sexta-feira, 14 de abril de 2023

Cine Cult


Lola Pater


Zino Chekib (Tewfik Jallab) tem 27 anos e não sabe quem é seu pai. Ele o abandonou ainda criança. A mãe morreu há pouco tempo, e Zino, por causa de uma herança, decide procurar pelo genitor, que hoje mora na Argélia. Ao chegar lá descobre que o pai, Farid, é uma mulher trans, uma professora de dança independente, de nome Lola Pater (Fanny Ardant).

A distribuidora Imovision, fundada no Brasil em 1987, foi uma das porta-vozes em trazer aos cinemas do nosso país fitas de arte francesas numa época em que o cinema americano dominava. A partir da metade dos anos 2000, investiu em lançamentos de filmes de outros países não só nos cinemas como também em DVD e bluray para os colecionadores, o que faz muito bem até hoje! E todos os lançamentos da Imovision pertencem ao circuito independente, quase não vemos esses filmes em TV aberta ou no streaming. Em 2021, no auge da pandemia, a distribuidora, para concorrer com diversos streaming que se popularizam no período, lançou sua plataforma online, de assinatura, o “Reserva Imovision”, em parceria com o Reserva Cultural, louvável cinema de rua de São Paulo que ainda resiste e é mantido pelo grupo da Imovision. Explico tudo isso por dois motivos: o filme que comentarei, “Lola Pater” (2017), está tanto no Reserva Imovision para quem quiser assisti-lo (é necessário assinar um plano) quanto disponível em DVD – há milhares de colecionadores de DVDs e Blurays no Brasil (eu sou um deles), e a Imovision não desistiu da mídia física, o que é extremamente positivo!
Não vi “Lola Pater” no cinema, pude conferir o filme somente agora, em DVD. E é uma das grandes produções franco-belgas dos últimos anos. Que história bonita, delicada e humana, com sabor de Almodóvar!
Escrito e dirigido pelo francês descendente de marroquinos Nadir Moknèche, de “Goodbye Morocco” (2012), conta com uma das mais belas interpretações de Fanny Ardant, estrela do cinema francês nos anos de 1980 e 1990, de “A mulher do lado” (1981) e “De repente num domingo” (1983). Com 68 anos à época, ela se desafia num personagem original, cheio de camadas, entregando um papel emocionante e sensível como uma mulher trans (o filme causou falatório na França por não terem convidado uma atriz trans, e hoje o cinema é mais criterioso nas escolhas do elenco pensando na diversidade sexual e na inclusão). No passado, Lola era Farid, um homem de origem argelina, que teve um filho e o abandonou, retornando à terra natal. Nunca mais teve contato com a família e mudou de sexo e identidade, chamando-se Lola, que atualmente trabalha como professora de dança. O filho, Zino, de 27 anos, marca então um encontro com ela para discutirem uma herança e resolverem pontos que ficaram abertos.



Exibido no Festival de Locarno, o filme é bem simples na forma, trata de reconciliação, e o ator Tewfik Jallab, de “A marcha” (2013), que interpreta Zino, tem um bom desempenho como um jovem dividido entre momentos de dor, frustração, alegria e alívio. Jallab e Fanny complementam um ao outro, tornando o resultado do filme eficiente e ao mesmo tempo surpreendente.

Lola Pater (idem). França/ Bélgica, 2017, 95 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Nadir Moknèche. Distribuição: Imovision

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