segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Cine Cult


A TV dos mortos-vivos

Um televisor é entregue pelos correios a uma residência. Ela está numa caixa sem rótulos e sem origem conhecida. Ao ser ligada na tomada pelo morador, Henry Jordan (Michael St. Michaels), começa a exibir um filme de mortos-vivos. A TV tem um terrível poder sobrenatural, que abre um portal, e de dentro dela os zumbis saem para atacar os vivos, espalhando o terror numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos.

Divertido e grotesco, o telefilme fez sucesso na TV aberta. Feito em 1987, numa era pré-multiverso, já antecipava o assunto que nos últimos anos está em voga. A TV do título é, na verdade, um portal para o universo zumbi, e do aparelho saem mortos-vivos sedentos por carne humana. Uma cidadezinha no interior dos EUA entra em colapso quando os mortos, em peso, buscam os vivos. Eles invadem casas, matam os moradores e espalham o medo.
É uma pérola altamente inusitada, com momentos de humor e muitas perseguições e terror, com uma maquiagem condizente para a época, que foi uma década de bons filmes de zumbi. O zumbi principal, o primeiro a sair de dentro da TV, dá calafrios de tão horripilante. E tudo dá errado aos personagens por terem aceitado uma encomenda desconhecida.




Independente, o telefilme custou somente U$ 80 mil, uma ninharia... ou seja, dá para fazer filmes passatempo e criativos com pouca grana. Único filme dirigido por Robert Scott, que depois foi assistente de direção de filmes como ‘Drácula, morto mas feliz’ (1995).
Saiu em DVD no Brasil pela distribuidora Obras-primas do Cinema no box ‘Sessão de terror anos 80 – Vol. 7’, com outros três filmes, ‘O soro do mal’ (1988), ‘A abominável criatura’ (1988) e ‘Depois da meia-noite’ (1989). Vem na caixa 40 minutos de extras, como entrevistas, galeria de imagens, making of e outtakes.


A TV dos mortos-vivos (The video dead). EUA, 1987, 90 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Robert Scott. Distribuição: Obras-primas do Cinema

Resenha Especial


A queda

Apreciadoras de montanhismo, Becky (Grace Caroline Currey) e Hunter (Virginia Gardner) são duas grandes amigas que fazem tudo juntas. Becky perdeu o namorado numa queda em uma escalada radical e está em luto. Hunter então, para motivá-la, a convida para escalar, até o topo, uma torre de rádio desativada no deserto, que tem 600 metros de altura. Quando chegam ao ápice, um incidente as deixa presas lá no alto.

Pense num filme que nos deixa aflito e com o coração palpitado sem parar. ‘A queda’ é ele, uma fita de ação com suspense envolvendo esporte radical, com apenas duas personagens em cena. Elas são duas amigas que pretendem curtir um dia diferente ao escalar uma torre de rádio abandonada no deserto. As placas avisam que o local é proibido, mas elas não dão a mínima. A escala dá medo, porém elas atingem o topo – 600 metros do solo! Até que as escadas se quebram, as amigas quase despencam de lá, e ficam presas numa pequena área desprotegida. O que era para ser divertido se transforma num pesadelo.
O filme segue uma história de sobrevivência em local de risco, já que ambas estão sob o calor intenso do sol, cansadas e sem comida ou bebida, e urubus ferozes a atacam. E não tem ninguém por perto, já que o deserto é distante dos vilarejos. Scott Mann melhorou muito sua direção; ele que veio de fitas policiais pouco notórias como ‘O sequestro do ônibus 657’ (2015), aqui fez um entretenimento ágil, aflitivo, que prende o público na cadeira até o desfecho. O roteiro é dele e a produção também. Tem um plot twist impossível de descobrir, quase no fim – que torna o filme triste, melancólico. Confesso que em vários momentos fechei os olhos, pois há cenas que dão vertigem e disparam nosso coração, ainda mais para quem tem medo de altura.




As atrizes estão bem – o foco é nelas, e há um ou outro personagem que aparece rápido, como Jeffrey Dean Morgan, como o pai de Becky. Tem cenas ousadas com drones, e uma parte técnica impressionante. O filme foi todo rodado no deserto Mojave, na Califórnia. Ah, e a torre é inspirada numa verdadeira, a Sacramento Joint Venture Tower ou torre de rádio KXTV/KOVR, localizada em Walnut Grove, na Califórnia - construída em 2000, mede 625 metros e é uma das mais altas do mundo.
O filme não saiu em mídia física no Brasil, foi distribuído nos cinemas pela Paris Filmes e pode ser visto em streamings como Prime Video e AppleTV.

