quarta-feira, 12 de junho de 2024

Resenhas Especiais


O cinema de Christopher Nolan

Following

Escritor em início de carreira, Bill (Jeremy Theobald) adquire o estranho hábito de seguir desconhecidos nas ruas, como forma de aguçar sua criatividade e assim criar novos personagens. Até que segue um ladrão, que o convida a roubar residências com ele.

O inglês Christopher Nolan ganhou, esse ano, seu primeiro Oscar de diretor, pelo filme biográfico ‘Oppenheimer’ (2023), que foi sensação de público na temporada de 2023. Também ganhou o Oscar de melhor filme pelo longa que conta a história do criador da bomba atômica. Nolan tem outras sete indicações da Academia, entre roteiro original, direção e melhor filme, por ‘Amnésia’ (2000), ‘A origem’ (2010) e ‘Dunkirk’ (2017). Nascido em 1970, Christopher Nolan faz filmes desde o finzinho dos anos 80. Iniciou a carreira aos 19 anos, com curtas experimentais na faculdade, até chamar a atenção de diretores e do público com seu primeiro longa-metragem, ‘Following’ (1998), aqui no Brasil traduzido como ‘Seguinte’, um título em português cheio de duplos sentidos. Um filme de poucos recursos, bem experimental e cheio de criatividade.
Sem ser formado em cinema – Nolan gradou-se em Literatura na Universidade de Londres, demonstra em ‘Following’ noções de estética, de enquadramentos, de conteúdo cinematográfico; para o filme, reuniu um orçamento mísero de U$ 6 mil, um dos mais baratos da história do Cinema, e realizou um feito inédito, uma fita instigante de drama e suspense, de apenas 69 minutos de duração, toda em preto-e-branca, rodada na casa de amigos em Londres. Foi o primeiro filme da Syncopy, produtora que Nolan fundou com sua esposa, Emma Thomas, que aparece aqui como atriz e se tornaria produtora de seus trabalhos. Rodou o filme em película com uma câmera portátil simples, a partir de uma ideia que ele mesmo vivenciou – sua casa foi invadida e destruída por bandidos, e na história, um rapaz que segue pessoas na rua acaba se tornando parceiro de assalto de um criminoso. Parte do elenco, muitos deles seus amigos de faculdade, Nolan convidaria depois para ‘Batman Begins’ (2005), em papéis pequenos, como Jeremy Theobald, Lucy Russell e John Nolan, seu tio.
Em ‘Following’, Nolan escreve, dirige, produz, faz a fotografia e a montagem. Um cinema totalmente autoral. Ele demorou um ano para gravar, pois captava as cenas nos fins de semana, já que todos do elenco trabalhavam em outras áreas, ninguém vivia de cinema.





‘Following’ é um noir moderno, com 30 tempos no enredo – entre flashbacks desdobrados e vários momentos do presente. Como já era um conhecedor de cinema, Nolan traz referências aos montes, como pôsteres emoldurados no interior das casas com clássicos, como ‘Crepúsculo dos deuses’ (1950). Apresentado no Festival de Toronto e premiado no Festival de Rotterdam, o filme é uma pequena obra-prima, que merece ser descoberta pelos cinéfilos.
Disponível em DVD e Bluray pela Classicline, também foi lançado pela distribuidora num box em bluray chamado ‘Código Nolan’, com outros dois filmes dele, ‘Amnésia’ e ‘Insônia’.
Todo diretor tem um começo, muitos deles um começo com filmes pequenos, de festivais, desconhecidos. Nolan é um deles, e se transformou num realizador notável, com filmes ousados, criativos e com uma estética moderna.

Following (Idem). Reino Unido, 1998, 69 minutos. Drama/Suspense. Preto-e-branco. Dirigido por Christopher Nolan. Distribuição: Classicline


Insônia

Dupla de detetives do departamento de homicídios de Los Angeles viaja a uma cidadezinha do Alaska para investigar um homicídio. Durante a caçada a um suspeito, o investigador Will Dormer (Al Pacino), que sofre de insônia, atira e mata seu parceiro acidentalmente. Com um álibi nas mãos, não conta a verdade para a polícia e tenta encobrir seu envolvimento na morte, afirmando que o colega foi morto pelo tal suspeito do homicídio. Entra em jogo a policial Ellie Burr (Hilary Swank), designada para auxiliar no caso, e quando as investigações avançam, a farsa de Dormer começa a desmoronar. Em meio a isso tudo, o suspeito do homicídio, Sr. Finch (Robin Williams), passa a ser procurado e se isola numa vila remota de pescadores.

