sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Especial de Cinema


Os melhores filmes da 46ª Mostra Internacional de Cinema de SP – parte 01

A edição 2022 da Mostra de Cinema de SP continua até dia 02/11, em 15 cinemas da capital e em duas plataformas online (Sesc Digital e SP Cine Play). Confira drops com rápidos comentários dos melhores filmes desse ano da Mostra.

 


Nada de novo no front (Alemanha/EUA/Reino Unido, 2022, de Edward Berger)

A Mostra fez a premiére brasileira do novo filme de guerra da Netflix (no dia 21/10), que entrou hoje na plataforma. Essa é a terceira adaptação para o cinema do livro de memórias de Erich Maria Remarque, que lutou nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial como soldado alemão no front ocidental. O filme, muito bem realizado, com apuro técnico e cenas grandiosas de guerra, acompanha a tortuosa jornada do soldado novato no meio de um conflito que matou milhares de pessoas. Tem Daniel Brühl no elenco.

 


Luxemburgo, Luxemburgo (Ucrânia, 2022, de Antonio Lukich)

Um dos melhores filmes da Mostra desse ano, a comédia dramática ucraniana que se passa em Luxemburgo traz uma inusitada história real: dois irmãos gêmeos, um policial e outro motorista de caminhão, viajam para ver o pai doente num hospital. Mas não sabem se quem irão encontrar é mesmo quem eles procuram. A edição é primorosa, o roteiro tem sacadas brilhantes e o humor é inteligente. Indicado ao Venice Horizons no Festival de Veneza, terá exibição presencial em SP ainda no 31/10.

 

Triângulo da tristeza (Suécia/França/Reino Unido/Alemanha, 2022, de Ruben Östlund)

 

Num cruzeiro de luxo, um jovem casal de modelos viaja com figuras excêntricas, como um oligarca russo e um casal de velhinhos que vendiam armas em guerras passadas. O comandante do navio é alcoólatra e está há dias trancado em seu quarto. Até que uma tempestade em alto-mar faz com que o rumo da viagem mude drasticamente, culminando numa noite de pesadelos, com vômitos e mortes. Ainda estou digerindo esse filme levado às últimas consequências pelo diretor de “Força maior” e “The square”, e que venceu a Palma de Ouro em Cannes esse ano. Sem concessão, lança uma série de críticas ao mundo do fashionismo, da elite decandente, dos tempos de redes sociais e da alta gastronomia. Um barato (ah, prepare-se para cenas escatológicas!). Exibição presencial ainda em SP nos dias 28/10 e 02/11.

 


Os anos do Super 8 (França, 2022, de Annie Ernaux)

Indicado ao Golden Eye em Cannes, o doc é dirigido pela recém-ganhadora do Nobel de Literatura, Annie Ernaux. Aqui ela resgata filmes caseiros em super 8 para contar a história de sua família, filhos, casamento e viagens, como se fosse um autêntico livro de memórias bem pessoais. Narrado por ela, é uma obra delicada, íntima e feminina, que ganhou elogios do público não só da Mostra de SP mas de grande parte dos festivais por onde passou (como Cannes, Busan, Roma, NY e Zurique). Exibição presencial em SP ainda nos dias 28 e 30/10.

 

Alcarràs (Espanha/Itália, 2022, de Carla Simón)

 

Vencedor do Urso de Ouro em Berlim, o drama espanhol conta a história de uma família que cultiva pêssegos no interior da Espanha que vê seus dias contados quando são ameaçados de despejo. No local pretende-se instalar placas para energia solar, e a família terá de se mudar. Enquanto lutam para permanecer no local, os pais trabalham e as crianças vivem uma vida feliz no vilarejo de Alcarrás. Gostei muito dessa fita de arte bonitinha, agradável, toda rodada nos campos da Catalunha, com personagens fáceis de nos identificarmos (e torcermos por eles). As crianças são adoráveis, há momentos de humor e drama bem dosados, e um gancho atualíssimo, sobre o embate de pequenos agricultores com as majors que querem a todo custo expandir seus negócios. Exibição presencial em SP ainda no dia 31/10.

 


Você tem que vir e ver (Espanha, 2022, de Jonás Trueba)

 

Numa viagem por Madrid e pelo interior da Espanha, dois casais discutem a essência da vida, seus modos de enxergar o mundo e as crises que rondam cada um. Curtinho (com apenas 65 minutos), é um filme sincero de um jovem diretor, Jonás Trueba, que aprendeu muito com o pai, o notório Fernando Trueba (de “Sedução”). Jonás soube trazer à tela as controversas relações humanas, com diálogos poderosos e uma história universal. Vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Karlovy Vary, terá exibição presencial em SP no dia 29/10, e está online (gratuito) no Sesc Digital até dia 02/11.

 

Hamlet (Brasil, 2022, de Zeca Brito)

 

Documentário sobre a crise no mundo da política brasileira a partir de 2016, com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (ou o golpe, como quiserem). O diretor gaúcho Zeca Brito, de “O guri” e Legalidade”, foca seu mais novo filme nas manifestações dos estudantes secundaristas que se juntaram aos movimentos sociais para tomar as ruas quando do golpe em 2016, trazendo os desdobramentos desse caos, como a eleição de Bolsonaro em 2018. Ao mesmo tempo, num teatro, Hamlet, o notório personagem de William Shakespeare, procura espaço na sociedade – ele está atormentado pela pergunta “ser ou não ser?”. Rodado em preto-e-branco, é um filme que deve ser visto e discutido.


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