segunda-feira, 17 de abril de 2023

Cine Cult



O colecionador de almas


Wendy (Chelsea Field) foge do marido abusivo e de carro segue sem destino pelas estradas de um deserto. Dá carona a um misterioso homem, Hitch (Robert John Burke), um andarilho solitário que tira fotos das pessoas com quem cruza. Procurado pela polícia, ele caça indivíduos problemáticos para envolvê-los em rituais sangrentos.

Rodado nos desertos da Namíbia e em cidades da África do Sul, o terror independente é uma experiência sensorial incrível, que há tempos eu não sentia. Graças à fotografia deslumbrante, toda alaranjada que reforça o calor do deserto, e muita poeira. O lugar é como se fosse a entrada para o inferno, de onde surge um misterioso andarilho à espreita de pessoas perdidas para levar a alma delas (a fotografia é do diretor de fotografia de “Highlander 3, o feiticeiro”, Steven Chivers). O roteiro, modesto na forma, mas místico no conteúdo, com momentos assustadores e outros bem chocantes com os rituais sangrentos, é do roteirista sul-africano Richard Stanley, que também dirige a fita, responsável por pelo menos dois filmes de terror independentes e criativos: “Hardware: O destruidor do futuro” (1990), que mistura ficção científica, com Dylan McDermott, e o recente “A cor que caiu do espaço” (2019), baseado num conto de H.P. Lovecraft, com Nicolas Cage e Joely Richardson.
Os elementos técnicos/gráficos desse filme (lançado em 1992, e praticamente apagado da memória do público), ganham nova dimensão na excelente cópia em DVD da Obras-primas do Cinema, que o lançou há poucos meses. A versão disponível em DVD é a ‘Final cut’, o corte final, de 108 minutos, com sete minutos a menos do que aquela que saiu nos cinemas (de 115 minutos); houve depois outro corte, lançado na França, Itália e EUA, de 87 minutos, com menos violência, e por fim o corte do diretor, com 103 minutos.





Robert John Burke, de “Robocop3” (1993) e “A maldição” (1996), incorpora com nítida entrega a figura central de um “Dust devil”, uma espécie de espírito do mal que assume formas diferentes, e caminha pelas estradas caçando gente. Chelsea Field, atriz de fitas populares nos anos de 1980 e 1990, como “Mestres do universo” (1987) e “O último boy scout” (1991), também se destaca como a mulher que foge do marido abusivo e terá um terrível encontro com o protagonista. No elenco, participações de coadjuvantes curiosos, dentre eles a alemã Marianne Sägebrecht, de “Bagdad Café” (1987), e dois atores sul-africanos, John Matshikiza, de “Um grito de liberdade” (1987), e Zakes Mokae, de “A maldição dos mortos-vivos” (1988) – Mokae interpreta um papel importante, de um sargento que tem premonições envolvendo o andarilho e as mortes cometidas por ele.
“O colecionador de almas” concorreu a prêmios nos principais festivais de terror, como Avoriaz, Fangoria e Fantasporto.
Conheçam essa preciosidade do cinema cult de terror, uma coprodução África do Sul e Reino Unido.

O colecionador de almas (Dust devil). Reino Unido/África do Sul, 1992, 108 minutos. Terror/Suspense. Dirigido por Richard Stanley. Distribuição: Obras-primas do Cinema

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