A queda (Fall). EUA/Reino Unido, 2022, 107 minutos. Ação/Suspense. Colorido. Dirigido por Scott Mann. Distribuição: Paris Filmes

domingo, 27 de outubro de 2024

Estreias da semana - nos cinema


Segredos (2024)

 

Escrito, dirigido, produzido e protagonizado por Emiliano Ruschel, o thriller ‘Segredos’ mistura drama, romance e suspense, com um final trágico. Tem aspectos de melodrama com novelão mexicano e traz no seio da trama um casal aparentemente feliz, mas que se autodestrói com segredos terríveis que ficaram adormecidos. Aos poucos eles são revelados para o público. Infelizmente o filme não tem emoção, falta capricho no desenvolvimento da história e é muito longo, com seus 125 minutos que rodam, rodam, e não trazem novidades ou um clímax potente. Também acho presunçoso um filme com 100% do elenco e produção brasileira com idioma inteiramente em inglês – provavelmente fizeram isso para ter entrada nos cinemas norte-americanos. No elenco, Emiliano Ruschel e Danni Suzuki interpretam o casal, e tem participações de Carlos Takeshi e Monique Lafond. Exibido no Monthly Film Festival, na Sérvia, e no Marbella Internatinal Film Festival, na Espanha, a produção é da Ruschel Studios, em parceria com a Great Movies, com distribuição nas salas de cinema do Brasil pela A2 Filmes.

 


 

O voo do anjo (2024)

 

O veterano Othon Bastos, um dos meus atores favoritos, que completou 91 anos, é a atração desse filme motivacional que conta ainda com o bom desempenho do ator Emílio Orciollo Netto. Eles interpretam respectivamente dois professores que se encontram de maneira inesperada; o primeiro é aposentado e vive com o filho médico num apartamento de luxo, enquanto o segundo abandonou a carreira após uma tragédia familiar e hoje faz entregas de comida. O destino unirá os dois para uma extraordinária amizade. Rodado em locações de Goiânia, com cenas que exibem a cidade e seus pontos turísticos, o filme independente traz reflexões sobre os baques da vida, a velhice, o suicídio, o destino e o poder transformador da amizade. Simples na forma, sem muita estratégia técnica, foi produzido pela Fata Morgana-Olhar Cinematográfico de Goiânia, escrito e dirigido por Alberto Araújo, com produção executiva de Debora Torres, e tem distribuição da California Filmes. Araújo havia trabalhado com Othon Bastos em ‘Vazio coração’ (2013), ao lado de Murilo Rosa, um filme que gosto muito e assisti na época no Anápolis Festival de Cinema.

 


 

Corisco e Dadá (1996)

 

Retorna aos cinemas brasileiros, agora em cópia restaurada em 4K, o maior filme do diretor cearense Rosemberg Cariry, ‘Corisco e Dadá’ (1996), uma ode trágica e violenta aos últimos dias do cangaceiro Corisco (1907-1940), o ‘Diabo Loiro’, integrante do bando de Lampião. O foco é a relação com a parceira Dadá (1915-1994), sequestrada por ele quando tinha 12 anos e levada ao cangaço - Dadá faleceu dois anos antes de o filme ser lançado. O filme, um drama com ação e romance, mostra um amor improvável no calor do alto sertão do Sergipe, onde lá Corisco instalou sua base no cangaço para vingar a morte de Lampião. Chico Díaz e Dira Paes dão vida aos personagens-título, entregando interpretações perfeitas que entrariam para a História do cinema – o filme saiu no ano-chave da Retomada, quando o cinema brasileiro se restabeleceria após anos cruéis de desincentivo à cultura. Chico Díaz, nascido no México, já era um ator consagrado do cinema e da TV, e Dira Paes, com 28 anos, ainda era um rosto desconhecido e aqui firmaria a carreira. Rodado em locações, em cidades do sertão do Ceará e de Pernambuco, foi exibido na época nos Festivais de Toronto e de Havana e ganhou o Kikito de Ouro de melhor ator para Chico Díaz no Festival de Gramado e o Troféu Candango de atriz para Dira Paes no Festival de Brasília. A restauração foi realizada com apoio da Cinemateca do MAM - RJ, Arquivo Nacional, Link Digital, Iluminura Filmes, Sereia Filmes e Mapa Filmes, a partir de negativos de imagem e som originais. Uma obra poética grandiosa, que veio num momento delicado do cinema brasileiro e agora pode ser visto/revisto na tela grande, com toda a beleza e provocação que o filme proporciona. Em exibição nas principais salas de cinema de São Paulo e Rio de Janeiro – as capitais Aracaju, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Salvador e Vitória tiveram exibição em semanas anteriores. Distribuição pela Sereia Filmes.

