domingo, 17 de julho de 2022

Cine Cult


Boi neon

Iremar (Juliano Cazarré) trabalha nas vaquejadas, preparando os bois para soltá-los na arena. Ele mora com um grupo de pessoas em um caminhão. Sua melhor amiga é Galega (Maeve Jinkings), que tem uma filha pequena. A instalação de fábricas têxteis na região faz despertar um sonho em Iremar, o de se tornar costureiro. Mesmo acostumado com a rotina das vaquejadas, tentará buscar esse novo trabalho.

Um bom filme brasileiro autoral sobre o universo e os bastidores das vaquejadas, aquela espécie de rodeio no Nordeste brasileiro, entendida por alguns como em esporte popular, em que os vaqueiros, montados em cavalos, tentam derrubar bois em uma arena puxando-os pelo rabo. O filme é tomado por personagens errantes, vivendo à margem no sertão brasileiro, em busca de novos trabalhos e melhores condições de vida. Um deles é Iremar (o sempre correto e austero Juliano Cazarré), que sonha em ser costureiro - e quando descobre a instalação de indústrias têxteis na região, tenta conseguir um emprega lá. É nesse ponto que o longa também trata da industrialização no semiárido brasileiro, um ambiente duro e cruel, onde sonhos e desilusões se misturam gerando um reflexo autêntico da realidade brasileira atual. Ele é drama, com romance e um lado de road movie, com cenas de viagens de caminhão, tudo conduzido com maestria pelo cineasta pernambucano Gabriel Mascaro (aliás, um exímio documentarista e artista plástico, consagrado com suas instalações). Ele é um mestre da linguagem. Transpõe para a tela imagens fortes, com uma estética diferenciada, e aqui é onde encontramos seu melhor trabalho (há cenas memoráveis, como a do tal boi neon, e outras eróticas, em especial a de uma personagem vestida com cabeça de cavalo e roupas de couro e lantejoulas que se apresenta num clube noturno). Há outros longas bons de Mascaro que recomendo, como “Ventos de agosto” (2014) e “Divino amor” (2019).


Em “Boi neon” participam Juliano Cazarré e Maeve Jinkings, e participações rápidas de Vinicius de Oliveira (o garotinho de “Central do Brasil”) e Roberto Birindelli, além da menina Alyne Santana (que tem um papel impressionante, e infelizmente não fez mais nada no cinema nem na TV). É um filme de autor, repleto de sequências simbólicas e poderosas, numa trama lenta, com um forte lado humano.
O roteiro é de Mascaro com colaboração de Marcelo Gomes, diretor e roteirista de filmes que tem particularidades e semelhanças com “Boi neon”, como “Cinema aspirinas e urubus” (2005, no caso o pano de fundo, semiárido), “Viajo porque preciso, volto porque te amo” (2009, o caminhão e o road movie) e “Estou me guardando para quando o carnaval chegar” (2019, com a questão da costura e a indústria têxtil).


Vencedor de dezenas de prêmios em festivais como Cartagena, Hamburgo, Havana, Nantes, Rio de Janeiro e do Sesc Melhores filmes – e ainda teve menção honrosa no Tiff (Toronto) e prêmio especial do Júri na mostra Venice Horizons, no Festival de Veneza.

Boi neon (Idem). Brasil/Uruguai/Holanda, 2015, 103 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Gabriel Mascaro. Distribuição: Imovision

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