quarta-feira, 24 de julho de 2024

Resenhas especiais


Confira resenhas de três filmes em DVD pela Imovision.

Desajustados

Fúsi (Gunnar Jónsson) é um homem solitário, que mora com a mãe e tem uma vida monótona. Numa tarde, o encontro dele com a garotinha Hera (Franziska Una Dagsdóttir), filha de um dos vizinhos do condomínio, mudará os rumos de sua pacata rotina.

A Islândia e seus filmes frios, sobre a reconstrução das relações humanas. ‘Desajustados’ é mais um bom exemplar dessa temática e feito nesse país nórdico, um filme para poucos, exibido nos Festivais de Berlim e Tribeca. A figura do protagonista, Fúsi (título original do filme), é enigmática, ao mesmo cativante e monótona, papel desempenhado por um ator excelente, Gunnar Jónsson, de ‘A ovelha negra’ (2015). Obeso, solitário, vive com a mãe, que o mima, tem um emprego chato no aeroporto local e coleciona brinquedos de guerra. É alvo de bullying no trabalho, mas diz que não passa de brincadeiras dos amigos. Certo dia, no pé da escada do prédio onde mora, encontra a filha de um vizinho, sentada, esperando alguém abrir a porta para ela. Fúsi a leva para casa, trocam conversas, dá para a menina algo para comer e brincam. Desse encontro inusitado nasce uma amizade, e todos os dias a menina passa a visitar o novo amigo, mesmo que seu pai ache estranho e até a proíba. Com a desenvoltura de Fúsi com Hera, ele consegue deixar a timidez de lado e se envolve com uma mulher nas aulas de dança de salão que frequenta após incentivo da mãe. Sua vida muda da água para o vinho, entre altos e baixos nas relações com a menina, com a nova namorada, que tem depressão, e com a mãe.


Uma história feita com simplicidade, humana, bonita, com breves momentos de humor, com tipos reais que cruzamos pela rua. Mas sim, é um drama sólido, melancólico e bem construído. Para público adulto e inserido no cinema cult.
Curiosidade: O diretor Dagur Kári, filho do escritor islandês Pétur Gunnarsson, nasceu na França, é pai atriz mirim que interpreta Hera, rodou filmes na Islândia e em 2009 dirigiu nos EUA a comédia dramática ‘O bom coração’, com Paul Dano e Brian Cox.
Disponível em DVD pela Imovision e no streaming da distribuidora em parceria com o cinema Reserva Cultural, o Reserva Imovision.

Desajustados (Fúsi). Islândia/Dinamarca, 2015, 95 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Dagur Kári. Distribuição: Imovision


De longe te observo

Na capital da Venezuela, Caracas, Armando (Alfredo Castro), um protético solitário e deprimido, oferece dinheiro para garotos irem até a sua casa. Ele os observa nus enquanto se masturba. Um dia, conhece Elder (Luis Silva), um rapaz envolvido com o crime e integrante de uma gangue. De início, Elder não aceita a proposta e chega a agredir Armando, só que, com o passar dos dias, volta para a casa do homem. Entre eles nasce um complicado relacionamento de amizade e fúria.

Ganhou prêmios nos festivais de Havana, Miami, San Sebastian, e o principal, o Leão de Ouro em Veneza esse que é filme independente polêmico e curioso, rodado na Venezuela, coproduzido no México. Tem em cena um dos atores mais versáteis e interessantes do Chile, Alfredo Castro, que trabalha bastante com o diretor Pablo Larraín, como em ‘O clube’ (2015), já filmou no Brasil, o drama ‘Verlust’ (2020), e recentemente esteve no elenco de ‘O conde’ (2023), onde interpreta o mordomo do ditador Pinochet. Ele faz aqui um homem na altura dos 60 anos, dono de um laboratório de próteses dentárias, que costuma caminhar pela tarde em busca de garotos no centro da cidade para levá-los para seu apartamento em troca de dinheiro – ele tem o fetiche de se masturbar vendo-os nus, de costas. Num desses encontros, conhece um rapaz envolvido com a criminalidade – papel quase naturalista e de muito empenho do estreante Luis Silva; ele bate carteiras, rouba retrovisores e pertence a uma gangue. No primeiro encontro, o jovem bate em Armando, o rouba e foge. Dias depois se reencontram, ele volta para o apartamento do protético e entre eles nasce uma complexa história de amizade, mas com brigas e desconfianças. Armando conta ao jovem que tem problemas com o pai idoso – uma subtrama surgirá mais pro final envolvendo esse homem, trocam outras confidências e até chegam a frequentar festas e restaurantes juntos. Uma história de uma estranha e difícil amizade, cheia de dissabores e momentos altos, escrita e dirigida por um estreante, Lorenzo Vigas, que o escreveu ao lado do premiado roteirista e já indicado ao Oscar Guillermo Arriaga, mexicano que roteirizou a trilogia de Alejandro G. Iñárritu ‘Amores brutos’ (2000), ’21 gramas’ (2003) e ‘Babel’ (2006).


Um filme de poucos diálogos e muito olhar, com enquadramentos formidáveis de expressões faciais. Amargo, tem um final nada feliz, desalentador. Também é o retrato de uma Caracas devastada pelo caos social, pela pobreza e violência.
Foi o representante da Venezuela ao Oscar, mas não entrou na lista final de indicados de filme estrangeiro. Disponível em DVD pela Imovision e no streaming da distribuidora em parceria com o cinema Reserva Cultural, o Reserva Imovision.

De longe te observo (Desde allá). Venezuela/México, 2015, 93 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Lorenzo Vigas. Distribuição: Imovision


O último tango

Documentário sobre duas lendas do tango argentino, María Nieves Rego e Juan Carlos Copes, que trabalharam juntos por 50 anos e depois romperam de maneira inesperada.

Um filme-homenagem ao tango argentino, uma ode ao poder desse estilo revolucionário e que conquistou artistas ao redor do mundo. O documentário foca no amor pelo tango de dois dançarinos que fizeram história, de uma vida unida pela música, María Nieves Rego (1934-) e Juan Carlos Copes (1931-2021). O filme mostra quando se conheceram, na época tinham entre 15 e 16 anos, as danças juntos nas principais casas da Argentina por 50 anos e as apresentações pelo mundo afora. Até o rompimento da dupla, que chocou a Argentina.
Em entrevista, Maria e Juan contam segredos, o auge da carreira, lembram situações complicadas, como o quase envolvimento romântico entre eles, e o término da parceria. Enquanto falam para a câmera, vídeos reais e fotos de acervo dos dois aparecem, e ainda tem uma dupla de atores que simulam/encenam a vida das duas personalidades.


Um doc no melhor estilo do cinema argentino, com música, drama, humor e sentimento. Do diretor German Kral, especializado em documentários musicais como ‘Música cubana’ (2004) e ‘El último aplauso’ (2009).
Disponível em DVD pela Imovision e no streaming da distribuidora em parceria com o cinema Reserva Cultural, o Reserva Imovision.

O último tango (Un tango más). Argentina/Itália/Alemanha, 2015, 85 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por German Kral. Distribuição: Imovision

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