 


 

O aprendiz (2024)

 

O diretor e roteirista iraniano Ali Abbasi já havia nos surpreendido com ‘Border’ (2018) e ‘Holy spider’ (2022), dois trabalhos ímpares de suspense com drama psicológico, o primeiro sobre um homem deformado que desenvolve o dom de sentir o cheiro do medo, e o segundo, sobre a captura a um cruel serial killer de prostitutas. Agora, em ‘O Aprendiz’, ele arrebenta a porta do mundo dos negócios de Nova York dos anos 70 trazendo para a tela ninguém menos que Donald Trump. É ele o protagonista desse filme sagazmente crítico que aborda sua ascensão no ramo imobiliário. Sebastian Stan está feroz com o jovem Trump disposto a tudo para obter fama e sucesso. Ele será ‘o aprendiz’ do advogado Roy Cohn, um homem temido, inescrupuloso e cheio de manias – papel impressionante de Jeremy Strong, um provável candidato a Oscar de ator coadjuvante. O drama aborda a Era Trump, com todas as suas lateralidades, como os anos da Aids, o boom imobiliário de Nova York, o neoliberalismo durante e pós-Reagan. E o filme não é tímido em mostrar os embates de Donald com o pai e a crise no casamento com Ivana (papel rápido, mas de destaque de Maria Bakalova) – tem até uma cena forte em que ele estupra a esposa. Curiosa é a maneira de filmar de Abbasi – ele insere cenas aéreas e das ruas de uma NY real, com apelo de documentário, fazendo com que algo tenha envelhecido nas imagens, resultando numa fotografia ambígua e original. Indicado à Palma de Ouro em Cannes. Um dos melhores filmes do Festival do Rio. Estreou nos cinemas brasileiros no dia 17/10, pela Diamond Filmes.

 


Especial de cinema


Os melhores filmes da Mostra de SP – Parte 10

 

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até a próxima quarta-feira, dia 30/10. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está no site oficial, em https://48.mostra.org. Confira abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.

 



 

Through the graves the wind is blowing

 

Documentário certeiro que analisa o crescimento dos grupos de extermínio aliados ao neonazismo na Croácia atual. Quem narra e conduz o filme de forma corajosa, mostrando rosto e nome, é o investigador de polícia Ivan Perić, que busca pistas de crimes chocantes ainda não resolvidos. Ele é uma voz solitária, desprezado pelos colegas e pela corporação, e por bater de frente contra o sistema, é alvo de ameaças nas redes sociais. Enquanto o detetive percorre as ruas, vai mostrando as suásticas pichadas pelos muros e postes na cidade turística de Split, uma das maiores da Croácia, região balcã da antiga Iugoslávia. Um filme que discute a ascensão do fascismo contemporâneo não só lá, mas em várias partes do mundo. Em preto-e-branco – a única cor que aparece em uma ou outra cena é um vermelho escorrido nas paredes, simbolizando o sangue e a violência dos discursos neofascistas que tomaram conta da sociedade croata. Um dos melhores docs da Mostra desse ano, foi exibido na seção ‘Encontros’ do Festival de Berlim. Sessões na Mostra no dia 28/10, porém pode ser assistido até o dia 30/10 na plataforma Sesc Digital, com limite de 600 visualizações.

 



 

Memórias de um caracol

 

Uma animação para adultos das melhores já feitas, triste e emocionante, que deve entrar na lista dos indicados na categoria ao Oscar de 2025. Do mesmo diretor de ‘Mary e Max – Uma amizade diferente’ (2009), o australiano Adam Elliot. Seu novo filme remete aos personagens desiludidos de ‘Mary e Max’; agora conhecemos uma garota solitária que sofre bullying devido ao lábio leporino. Coleciona caracóis de decoração e ama livros. Ela conta sobre sua vida, marcada por perdas, a caracóis reais que andam pela sua horta – quando criança viu a mãe morrer, em seguida o pai doente também falece, e depois é separada do único irmão, gêmeo, levados para lares adotivos diferentes. Tomada por ansiedade e tristeza, não consegue contato com ninguém, até uma velhinha bem humorada surgir em sua vida; já o irmão está a milhares de quilômetros, do outro lado da Austrália, criado em uma família maníaca, extremamente devotos de uma religião que inventaram. Os dois, por meio de cartas, tentam se reencontrar. Com boas doses de humor, a animação é um autêntico e sofrido drama sobre tragédias familiares, esperança e reencontros, produzido em um incrível stop-motion. Saí emocionadíssimo da sessão, desse que é um dos grandes títulos da Mostra de 2024. O filme venceu o prêmio de melhor animação no festival mais importante da categoria, o Annecy. Sessão na Mostra de SP ainda no dia 27/10.

