sábado, 24 de dezembro de 2022

Resenhas especiais


Especial: Coleção ‘Cruz de ferro’



A cruz de ferro

Em 1943, no auge da Segunda Guerra, Rolf Steiner (James Coburn) é promovido a sargento e recebe a dura missão do capitão Stransky (Maximilian Schell) de localizar a cruz de ferro de um tenente morto em combate. Para satisfazer a vontade do chefe, Steiner desloca um grupo de homens destemidos, sem saber o que encontrará pelo caminho.

Sam Peckinpah (1925-1984) dirigiu com muita dificuldade esse filme de guerra violento, considerado por Orson Welles um dos melhores do tema já produzidos no cinema. O diretor de obras-primas como “Meu ódio será sua herança” (1969) e “Sob do domínio do medo” (1971) demorou para levantar recursos financeiros para o projeto, e estava consumido pelo álcool (Peckinpah era viciado em bebida). Mas nada disso atrapalhou a conclusão desse filme visceral, produzido no Reino Unido e na Alemanha Ocidental e rodado na antiga Iugoslávia. A complexa trama, baseada no livro do alemão Willi Heinrich, traz um sargento recém-nomeado que recebe a missão quase suicida de satisfazer o ego de um melancólico capitão nazista, de obter a cruz de ferro de um tenente morto. Vale destacar que a tal cruz de ferro era uma condecoração militar única e preciosa, originalmente do Reino da Prússia e depois utilizada no Império Alemão e objeto de desejo no Terceiro Reich, exclusiva dos tempos de guerra. Receoso quanto à missão, o sargento reúne homens para se jogar no front para encontrar a almejada cruz.



Com cenas típicas do diretor, de tiros e mortes em câmera lenta (característica fecunda do cineasta), e um vasto material de arquivo (vídeos e fotos da Segunda Guerra Mundial, no caso), tem um humor cínico e reviravoltas marcantes. Quebra o estereótipo dos nazistas vilões para mostrá-los como soldados quaisquer em meio à dureza de uma guerra. Fala da truculência dos inimigos (no caso os soviéticos e os americanos) e das artimanhas de sobrevivência no meio do caos. Um dos mais complexos personagens da história é o capitão Stransky (interpretado pelo ótimo Maximilian Schell), um homem já cansado da guerra que envia a tropa atrás da cruz somente para satisfazer seu ego e honrar o nome da família (e também de ganhar mais um item para sua coleção particular).
Complementam o time de astros e estrelas James Coburn, James Mason, David Warner e Senta Berger. Teve uma continuação dois anos depois, “Ruptura das linhas inimigas” (1979), com novo diretor (Andrew V. McLaglen) e elenco (incluindo Richard Burton, Rod Steiger e Robert Mitchum) – é uma fita regular de ação e guerra, com bons momentos, aflitiva, mas inferior ao original.
Saiu em diversas edições em DVD no Brasil e recentemente a melhor delas foi disponibilizada ao público, a da Classicline, com metragem estendida, de 132 minutos – a mais comum de se ver é a de cinema exibida nos EUA, de 119 minutos. A Classicline também relançou o filme, mês passado, numa caixa em disco triplo (3 DVDs), chamada “Coleção Cruz de ferro”, contendo tanto o filme de 1977 quanto a continuação, “Ruptura das linhas inimigas”, esse em duas versões (a versão americana, chamada aqui de ‘estendida’, de 111 minutos, e a compacta, com 83 minutos, exibida na TV brasileira, com dublagem da época).

A cruz de ferro (Cross of iron). Reino Unido/Alemanha, 1977, 132 minutos. Guerra. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Sam Peckinpah. Distribuição: Classicline (DVD de 2022)


Ruptura das linhas inimigas


Em 1944, oficiais nazistas são acusados de uma conspiração para matar Adolf Hitler com o objetivo de colocar fim à guerra. Um oficial alemão é incumbido então de entrar nas linhas inimigas para comunicar o plano aos americanos.

Exibido na TV brasileira como “Missão: Assassinar Hitler”, esse filme de ação e guerra de 1979, pouco lembrado pelo público, é a continuação de “A cruz de ferro” (1977), uma grande fita de guerra do violento e polêmico cineasta norte-americano Sam Peckinpah (de “Meu ódio será tua herança” e “O casal Osterman”). Aqui é outro diretor, o britânico Andrew V. McLaglen, de fitas de faroeste e ação populares nos anos 60 e 70, como “Heróis do inferno” (1968, com John Wayne) e “Selvagens cães de guerra” (1978, com Richard Burton), que mesmo sem as artimanhas estéticas de Peckinpah, conseguiu realizar um filme dramático, aflitivo, inspirado em fatos verídicos (foram inúmeros atentados contra Hitler no curso da História, de aliados a opositores, e o mais famoso foi a Operação Valkyria, que virou filme duas vezes). Há sequências tensas de bombardeios e tiros, bem realizados, e a cada momento surge algo diferente na trama, que coloca os personagens em risco constante nas linhas inimigas.
Curioso que é uma sequência de “A cruz de ferro”, mas com poucas referências ao anterior: retornam dois personagens fundamentais, o sargento Steiner (antes papel de James Coburn, agora de Richard Burton) e o major Stransky (Maximilian Schell foi substituído por Helmut Griem), e é o mesmo produtor, o alemão Wolf C. Hartwig. Só! O restante é novo: nova história, novos atores, nova direção.




O elenco é repleto de nomes notórios – além de Burton, tem Rod Steiger, Robert Mitchum, Curd Jürgens Michael Parks e Klaus Löwitsch. E outra curiosidade: como a produção é alemã (rodado na Áustria), e o filme foi feito para ser vendido na Alemanha, os atores americanos foram dublados, em alemão! Saiu mês passado em DVD no Brasil na coleção “Cruz de ferro”, pela Classicline, em disco triplo: tem a versão original (de 132 minutos) de “A cruz de ferro” (1977) e duas versões de “Ruptura”: a estendida (de 111 minutos, que é a versão americana) e a compacta (com 83 minutos, exibida na TV brasileira e com dublagem em português). Vale ver!

Ruptura das linhas inimigas (Steiner - Das eiserne kreuz, 2. Teil/ Breakthrough). Alemanha, 1979, 111 minutos. Guerra. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Andrew V. McLaglen. Distribuição: Classicline (DVD de 2022)


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