Angel’s egg
A concepção do desenho, do diretor e roteirista Mamoru Oshii, é de um mundo devastado, onde predominam escombros e metal retorcido, e aparentemente sempre é noite. A penumbra e o cenário azul preenchem o quadro – estética que inspiraria o sucesso seguinte do diretor Oshii, realizado 10 anos depois, ‘Ghost in the shell – O fantasma do futuro’ (1995). Nesse mundo pós-apocalíptico cercado por uma aura de mistério, dois personagens o habitam e se tornam amigos: uma jovem, guardiã de um ovo gigante de origem desconhecida, e um garoto aventureiro, com roupas de herói de revista, que leva consigo uma cruz. Juntos, trilham o mesmo caminho, explorando uma cidade em ruínas e com uma missão dentro deles que aos poucos se revela. Com pouquíssimos diálogos, a animação é puro exercício de linguagem, de visual surrealista marcante, feito pelas mãos do visionário designer Yoshitaka Amano – ele escreveu também o roteiro ao lado de Oshii, formando uma parceria de décadas. Devido ao tom pessimista e existencialista, é, como disse, um filme para público mais velho. O novo master em 4K saiu em comemoração aos 40 anos da obra, apresentado em sessão especial no Festival de Cannes de 2025, na seção ‘Cannes Classics’. Na época do lançamento original, em 1985, teve como título no Brasil e em outros países de língua portuguesa ‘A menina e o ovo de anjo’, que explica a origem do enigmático ovo que a personagem carrega com todo zelo. Imperdível para fãs de anime cult.
Caso Eloá: Refém ao
vivo
A Netflix encontrou um
filão com os documentários de casos policiais chocantes. Só nestes últimos dois
meses lançou três documentários em formato de filme que ficaram no top 5 de
bilheteria do streaming: ‘A vizinha perfeita’, cotado para o Oscar, ‘Aileen: A
História de uma serial killer’, e ‘Caso Eloá: Refém ao vivo’. O doc em questão traz
de volta toda a angústia de um fato que paralisou o país e se tornou um estudo
de sensacionalismo na mídia. É aquele de uma jovem chamada Eloá Pimentel, de 15
anos, que ficou em cárcere privado, no apartamento da família, sob a mira de um
revólver do namorado, Lindemberg Alves. O sequestro, em Santo André (SP), durou
quatro dias, entre 13 e 17 de outubro de 2008, terminando com a morte de Eloá. A
repercussão invadiu as emissoras, que só transmitiram isto por dias, com
momentos ao vivo e infinitas suítes. O doc resgata cenas de arquivo da TV,
desde reportagens de jornalistas que cobriram o caso em frente ao apartamento
da vítima até as panorâmicas feitas por helicóptero e as negociações com a polícia;
dos dias atuais, traz depoimentos dos pais de Eloá, de policiais que atuaram na
ocorrência, de familiares e amigos tanto dela quanto de Lindemberg (hoje preso na P2 de Tremembé em
regime semiaberto, após condenação inicial de 98 anos por três crimes, dentre
eles homicídio qualificado e cárcere privado). O filme critica a espetacularização
da mídia a partir de questionamentos da equipe aos jornalistas que estiveram à
frente da cobertura em 2008 - a falta de ética tomou conta sem o mínimo de
respeito aos envolvidos, a ponto de alguns jornalistas chegarem a entrevistar
ao vivo o sequestrador Lindemberg e Eloá dentro do cárcere. Um verdadeiro show
de horrores em busca de audiência. Um bom filme da Netflix, porém uma pedrada,
que volta a mexer com antigas feridas.


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