sábado, 11 de setembro de 2021

Resenha Especial


Às voltas com o anticristo

Por Felipe Brida*

(Texto escrito especialmente para o livreto do filme em bluray, lançado esse mês pela distribuidora Obras-primas do Cinema)

Um segredo milenar escondido nos porões de uma igreja abandonada em Los Angeles poderá despertar o anticristo. Forças demoníacas estão à espreita, e a humanidade corre risco. Essa é a premissa de uma das melhores fitas cult de terror de todos os tempos, o sinistro “Príncipe das sombras” (1987), do mestre do terror John Carpenter. O diretor de “Halloween: A noite do terror” (1978), “A bruma assassina” (1980) e “O enigma de outro mundo” (1982) coloca mais uma vez o mal circulando entre os humanos, e ameaçando tomar conta das estruturas sociais.

Esse é um filme que desde a abertura causa incômodo, nos preparando para o medo. Os créditos iniciais demoram nove minutos (algo raro no cinema) ao apresentar parte dos personagens em meio a situações estranhas numa Los Angeles ensolarada, sob a trilha sonora arrepiante do próprio Carpenter em parceria com Howarth - parceria nascida em “Fuga de Nova York” (1981), passando por filmes como “Christine, o carro assassino” (1983), “Os aventureiros do bairro proibido” (1986) e “Eles vivem” (1988). Depois de apresentados para o público, a trama sinistra começa: um padre convoca um grupo de pessoas formado por pesquisadores, cientistas e estudantes para investigar um recipiente contendo um estranho líquido verde, escondido no porão de uma igreja abandonada. Alguns se contaminam com aquela substância, e são transformadas numa espécie de zumbis. Do lado de fora da igreja, cerca de dez homens e mulheres em estado de transe, observam atentamente quem está lá dentro, como se uma força os atraísse. Os que não forma contaminados, na igreja, descobrem que o líquido verde é na verdade uma poção com a essência de Satanás, e ao entrar no corpo das vítimas, prepara o novo despertar do anticristo. Terrível, não?
Revendo o filme tempos atrás, lembrei da minha infância, quando assistia ao filme em “sessões da tarde” na TV nos anos 90. Eu tinha uma paura danada e pulava da cadeira com alguns jumpscares pontuais. A imagem de Alice Cooper como um dos vigilantes zumbificados marca até hoje, sem contar na grávida que tem o rosto derretido nas cenas que preparam o desfecho (continuam medonhos e assustadores!).
Esse é mais um roteiro caprichado de John Carpenter, novamente flertando com o desconhecido, cuja originalidade é sem tamanho. Aliás, mais uma vez ele brinca de forma inteligente com pseudônimos, ao assinar o roteiro como Martin Quatermass - alusão ao personagem Bernard Quatermass, o cientista britânico que investiga artefatos e crimes na série “The Quatermass experiment” (1953) e seus derivados, como os filmes “Terror que mata” (1955) e “Uma sepultura na eternidade” (1967). De acordo com Carpenter, “O enigma de outro mundo”, “Príncipe das sombras” e “À beira da loucura” (1994) integram o que ele chamou de “Trilogia do Apocalipse”. E quem gosta de terrorzão não pode perder essa trinca!
Como em outros longas-metragens do diretor (que aqui volta a trabalhar com os veteranos Donald Pleasence e Victor Wong), há muitas metáforas e momentos sem explicação concreta, ou seja, são ambíguos e abertos. Por exemplo, será que tudo aquilo ocorreu mesmo ou não passou de um sonho de um dos personagens (aquele que era perturbado com imagens distorcidas na TV)? Será mesmo que Satanás conseguiu sair da cápsula? Tudo fica subentendido para o público decidir...


Mais um grande lançamento da Obras-primas do Cinema em bluray, para os colecionadores do cinema de terror. Vale destacar que no ano passado a distribuidora havia trazido o filme em DVD no Brasil no box “Sessão de terror Anos 80 – volume 3”, ao lado de “Pague para entrar, reze para sair” (1981), “A passagem” (1988) e “Warlock: O demônio” (1989).

PS: Na edição especial há o filme em bluray, uma hora de extras, três cards colecionáveis, dois pôsteres e um livreto de 36 páginas.

Príncipe das sombras (Prince of darkness). EUA, 1987, 101 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por John Carpenter. Distribuição: Obras-primas do Cinema

* Felipe Brida é jornalista e crítico de cinema, autor do livro “Cinema em Foco: Críticas selecionadas” (2013). Como crítico de cinema, mantém o blog Cinema na Web (de sua autoria, fundado em 2008), a coluna semanal “Cinema em Foco” (no jornal O Regional) e a coluna mensal “Middia Cinema” (na Revista Middia), além dos quadros semanais “Mais Cinema” (na Nova TV/TV Brasil) e “Palavra do Especialista – Cinema” (rádio Câmara de Bauru). Atua como palestrante em festivais de cinema em todo o Brasil e presta trabalho como curador e júri em festivais de cinema. É professor de Cinema, Comunicação e Artes no Senac, Fatec e Imes Catanduva (cidade onde reside). É pós-graduado em Artes Visuais pela Unicamp e Gestão Cultural pelo Centro Universitário Senac SP, e mestrando em Comunicação e Artes pela PUC-Campinas. Para contato: felipebb85@hotmail.com

 

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