 



 

Dying – A última sinfonia

 

Um dos filmes que mais me marcaram na edição desse ano da Mostra, um drama familiar rodado na Alemanha, com humor negro intenso, que explora a falta de comunicação de uma família em deterioração. Eles são os Lunies. O patriarca sofre de Parkinson em estágio avançado, prestes a ir a uma casa de repouso; a matriarca não revela a ninguém que está com um câncer agressivo; o filho é um maestro em ascensão que reside em outra cidade e se comunica com os pais por telefone, e está em um processo delicado de trabalho e com uma crise em casa envolvendo a ex-namorada grávida de outro; e a filha alcoólatra, irmã distante do maestro, que trabalha como assistente de dentista e vive de porre pelos bares. A morte está chegando na casa dos Lunies, e aquela família marca um reencontro que será decisivo. O filme, de 3h de duração, é dividido por capítulos que apresentam cada um dos personagens, e a montagem caprichada liga com exatidão uma passagem a outra. Não é uma fita fácil, é um drama pesado, às vezes descontruído pelo humor cáustico e cruel, em que damos risos nervosos e ficamos com algo entalado na garganta. Todos do elenco, sem exceção, entregam atuações magistrais, com destaque para Lars Eidinger, Corinna Harfouch e Lilith Stangenberg, respectivamente nos papéis do filho, mãe e filha. No meio haverá subtramas explosivas, como a crise do nascimento do bebê da ex-namorada do maestro, o novo relacionamento da filha alcoólatra e a relação do maestro com o compositor suicida. Um filmaço que surpreende e nos chacoalha, vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim. Sessões na Mostra de SP nos dias 27, 29 e 30/10 – o filme estreia nos cinemas brasileiros em 05/12, distribuído pela Imovision.

 



 

Não nos moverão

 

Está na Competição Novos Diretores esse drama mexicano todo feito em um bonito preto-e-branco, sobre uma advogada disposta a tudo para se vingar da morte do irmão, ocorrido 50 anos antes, durante o massacre de Tlatelolco, em que centenas de estudantes foram mortos em protestos contra os Jogos Olímpicos no país. Ela descobre informações sobre os militares por trás do crime e segue para fazer justiça com as próprias mãos, contratando um rapaz para auxiliá-la na difícil empreitada. Exibido e premiado nos Festivais de Guadalajara e Toulouse, é um filme de cunho político até no título, um grito de vingança e esperança contra os algozes dos nossos tempos. São obras como essa que engrandecem ainda mais a Mostra de Cinema de São Paulo. Sessões encerradas na Mostra, porém o filme pode ser assistido até o dia 30/10 gratuitamente na plataforma Sesc Digital, com limite de 600 visualizações.

 



 

Dias (2019)

 

Exibido na 44ª edição da Mostra, em 2020, o drama ‘Dias’ (2019), de Tsai Ming-liang, retorna esse ano ao festival na seção ‘Apresentação especial’, apenas online, disponível nas plataformas Spcine Play e Sesc Digital, gratuitamente, com limite de 1500 visualizações. Quem não assistiu, vale ver esse bom trabalho do cineasta malásio, um exercício de linguagem e narrativa que acompanha os dias de um homem solitário em seu apartamento em Bangcoc, na Tailândia. Acometido por uma estranha dor que se espalha pelo corpo, procura atendimento de massagens para aliviar a tensão. Vemos o aquele homem preparando diariamente os pratos típicos da aldeia onde cresceu. Também o vemos se encontrar com um jovem solitário igual ele, e ambos iniciam um relacionamento. Há apenas um diálogo no filme, bem curto, na cena da massagem, e toda a obra é de um silêncio sepulcral. É o ponto de vista de um personagem solitário na cidade grande, ouvindo o barulho da chuva, fazendo seu almoço, tomando banho e saindo pelas ruas movimentadas. E flagramos tudo isso com ele. Filme de arte para público bem específico, protagonizado por Kang-sheng Lee, rosto memorável do cinema de Taiwan, que já trabalhou outras vezes com o diretor Ming-liang, como em ‘Que horas são aí’ (2001) e ‘O sabor da melancia’ (2005). Coprodução Taiwan/França, escrita, dirigida e produzida por Ming-liang, ganhou prêmio especial no Festival de Berlim (menção especial no Teddy Bear), indicado lá ao Urso de Ouro, e exibido ainda nos festivais San Sebastián, Taipei e Chicago.

A Mostra de SP já exibiu, ao longo de suas edições, 10 filmes do diretor, e nesse ano há um lançamento dele na programação, o documentário ‘Permanência em lugar nenhum’, que passou nos festivais de Berlim e Hong Kong (ainda há uma sessão do doc, no dia 28/10). 

