quinta-feira, 11 de julho de 2024

Estreias da semana - Nos cinemas


Ninguém sai vivo daqui (2023)

Grande estreia nos cinemas hoje, ‘Ninguém sai vivo daqui’ é um drama brasileiro todo rodado num belíssimo preto-e-branco e baseado num triste contexto real que chocou o Brasil. Na década de 70, uma jovem é internada à força pelo pai no Hospital Psiquiátrico Colônia, em Barbacena (MG), por estar grávida. Lá, é alvo de torturas físicas e psicológicas, ameaçada dia e noite por funcionários. Tenta então escapar do hospital com ajuda de outros internos.
O roteiro é inspirado no livro ‘Holocausto brasileiro’, da jornalista Daniela Arbex, e foi escrito pelo diretor do longa, André Ristum, de ‘A voz do silencio’, ao lado de Marco Dutra, roteirista e diretor de ‘Trabalhar cansa’, e Rita Gloria Curvo, roteirista de ‘Macabro’. Ristum já havia discutido o tema na série do Canal Brasil ‘Colônia’, em 2021 – para o filme, ele utilizou parte do material gravado e incluiu cenas inéditas.
O hospital psiquiátrico Colônia, na época chamado de hospício, foi uma horrível página da História da saúde pública no Brasil. Ficou ativo por 70 anos, e no local mais de 60 mil pessoas morreram, vítimas de práticas desumanas, como tortura, espancamentos e eletrochoque – histórias reais das vítimas do hospital estão retratadas no ótimo documentário ‘Holocausto brasileiro’ (2016), disponível na Netflix.
O filme traz um bom trabalho de Fernanda Marques no papel principal e de coadjuvantes como Andréia Horta e Augusto Madeira.
Exibido no Festival de Brasília de 2023, foi produzido pela Sombumbo e TC Filmes, tem coprodução da Gullane, Geração Entretenimento, Canal Brasil e Karta Film. Distribuição nos cinemas pela Gullane+.



O sequestro do papa (2023)

Outra boa estreia nos cinemas brasileiros baseada em fato real e com uma história forte e trágica. Indicado à Palma de Ouro em Cannes e premiado com vários David di Donatello, o Oscar italiano, o drama, uma coprodução Itália, França e Alemanha, se passa durante uma década, entre os anos de 1858 e 1870, acompanhando o rapto de uma criança judia, Edgardo Mortara, por autoridades católicas. O menino, de sete anos, foi sequestrado porque foi batizado, quando enfermo, por uma empregada católica, e a lei de Roma da época proibia não-católicos de serem batizados. Edgardo foi retirado de sua casa, em Bologna, por ordem de Pio IX, e acolhido e bem tratado pelo papa por muitos anos, até crescer e se tornar sacerdote. Enquanto os pais tentavam resgatar o filho, a opinião pública se dividiu, fazendo com que a igreja passasse por infindáveis críticas.
Nome fundamental do cinema político italiano, o veterano e premiado Marco Bellocchio, de ‘De punhos cerrados’ e ‘Belos sonhos’, aos 84 anos, dirige e escreve um filme com vigor e consistência. Realizou uma grande obra de apelo político, com desenho de produção que lembra documentário, e ênfase nas tramas secundárias de uma história chocante praticamente esquecida. A estética utilizada parece um quadro pintado do romantismo, com cores fortes, contrastes e muito jogo de luz e sombra – veja a beleza do poster, que dá uma ideia do filme que você assistirá.
Não perca esse filme de vista. Distribuído nos cinemas pela Pandora Filmes.




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