Depois de estrear como diretor com o cultuado filme experimental de crime ‘Following’ (1998), o inglês Christopher Nolan realizou uma estrondosa e enigmática fita de suspense que chacoalhou a crítica, abrindo os olhos do público para um novo tipo de cinema, ‘Amnésia’ (2000). Nolan consolidaria sua carreira nesse terceiro longa-metragem, ‘Insônia’ (2002), um suspense policial classe A, remake de um instigante neonoir norueguês exibido NO Festival de Cannes. O roteiro é uma adaptação feito por uma mulher, Hillary Seitz, que reescreveu o original de 1997 dos escandinavos Erik Skjoldbjærg e Nikolaj Frobenius. Seitz manteve o thriller e as reviravoltas e inseriu alguns ingredientes a mais.
O diretor recriou o tom sombrio de investigação do anterior, e agora a história se passa no extremo norte do Alaska, onde também ocorre o solstício de verão, em que por muitas semanas o dia cobre a noite – no original a trama é no solstício da Noruega.
Nolan esticou a história, que tinha 96 minutos e agora passa a 118 minutos, mais explícito, violento e trágico que o outro. Al Pacino substitui Stellan Skarsgård, um detetive que não consegue dormir, sempre com cara de sono, ainda mais no verão do Alaska em que as noites não existem, e a claridade se estende por 24 horas – vejam o trocadilho do sobrenome dele, ‘Dormer’. Numa das cenas marcantes, ele tem de tapar as janelas com cobertores para o quarto ficar escuro e assim, quem sabe, poder descansar. Ele é um detetive que mata acidentalmente seu parceiro quando sai na busca por um suspeito do homicídio que investiga. Para não assumir a culpa, planta elementos falsos no caso, tentando despistar a polícia, até que será surpreendido por uma astuta policial que entra na investigação – papel de Hilary Swank. O filme tem tensão crescente, reviravoltas marcantes e uma fotografia demolidora no gelo do Alaska, assinada por Wally Pfister, que virou parceiro de trabalho de Nolan e ganharia o Oscar por ‘A origem’ – o filme foi rodado no Alaska e na Columbia Britânica no Canadá, por dois meses durante a primavera, que é sempre gelada nessas regiões.






O elenco dá um show à parte, com Al Pacino liderando, Hilary Swank como uma boa coadjuvante como contraponto do protagonista, na época recém-ganhadora do Oscar por ‘Meninos não choram’ (1999), e participação especial de Robin Williams, como o vilão – ele aparece depois de uma hora de filme, e no mesmo ano, 2002, fez outro filme sinistro de suspense, ‘Retratos de uma obsessão’ (2002), saindo da curva, já que era um rosto célebre de filmes de comédia.
O filme abriu no Festival de Tribeca, depois passou em Locarno, e foi distribuído mundialmente nos cinemas, sendo um dos grandes trabalhos de Nolan. Depois de ‘Insônia’, o diretor deu nova dimensão para o universo de Batman, fazendo a trilogia composta por ‘Batman Begins’ (2005), ‘Batman – O cavaleiro das trevas’ (2008) e ‘Batman – O cavaleiro das trevas ressurge’ (2012), expandindo seu trabalho em Hollywood. E não parou mais, com seus filmes intrigantes e complexos, de ‘A origem’ (2010) ao recente ‘Oppenheimer’ (2023), que puxa público às salas. Em março desse ano ganhou dois Oscars, de direção e melhor filme por ‘Oppenheimer’ (2023), e recebeu das mãos de Rei Charles III o título de Sir, pelos serviços prestados ao cinema.
O filme saiu em recente versão em DVD e bluray pela Classicline, e também foi lançado pela distribuidora num box em bluray chamado ‘Código Nolan’, com os filmes ‘Following’ e ‘Amnésia’.

Insônia (Insomnia). EUA/Reino Unido, 2002, 118 minutos. Policial/Suspense. Colorido. Dirigido por Christopher Nolan. Distribuição: Classicline

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