 


Rocinante

 

Exibido nos festivais de Tóquio e Istambul, o drama turco de título simbólico e ambíguo marca a estreia na direção de Baran Günduzalp, que também escreveu o roteiro. Uma fita pessoal que se passa na Istambul contemporânea, no meio de ruas agitadas e gente andando sem parar pelas calçadas. Um casal faz de tudo para sustentar o filho mudo, de seis anos. O marido está desempregado, e a esposa trabalha como telefonista, até que resolvem investir numa área em pleno crescimento no país: transportar passageiros por meio de mototáxi. Compram uma moto e a nomeiam de Rocinante, em homenagem ao cavalo de Dom Quixote, enfrentando uma série de obstáculos pelos próximos dias. Uma análise profunda sobre as relações de trabalho na Turquia e as transformações do país – sem contar na discussão apropriada que o filme faz sobre crises familiares. Sessões na Mostra nos dias 28 e 30/10, porém pode ser assistido até o dia 30/10 na plataforma Sesc Digital, com limite de 600 visualizações. 



sábado, 26 de outubro de 2024

Especial de Cinema


Os melhores filmes da Mostra de SP – Parte 9

 

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até 30 de outubro. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está no site oficial, em https://48.mostra.org.

Confira abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.

 



O brutalista

 

Um dos grandes filmes da Mostra desse ano, que teve todas as sessões esgotadas no festival, e cotadíssimo para o Oscar de 2025. Suas 3h35 de duração não atrapalham essa que é uma saga moderna e grandiosa, que conta a longa trajetória de um arquiteto judeu que viveu os horrores do campo de concentração e chega aos Estados Unidos logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. A esposa, doente, ficou na Europa, e ele, sozinho, recomeça a vida na América. Pobre e maltrapilho, mas com ideias visionárias, recebe o convite de um misterioso magnata da indústria para construir um templo religioso no alto de uma colina na Pensilvania. O arquiteto László Toth torna-se peça fundamental na consolidação do movimento Brutalista na arquitetura moderna, com seus prédios pesados, construídos apenas com concreto, simples, funcionais e sem ornamentos. O drama percorre 50 anos na vida do protagonista, que cruza países como Hungria, Itália e EUA, mostrando seus encontros e desencontros, a fatalidade, a construção/destruição de seus sonhos. É uma visão pessimista de uma América que não servia aos imigrantes. Adrien Brody entrega uma performance esplêndida, enquanto Felicity Jones, no papel da esposa, aparece a partir da metade, em um trabalho pessoal e condizente, e Guy Pearce é o magnata industrial, num de seus melhores momentos no cinema. Rodado na Hungria e na Itália em apenas 34 dias, com orçamento pequeno, de apenas U$ 6 milhões. Feito num VistaVision impressionante, que deve ser assistido preferencialmente na tela grande. Os letreiros iniciais correndo de lado é algo curioso e praticamente inédito. A trilha sonora ecoante de Daniel Blumberg e a fotografia com cores acinzentadas de Lol Crawley engrandecem a obra, já na minha lista dos melhores do ano. Venceu cinco prêmios em Veneza, incluindo melhor diretor, para Brady Corbet – que foi ator, de ‘Violência gratuita’, e prêmio da Crítica. Exibido ainda nos festivais de Toronto e Nova York, é produzido pela A24, e aqui no Brasil será distribuído nos cinemas pela Universal Pictures em 02 de fevereiro de 2025. Sessão na Mostra ainda no dia 26/10 - todas as sessões do filme têm um intervalo de 15 minutos no meio da projeção.

 



 

Através do fluxo

 

Todo ano a Mostra de SP traz um, ou até dois, como já aconteceu, título do multipremiado diretor sul-coreano Hong Sang-soo, que é um queridinho do festival. O cineasta de 64 anos, autoral por princípio, em que produz, escreve e dirige, tem 40 longas na carreira, e as sessões de seus filmes na Mostra sempre são lotadas. Em ‘Através do fluxo’, uma professora (papel da protagonista de ‘A criada’, Kim Min-hee, aqui premiada melhor atriz em Locarno) convida o tio para auxiliá-la na direção de uma esquete de teatro. Para melhor desenvolver o trabalho, todo dia ela senta na beira de um riacho para fazer esboços do fluxo da água. O tio aceita a proposta e retorna a Seoul, modificando a vida da sobrinha e de todos que a cercam. Kim Min-hee e Kwon Hae-hyo (o tio) são expressivos, com interpretações naturais, e já trabalharam outras vezes com o diretor Sang-soo, que sabe captar a essência dos personagens com delicadeza, emoção e humor. Mais uma vez, seus dramas misturam uma comédia sutil, e a técnica do cineasta sempre está presente (já viraram uma marca): câmera estática captando longas cenas de diálogos dos atores sentados frente a frente em suas rotinas, como almoçando ou conversando na sala, cenas contemplativas em florestas e rios, sem diálogos, com a som da natureza etc. O diretor acumula mais de 60 prêmios internacionais, em festivais consagrados, como Berlim, Cannes e San Sebastián. Aos iniciados no cinema de Sang-soo, vale uma conferida. Sessões na Mostra ainda dias 26 e 30/10.

