quarta-feira, 15 de abril de 2020

Resenhas Especiais




Força maior

Uma família em viagem aos Alpes Franceses fica presa no hotel após uma avalanche. Enclausurados por vários dias, o marido e a esposa travam longas discussões sobre o relacionamento, enquanto traumas vêm à tona.

Indicado ao Globo de Ouro e ao Bafta de melhor filme estrangeiro, ganhou o prêmio do Júri em “Un Certain Regard” em Cannes essa coprodução Suécia/Dinamarca/Noruega que trata com simbologias o desmoronamento familiar. Vi em 2014 quando saiu em DVD, apostei como um dos melhores filmes europeus daquele ano, e ontem pude revê-lo – ele continua com a mesma força!
É a jornada claustrofóbica de um marido, a esposa e os dois filhos presos num hotel quando vão esquiar nos Alpes na França, depois de uma assustadora avalanche tomar o local.  Hóspedes se machucam, uns ficam receosos com novos casos de desmoronamento de neve, e aquela família, aparentemente em paz, entra em colapso. O incidente provoca no casal uma série de desentendimentos, discussões calorosas, conversas por meio de ironias e exposições na mesa para desconhecidos. A avalanche não representa apenas o fenômeno da natureza, vai além, o do declínio do casamento.
No meio da delicada temática, somos invadidos por lindas paisagens da neve dos Alpes, numa fotografia belíssima de Fredrik Wenzel – grande parte da filmagem ocorreu em estações de esqui de Les Arcs, Savoie (França), na temporada de gelo. E sem falar da trilha sonora, de Ola Fløttum, magnânime!
Uma obra autoral de um cineasta sueco de destaque no atual mundo do cinema de arte, Ruben Östlund, que fez “Involuntário” (2008) e “The Square – A arte da discórdia” (2017 – ganhador da Palma de Ouro), e que novamente volta a trazer personagens egoístas, mentirosos e em declínio moral. Ele também assina o roteiro ponta-firme (com humor ácido e diálogos afiadíssimos).

Força maior (Force Majeure/ Turist). Suécia/ França/ Noruega/ Dinamarca, 2014, 119 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Ruben Östlund. Distribuição: California Filmes

 
O ídolo

O garoto Mohammed Assaf (Kais Attalah) sonha em ser um cantor famoso. Abandona a cidade onde mora, Gaza, uma região tomada por guerras, e foge sozinho para o Egito, para tentar a carreira musical. Anos se passam, depois de muito lutar ganha o “Arab Idol”, principal programa de música para descobrir novos talentos, tornando-se rapidamente ídolo do mundo árabe.

Cativante drama palestino, coproduzido em outros seis países (como Holanda e Inglaterra), que nada mais é que a honestíssima biografia de Mohammed Assaf, um jovem cantor que lutou horrores para ascender na música e como recompensa venceu em primeiro lugar o disputado programa televisivo Arab Idol, a versão árabe de “American Idol”. Sonhador, quando pequeno teve um grupinho musical com a irmã e uma amiga, detentor de uma voz poderosa. Chegou a cantar em festas de casamento, dedicando-se da infância à adolescência (o filme retrata sua trajetória entre 2005 a 2013), de corpo e alma para tentar trabalho real na música – por morar em Gaza, uma região controlada, de eternos conflitos bélicos, fugiu para um país mais aberto, o Egito, onde as condições eram mais favoráveis.
A história de Assaf é inspiradora, de superação, e conta com um ótimo protagonista na frente das câmeras, Tawfeek Barhom (ele na fase adulta). Pra dizer a verdade, todo o elenco brilha e é simpático, com rostinhos amigáveis, como Kais Attalah (o Assaf criança), a garotinha Hiba Attalah (a melhor amiga dele), e participações especiais da atriz e diretora Nadine Labaki e dos astros Ali Suliman e Ashraf Barhom. No desfecho prepare os lencinhos para cenas reais da premiação de Assaf, na época acompanhada pela TV por milhões de pessoas no mundo árabe.
Dois dramas do diretor israelense Hany Abu-Assad foram indicados ao Oscar de filme estrangeiro, “Paradise Now” (2005) e “Omar” (2013), e este era para ter sido também – era o indicado da Palestina para disputar uma vaga no prêmio da Academia, mas não prosseguiu. Foi indicado em Rotterdam e exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP, onde assisti pela primeira vez em 2016 (e agora revi em DVD). Assista e inspire-se com essa linda história!

O ídolo (Ya tayr el tayer). Holanda/ Inglaterra/ Qatar/ Argentina/ Egito/ Palestina/ Emirados Árabes, 2015, 98 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Hany Abu-Assad. Distribuição: California Filmes

Nenhum comentário: