segunda-feira, 21 de abril de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming – Parte 3

 
Mente perturbada
 
Com forte mercado consumidor de cinema, China e Hong Kong despontam na lista dos maiores produtores de filmes do mundo. Em 2024, os dois países realizaram 800 filmes, boa parte deles de ação e terror, gêneros que atraem o olhar do numeroso público jovem.  Porém, os filmes circulam mais na Ásia, e nós, aqui no Brasil, temos menos acesso às produções. Nos últimos anos a Netflix e os festivais de cinema feitos no Brasil trazem em sua programação fitas chinesas e honconguesas, como é o caso desse bom exemplar de horror psicológico ‘Mente perturbada’ (2023) – disponível para aluguel ou compra em streamings como Prime e AppleTV. É também um drama familiar com elementos místicos da cultura chinesa. São sete dias na vida de um jovem que retorna para Hong Kong, sua cidade natal, para visitar a mãe gravemente hospitalizada. Ele se hospeda no apartamento onde cresceu, localizado num condomínio suburbano antigo. Aos poucos, estranha a vizinhança e começa a ter visões sobrenaturais, de vultos pretos, principalmente à noite. Certo dia, acolhe um garotinho, que mora com a mãe no prédio, e descobre que ele também vê fantasmas. Com o tempo a relação dos dois personagens se fortalece, e entendemos o passado do protagonista, repleto de angústia e medo devido às visões que tem desde criança. Misturando drama, terror e suspense, o filme honconguês tem clima assustador, com tom sobrenatural, reforçado pelos cenários claustrofóbicos, dentro de um condomínio sujo, de quartos pequenos, onde as pessoas não são o que aparentam. Chama a atenção o elenco, com os veteranos Tai-Bo, de ‘Police story’ (1985), e Yuk Ying Tam, de ‘Infiltrado’ (2016), e de uma atriz que nunca mais vi, a chinesa Bai Ling, que fez carreira em seu país, mas nos anos 90 participou de grandes produções americanas, como ‘O corvo’, Justiça vermelha’ e ‘Anna e o rei’.
 

 
Limonov: O camaleão russo (2024)
 
Conheci o cinema do russo Kirill Serebrennikov na Mostra Internacional de Cinema de SP, em 2018, quando assisti à empolgante biografia musical ‘Verão’ (2018), premiada em Cannes. Impressionei-me pela narrativa desconstrutiva e o visual excêntrico, um preto-e-branco invadido por letreiros e balões coloridos. Fiquei atento a esse diretor, também roteirista de seus filmes, pouco falado no Brasil – ele tem 55 anos, produziu clipes musicais de bandas russas dos anos 90, e seu primeiro trabalho apresentado no Brasil foi o anterior a ‘Verão’, o drama ‘O estudante’ (2016). Não parei mais de ver seus trabalhos – ele lança um longa por ano, e depois de ‘Verão’ vieram ‘A febre de Petrov’ (2021), ‘A esposa de Tchaikovsky’ (2022) e ‘Limonov: O camaleão russo’ (2024), todos exibidos no Festival de Cannes e com exibição nos cinemas do Brasil. ‘Limonov’ é seu filme mais anárquico, com uma trama voraz, uma biografia do escritor, poeta e jornalista nascido na União Soviética, num território hoje ucraniano, Eduard Veniaminovich Limonov (1943-2020), que se envolveu com política e chegou a ser banido da Rússia. De ideias radicais e libertárias, tido como delinquente por alguns, Eddie, como era chamado, teve uma vida agitada, na Rússia e em outros países onde morou – o filme acompanha as peripécias dele pelo mundo. O britânico Ben Whishaw, um ator camaleônico, que interpreta papeis inusitados, fora do eixo, entra com tudo no papel de Limonov, com uma verve explosiva misturando humor, insensatez e melancolia, tudo o que rondava o interior desse autor russo inconformado com o mundo, que produzia seus textos críticos a partir dessa frustração. Limonov integrou o movimento Konkret dos anos 60, depois foi para o punk, teve muitas mulheres, e na década seguinte, no exílio nos Estados Unidos, trabalhou como mordomo e, numa passagem polêmica do filme, foi morar nas ruas com mendigos, onde teve caso com um deles. Mudou-se para Paris nos anos 80, trabalhou com jornalismo de moda, e com a queda do Muro de Berlim, voltou para a Rússia, onde fundou um partido de orientação bolchevique, virando ídolo dos jovens. Político, engajado, é um filme cáustico, com uma atuação soberba de Whishaw, que faz um trabalho sério, que conta com muitos, mas muitos diálogos. E o diretor traz seus elementos técnicos, com passagens em preto-e-branco e letreiros coloridos em stop-motion.
Baseado no livro best-seller de Emmanuelle Carrère, publicado em 2011, está nos cinemas pela Pandora Filmes, que vem lançando nas salas bons filmes de festivais e de gêneros variados – só nesse ano foram ‘Girassol vermelho’, ‘Quando chega o outono’, ‘Máquina do tempo’, ‘A voz que resta’, ‘Trilha sonora para um golpe de Estado’, ‘Redenção’ e ‘Encontro com o ditador’.
PS - O próximo filme do diretor será apresentado em Cannes em maio desse ano, ‘The disappearance of Josef Mengele’ (2025).

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Nota do blogueiro

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