 



 

Sol de inverno

 

Aplaudido nos festivais por onde passou, como Cannes, Toronto e San Sebastián, o delicadíssimo drama japonês traz uma história bonitinha e agradável que, aos poucos, ganha dimensão conflitante. A história se passa em uma pequena ilha do Japão, onde, no inverno, duas crianças são treinadas por um professor para patinação artística no gelo. O garoto Takuya deixa o hóquei no gelo de lado, algo que chama a atenção dos amigos e da família, enquanto a menina Sakura é considerada uma esportista em ascensão. Ex-campeão de patinação no gelo, o professor Arakawa junta os dois para intensos dias de treinamento para um campeonato que reunirá grandes times da região. O filme tem uma dinâmica incrível entre os personagens, com cenas belamente coreografadas no gelo, difíceis de serem feitas. A luz em diversos momentos estoura na tela, sinal dos conflitos que irão aparecer em breve na trama. O elenco é bom, as crianças mandam bem, e não só no final, mas todo o filme causa fortes emoções. Segundo longa do diretor Hiroshi Okuyama, que, junto do premiado diretor Hirokazu Koreeda, dirigiu a série da Netflix ‘Makanai: Cozinhando para a casa Maiko’ (2023). Em Cannes concorreu ao prêmio principal da seção ‘Um certo olhar’ e ao Queer Palm. Um dos filmes imperdíveis da Mostra desse ano. Sessão ainda no dia 26/10.

 



 

Em retiro

 

Está na Competição Novos Diretores da seção ‘Foco Índia’ essa singular fita de arte que fez sua estreia mundial no Festival de Cannes, e dias atrás foi exibida no Festival de Mumbai. Um homem de 50 anos retorna para a velha casa da família nas montanhas, pouco tempo depois do funeral do irmão. Solitário, perambulando pela casa numa noite escura, ele agora é forçado a rever suas atitudes. Uma atmosfera sombria, com algo místico no ar, embasa o drama que conta com um bom trabalho do ator, que fica o tempo todo sozinho em cena, o indiano Harish Khanna – é um filme de um personagem só, tomado por pensamentos e poucos diálogos. A fotografia da noite azulada dentro do interior da casa é ingrediente fundamental para a melancólica trama. Sessões encerradas na Mostra de SP, porém o filme pode ser assistido até o dia 30/10 gratuitamente na plataforma Sesc Digital, com limite de 600 visualizações.




sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Especial de Cinema

 

Os melhores filmes da Mostra de SP – Parte 8

 

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até 30 de outubro. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está no site oficial, em https://48.mostra.org.

Confira abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.

 

 

Levados pelas marés

 

Profícuo, o chinês Jia Zhang-ke é figura central da chamada ‘Sexta Geração’ de cineastas do seu país e já produziu, dirigiu e escreveu mais de 30 filmes, entre curtas e longas, premiados em inúmeros festivais. Gosto especialmente de ‘Um toque de pecado’ (2013), ‘As montanhas se separam’ (2015) e ‘Amor até as cinzas’ (2018), e menos de ‘Levados pelas marés’ (2024), mas que ainda é um exercício estético e autoral do diretor. Traz uma história de amor de 20 anos em uma China em constante transformação política/social/cultural, entre 2002 e 2022, terminando no sombrio tempo da pandemia. É um olhar épico e grandioso de um romance perdido no tempo, sem a brutalidade do seu cinema violento, como vimos em ‘Amor até as cinzas’, que tem algumas semelhanças com esse novo longa. Vemos uma outra China, a China dos rios e das metrópoles, e as imagens exploradas pelo diretor alternam entre filmes caseiros e aqueles de maior qualidade. Lento, contemplativo, ainda é um filme do diretor que deve ser considerado, mesmo sem o impacto visual das obras anteriores. Exibido nos festivais de Cannes, Toronto e Londres. Sessões na Mostra de SP nos dias 25, 27, 28 e 29/10.

