sexta-feira, 16 de abril de 2021

Cine Especial


A visita


Dois irmãos vão passar uma breve temporada na casa dos avós, com quem nunca tiveram contato, enquanto a mãe faz uma viagem. Isolados numa antiga fazenda na Pensilvânia, Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) percebem que há algo errado com os idosos, que impõe estranhas regras na casa e aos poucos se tornam violentos.

Com o megasucesso (de crítica e de bilheteria) de “O sexto sentido” (1999), o cineasta indiano M. Night Shyamalan, que pelo filme recebeu duas indicações ao Oscar (melhor diretor e roteiro original), era a promessa para dar novos rumos ao cinema de horror na virada do século. Não é segredo nenhum, mas isso nunca se concretizou... pelo contrário, o diretor foi se desintegrando perante aos olhos do público e dos críticos a cada nova produção lançada, onde tentava reinventar subgêneros, sempre com qualidade ora duvidosa ora péssima (depois de “O sexo sentido”, vieram, cronologicamente, “Corpo fechado” e “Sinais”, que ainda tinham algo de interessante ali, porém depois só se envolveu em tremendas furadas, vide “A vila”, “A dama na água”, e os lastimáveis “Fim dos temos”, “O último mestre do ar” e “Depois da Terra”). Enquanto via a decadência acentuada, recebia uma chuva de indicações ao Razzie Awards (o prêmio para os “piores do ano”), inclusive seus filmes deixaram de ser acompanhados nos cinemas.


Pois bem, após uma década de inferno astral, “A visita” (2015) foi o retorno triunfante do diretor ao ‘cinema de gênero’. Parece que reaprendeu a fazer cinema, mesmo com uma história meio gasta nas produções hollywoodianas.
Shyamalan recuperou o prestígio, afirmando, em entrevistas, que a qualidade de “A visita” está ligada à sua autonomia no corte final, sem seguir as imposições dos estúdios – o fez ao lado do produtor Jason Blum, da Blumhouse, produtora de fitas de terror como “A morte te dá parabéns”, “Corra!” etc. É seu filme mais barato (U$ 5 milhões), e no mundo acumulou U$ 100 milhões de bilheteria, o que o fez juntar grana para as duas produções seguintes, mantendo o cinema de autor pós-moderno, com sua inventividade e convenções, numa história que nos prende até o fim (são elas “Fragmentado” e “Vidro”, que encerravam uma trilogia iniciada em “Corpo fechado”).
“A visita” é basicamente um conto de fadas de horror, gravado sob a perspectiva (em primeira pessoa) de um pré-adolescente com uma câmera caseira (um “found footage”, ou seja, um filme gravado por alguém, e depois é descoberto, e naquele material há fatos macabros). O garoto, isolado na fazenda com a irmã mais velha, e com os avós desconhecidos, ficará frente a frente de situações desesperadoras quando os idosos, com traços de senilidade, vão se mostrando grosseiros, violentos e perturbados. É, por si só, uma fita de sobrevivência com ocorrências levadas ao extremo.
Segure-se na cadeira, pois há jumpscares e um final bem sinistro. Também há humor para suavizar a trama excitante de medo, com o garoto protagonista fazendo rap e gravando tudo o que vê para seu documentário experimental. Dica: assista ao filme em DVD, pois há, nos extras, um final alternativo.


Shyamalan criou uma atmosfera perturbadora, fez uma trama cheia de fatos inusitados e exóticos, com aparições noturnas que provocam aflição. É uma fita de consumo rápido para quem gosta do gênero, num dos poucos filmes em que ele não aparece como ator numa ponta, e um dos poucos que não recebeu indicação ao Razzie Awards. Ele agora está à frente de um novo trabalho de suspense, “Old” (com Gael García Bernal), previsto para estrear em julho de 2021. Vamos aguardar torcendo para que ele não caia de novo em desgraça!

A visita (The visit). EUA, 2015, 93 minutos. Horror. Colorido. Dirigido por M. Night Shyamalan. Distribuição: Universal Pictures

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