cineasta fala sobre uma de suas obsessões, o mundo do circo e sua relação direta com os palhaços. Será uma sessão especial, em homenagem ao centenário de nascimento do diretor, Federico Fellini (1920-1993). O filme fica disponível ao público online até dia 02/07/2021, e o debate, mediado por Felipe Brida e Alexandre Vasques, será no dia 13/10 (terça-feira), às 19h, no canal do Sesc Catanduva no Youtube.

Cine Debate

O Cine Debate é um projeto de extensão do curso de Psicologia do Imes Catanduva que existe desde 2012. Conta com duas importantes parcerias, o Sesc e o Senac Catanduva, trazendo mensalmente exibições gratuitas de filmes cult para toda a população. Antes da pandemia, as sessões eram presenciais, uma vez por mês aos sábados à tarde, no auditório do Senac Catanduva. A previsão é de que as sessões retornem presencialmente em 2021, caso a pandemia tenha cessado.



domingo, 6 de setembro de 2020

Cine Especial



Get on up: A história de James Brown

Vida do cantor James Brown (1933-2006), o astro da Soul Music, da infância pobre marcada por abusos ao estrondoso estrelato a partir da década de 50.

A morte do ator Chadwick Boseman, aos 43 anos, ocorrida no final de semana passado, estampou os principais jornais mundiais, deixando desamparados seus milhares de fãs. Boseman partiu cedo, vítima de um câncer agressivo que tratava há quatro anos. O astro do cinema se foi, mas sua obra permanece eterna. Muito lembrado pelo papel do super-herói T’Challa, o Pantera Negra, que apareceu em quatro filmes do universo Marvel – “Capitão América: Guerra civil” (2016), “Pantera Negra” (2018), “Vingadores: Guerra infinita” (2018) e “Vingadores: Ultimato” (2019), Boseman protagonizou três biografias corretas de homens que quebraram as barreiras do preconceito e contribuíram para revolucionar o mundo: a do jogador de baseball Jackie Robinson, o primeiro afro-americano da Major League Baseball dos tempos modernos, e um ídolo indubitável, em “42: A história de uma lenda” (2013); a do primeiro juiz negro da Suprema Corte Americana, Thurgood Marshall, no drama indicado ao Oscar “Marshall: Igualdade e justiça” (2017), e a do famoso cantor James Brown, que transitou entre o soul, funk e blues, nesse “Get on up” (2014). Na curta carreira de 15 anos dedicados ao cinema, Boseman deixou um legado para os atores em formação.
“Get on up” é uma crônica biográfica honesta do cantor e compositor James Brown (1933-2006), da infância num lar pobre cheio de violência doméstica à ascensão no mundo da música. Quando jovem comprava brigas frequentes, era arruaceiro, ao mesmo tempo enfrentava preconceito numa época em que o soul se consolidava e projetava a cara dos músicos negros dentro e fora dos Estados Unidos. A voz inconfundível e os movimentos enérgicos de corpo fizeram dele um artista único. Ganhou muito dinheiro, mas também se perdeu em drogas, além dos excessos que o levava a conflitos com a polícia – foi preso por mais de 10 vezes. Os pontos altos e baixos da vida e da carreira de Brown estampam esse drama musical bem realizado, que demorou 14 anos para sair do papel e virar filme. O roteiro traz passado e presente em confluência, parece uma viagem de idas e vindas na mente inquieta do cantor, escrito por três roteiristas (Jez Butterworth, John-Henry Butterworth e Steven Baigelman), com pitadas elegantes de um diretor branco que sabe discutir a questão negra nos Estados Unidos com sapiência, sem maneirismos, Tate Taylor, o mesmo da obra-prima “Histórias Cruzadas” (2011).



Chadwick Boseman constrói um papel sólido, com um visual diferenciado (destaque para os cabelos e a maquiagem que o aproxima do real J. Brown), atuando ao lado de duas grandes mulheres do cinema negro, Octavia Spencer e Viola Davis. Vale mencionar que Boseman descartou dublês tanto para as cenas de dança quanto para cantar; ele teve aulas de dança e canto por dois meses para se “transformar” no inimitável padrinho da Soul Music.

Get on up: A história de James Brown (Get on up). EUA/Reino Unido, 2014, 138 minutos. Drama. Colorido. Distribuição: Universal Pictures

sábado, 5 de setembro de 2020

Cine Especial


A última casa

Pais de uma adolescente sequestrada elaboram um terrível plano de vingança quando o criminoso que raptou a garota tenta se refugiar na casa da família.

Tenso, brutal e sanguinário, “A última casa” é o remake do primeiro trabalho escrito e dirigido por Wes Craven, o visionário criador de “A hora do pesadelo”, que se chamou no Brasil “Aniversário macabro” (1972), com atmosfera mais densa e muitas cenas chocantes de assassinatos. Craven também produziu, juntamente com Sean S. Cunningham, diretor de “Sexta-feira 13” (1980), essa fita de terror muito comentada no lançamento, em 2009 (uma curiosidade, tanto “Aniversário macabro” quanto “A última casa” têm uma inspiração no cult de Ingmar Bergman ganhador do Oscar de filme estrangeiro, “A fonte das donzelas”, de 1960).
O roteiro continua perturbador, intriga, podendo chocar os que se impressionam com violência, que é o ingrediente-chave do cineasta Dennis Iliadis (ele é de descendência grega, recentemente lançou um novo trabalho de terror, “Delírios do passado”, em 2018, com Topher Grace e Patricia Clarkson). Elenco interessante composto por Garret Dillahunt, Monica Potter, Tony Goldwyn e Aaron Paul.



Disponível em DVD pela Universal em edição estendida, com quatro minutos a mais daquela exibida no cinema – ou seja, com cenas ainda mais impactantes.

A última casa (The last house on the left). EUA/Reino Unido, 2009, 113 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Dennis Iliadis. Distribuição: Universal Pictures