 



 

Harvest

 

Curti muito, mas vi que o público e a crítica ficaram divididos com esse folk drama com western movie que se passa num vilarejo distante, num tempo indeterminado, com uma comunidade que vive sob ritos diários. São várias histórias de personagens distintos que se cruzam por sete dias, centralizando as ações em dois amigos de infância, um proprietário de terras e outro que é confuso e divaga ideias enormes. A chegada da modernidade por meio de novos fazendeiros ameaça não só os dois, mas todo o grupo que ali mora. Baseado no livro de Jim Crace, tem no elenco os bons Cabel Landry Jones, Harry Melling, Frank Dillane e Rosy McEwen, e uma fotografia espetacular de Sean Price Williams. Coprodução Reino Unido/EUA/Alemanha, foi rodado numa ilha da Escócia com arquitetura medieval. Exibido no Festival de Veneza, é produção da Mubi e entrará em breve na plataforma. Sessões na Mostra de SP nos dias 25, 27 e 30/10.

 



 

Pequenas coisas como estas

 

Ganhador do Oscar de ator por ‘Oppenheimer’, Cillian Murphy estrela esse drama tácito e amargo baseado no romance homônimo de Claire Keegan, que deu Emily Watson o prêmio de melhor atuação coadjuvante no Festival de Berlim – ela aparece menos de 10 minutos, numa participação marcante como uma freira que guarda segredos obscuros.

No Natal de 1985, um carvoeiro (Cillian Murphy) trabalha dia e noite numa cidadezinha do condado de Wexford, na Irlanda, para sustentar esposa e filhas. Uma visita ao convento local o remete a lembranças perturbadoras da infância, e o faz entrar em conflito com a Igreja Católica. Murphy é expressivo com um olhar que é um misto de apreensão e tristeza, e seu personagem é enigmático e fala pouco. De narrativa vagarosa, o filme ganha força a partir da metade, com as investigações particulares do protagonista em torno do convento que se mostra um lugar ameaçador – o final (não darei spoiler) traz revelações terríveis de como a Igreja Católica atuava na Irlanda. Indicado ao Urso de Ouro em Berlim, tem sessões na Mostra de SP ainda no dia 25/10.

 



 

Os demônios do amanhecer

 

Fita gay mexicana com um roteiro intenso, que poderia sofrer cortes para que ficasse com menos duração e menos passagens repetidas – são 136 minutos que caberiam facilmente em 100. Uma paixão tórrida (com muito sexo) entre dois jovens da Cidade do México ganha contornos especiais para tensionar contrapontos como relacionamentos fugazes x fidelidade. Um deles é dançarino, envolve-se com diversos homens, e o outro trabalha num hotel e estuda enfermagem. Eles se conhecem numa noite à toa e se apaixonam perdidamente. Em um mundo adverso, os dois tentarão, juntos, seguir com seus objetivos, sendo um deles manter a relação séria. Cores fortes e muita música, como ‘Never can say goodbye’, de Gloria Gaynor, agitam essa pequena fita independente que está em destaque na Mostra desse ano. Apesar da longa duração, gostei – destaque para os dois atores centrais que se expõe com ousadia e ternura. Exibido no Festival de Guadalajara. Sessões na Mostra de SP nos dias 25, 26, 29 e 30/10.

 



 

Piano de família

 

Exibido nos festivais de Toronto e Londres, o filme da Netflix marca a estreia do diretor Malcolm Washington, filho de Denzel Washington e irmão do ator central da fita, John David Washington. É um excelente filme dramático feito em família – Denzel produz ao lado da filha Katia, irmã de Malcolm, e o elenco é liderado por John David. Cotado para finalista ao Oscar do ano que vem, é uma adaptação da obra homônima de August Wilson, prêmio Pulitzer por ‘Um limite entre nós’, que virou filme com Denzel e premiou Viola Davis atriz coadjuvante. Wilson fala de intensos conflitos familiares em famílias negras empobrecidas, e aqui não é diferente – durante 20 anos, entre as décadas de 10 e 30 do século passado, uma briga se instala no seio da família Charles por causa de um antigo piano que foi passado de geração a geração. O piano é um observador das mudanças do país e daquela família, e dele evocam-se vozes e fantasmas do passado. Teatral, os atores ficam longas cenas conversando/discutindo em apenas um ambiente da casa, a sala agregada à cozinha, com o piano ao lado. Do filme extraem-se ótimas atuações do elenco, a se perder de vista, como Samuel L. Jackson, John David Washington, Danielle Deadwyler, Corey Hawkins, Stephan James e Michael Potts. Enquanto drama, é uma fita sólida e que abre reflexões, e o desfecho é de assustar, literalmente falando, com tom de filme de terror sobrenatural. Prepare-se para um dos bons longas do ano, que entra na Netflix no dia 22/11. Sessões ainda na Mostra nos dias 25 e 30/10.




quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Especial de cinema


Os melhores filmes da Mostra de SP – Parte 7

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até 30 de outubro. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está no site oficial, em https://48.mostra.org.

Confira abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.

 



A cozinha

 

Saí atônito da sessão de imprensa ontem desse que é um dos melhores filmes da Mostra de SP e já integra a minha lista dos grandes filmes do ano – e que deve estrear em breve nos cinemas (por isso, deixem no radar). Com um elenco mexicano e norte-americano, o filme é uma brutal reflexão sobre xenofobia/imigração nos Estados Unidos, e tudo acontece em um restaurante em Manhattan, um microcosmo dos dilemas e crises da sociedade. Na cozinha do ‘The Grill’ trabalham imigrantes mexicanos, muitos deles ilegais e sem documentos, que chegaram aos EUA para tentar nova vida. Uma grande quantia de dinheiro desaparece do caixa, e todos os funcionários são suspeitos – principalmente os mexicanos. Figura central na cozinha, Pedro (Raúl Briones) é acusado pelo furto, mas nega; temperamental, ele fala o que vem na mente, e apesar de bom cozinheiro, arruma confusão facilmente. Ele acabou de engravidar uma das garçonetes, com quem passou uma noite, Julia (Rooney Mara), que é americana. Quando ela conta a Pedro que deseja abortar, uma crise entre os dois se estende para dentro da cozinha, criando um ambiente insuportável. Rodado num preto-e-branco incrível, com uma ou outra cena com cor, o filme é construído com inúmeros planos-sequencias de tirar o fôlego, com momentos que marcarão a memória do público – como a cena da confusão na cozinha, que dura 10 minutos, com pratos caindo, gente brigando e uma máquina de Cherry Coke explodindo. Além da xenofobia, o drama é uma crítica severa à exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo. Destaque para o elenco todo, com especial menção a Briones e Mara, e a superdireção do mexicano Alonso Ruizpalacios, do espetacular e premiado filme de assalto baseado em fatos ‘Museu’ (2018). Exibido nos festivais de Berlim e Tribeca, tem sessões na Mostra de SP nos dias 24, 25 e 29/10.

 



 

Misericórdia

 

O diretor de ‘Um estranho no lago’ (2013), Alain Guiraudie, mais uma vez chacoalha o público com seu novo longa-metragem, que foi exibido em Cannes e lá indicado ao Queer Palm. O cinema gay com reviravoltas inusitadas retornam em outro nível em ‘Misericórdia’, um drama que vira comédia dramática, sobre um jovem que retorna à cidadezinha natal para o funeral de um antigo chefe. No vilarejo, resolve se instalar por alguns dias na casa da viúva do homem, que tem um filho agressivo. Ele revê antigos amigos, fica próximo do pároco que mora ao lado e parece estar se habituando àquela rotina, exceto pelos atritos com o filho da viúva. Numa tarde, uma violenta briga com o rapaz termina em um gravíssimo incidente, que dará margem a uma série de desencontros enquanto está hospedado na cidade. O ator central, Félix Kysyl, segura o papel com um personagem de múltiplas camadas, que cresce em cena – de um rapaz tímido, introvertido e sem falar muito, envolve-se com um crime e vai se afeiçoando aos coadjuvantes de maneira ousada, abalando toda aquela comunidade. O roteiro é imprevisível, que nos leva a caminhos impensáveis. Conta com participação firme de uma atriz francesa que gosto muito, Catherine Frot. Há boas doses de um humor ácido, que transforma a fita num dos melhores momentos do diretor Alain Guiraudie. Sessões na Mostra de SP nos dias 24 e 30/10.

 



 

Árvores que eu me lembro

 

Drama turco melancólico e feminino, com uma protagonista de forte presença. Ela é uma jovem grávida que quer se suicidar. Porém, entra em dilema moral (pois matará o filho que está na barriga). Procura alguém que possa entregar o bebê, já que ‘prorroga’ seu suicídio para depois do parto. Acaba se reencontrando com um amigo de infância, hoje na cadeira de rodas, que mora com o pai idoso. Os três constroem uma estranha e delicada relação. Com ar de melodrama, tem uma história controversa que muda de tom ao longo da passagem do filme, e aos poucos, e com detalhes, somos inseridos no mundo triste da protagonista. Gosto da fotografia, dos personagens em meio a encostas e matas, que ajudam na construção da ideia de despedida da personagem. Sessão ainda no dia 24/10. Disponível gratuitamente na plataforma SPcine Play até dia 30/10.