quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Resenhas especiais


Duas resenhas especiais, de filmes lançados em DVD recentemente pela Obras-primas do Cinema.

Um romance muito perigoso

Ao descobrir a traição da mulher, o engenheiro Ed (Jeff Goldblum), que sofre de crises de insônia, dirige à noite pelas ruas em seu carro. Acaba dando carona a uma modelo, Diana (Michelle Pfeiffer), que está em fuga. Ela é perseguida por criminosos que mataram seu marido. Juntos, Ed e Diana seguem uma longa jornada noite adentro para escapar dos bandidos.

Clássica aventura oitentista, engraçada e com ótimas cenas policiais, com Jeff Goldblum um ano antes de ficar famoso em ‘A mosca’ (1986), e Michelle Pfeiffer recém-lançada no cinema. É uma aventura tresloucada e infernal que cruza uma noite inteira, de um engenheiro traído e insone e uma desconhecida perseguida por perigosos bandidos. A dupla tem de escapar de balas, facas, explosões.
Aos poucos a história dos dois é revelada – ele foi traído pela esposa e vive cansado de tudo, e ela, uma ex-atriz, casada com um mafioso ligado a roubo de joias, que acaba assassinado e, por consequência, vira alvo da vez. Na noite, em fuga, eles cruzam com pessoas estranhas, como se fosse um sonho interminável, e não contam com ajuda de ninguém.
O diretor John Landis, de ‘Um lobisomem americano em Londres’(1981), recrutava, em seus filmes, nomes de destaque, em participações pequenas, e costumava ele mesmo pintar como ponta – aqui interpreta um dos quatro bandidos que perseguem a protagonista. Contei mais de 20 aparições rápidas, como os diretores Paul Mazursky, Richard Franklin, Colin Higgins, Daniel Petrie, Jack Arnold, Lawrence Kasdan, Jim Henson, Jonathan Lynn, Jonathan Demme, Roger Vadim, Amy Heckerling, Don Siegel e David Cronenberg, além de coadjuvantes como David Bowie (no papel de um homem misterioso), Irene Papas (como a matriarca do crime), Clu Gulager (um agente da polícia), Vera Miles, Richard Farnsworth, Dan Aykroyd e Bruce McGill. Espere tudo desse roteiro frenético de Ron Koslow, que escreveu pouco, e antes havia roteirizado os dramas ‘Verão de ilusões’ (1976) e ‘Quando se perde a ilusão’ (1984).




O papel central, de Jeff Goldblum, seria de Jack Nicholson e depois de Gene Hackman, e o da garota, de Jamie Lee Curtis. No mesmo ano, Martin Scorsese lançou uma fita de aventura e humor muito parecida, ‘Depois de horas’, sobre uma noite maluca pelas ruas de Manhattan, quando um rapaz (Griffin Dunne) resolve ir atrás de uma jovem atraente (Rosana Arquette) que conheceu num café - porém tudo dá errado, e o personagem também passará por apuros, como sequestro, perseguições etc.
Lançado em DVD pela Obras-primas do Cinema, apenas com um extra, muito bacana por sinal, que é uma entrevista atual de 25 minutos com o diretor John Landis.

Um romance muito perigoso
(Into the night). EUA, 1985, 115 minutos. Comédia/Aventura. Colorido. Dirigido por John Landis. Distribuição: Obras-primas do Cinema



Vivendo no abandono

O diretor de cinema independente Nick Reve (Steve Buscemi) tenta, de todas as formas, terminar um filme de baixo orçamento, em meio a um set de filmagens maluco, com atores neuróticos e diversos problemas técnicos.

Premiado no Festival de Sundance e indicado ao Film Independent Spirit Awards, o segundo longa-metragem de Tom DiCillo – que antes havia dirigido Brad Pitt em ‘Johnny Suede’ (1991), é uma pérola do cinema alternativo/independente, que custou parcos U$ 500 mil e rapidamente se tornaria cult nos EUA. Aqui no Brasil passou despercebido na época – e confesso que fiquei sabendo da existência dele há pouco tempo.
É um filme metalinguístico por natureza, mostra os bastidores da gravação de uma fita pequena, de baixo orçamento. Quem assiste a making of de filmes, vai entender o jogo aqui criado e rir das piadas internas. Produzir um filme é difícil, e sem recursos financeiros, com atores complicados e uma direção sem pulso firme, piora. As situações no filme envolvem erros de marcação do elenco, atores que esquecem as falas, brigas entre eles, gente que se apaixona no set, irritação do diretor e equipamentos, como câmera, que pifam.
DiCillo, que realmente vinha do cinema independente, trouxe um mundo que conhecia bem com uma linguagem acessível e com humor para contar um dia numa gravação desastrosa. Elencou nomes em início de carreira que depois despontariam, como Steve Buscemi, no papel do diretor (um ano depois faria o excepcional ‘Fargo’), Dermot Mulroney, de ‘O casamento do meu melhor amigo’ (1997), como o diretor de fotografia com um tapa-olho, Catherine Keener, a atriz principal da produção – seria depois indicada a dois Oscars de coadjuvante, por ‘Quero ser John Malkovich’ (1999) e ‘Capote’ (2005), e Peter Dinklage, da série ‘Game of thrones’, como um mágico. DiCillo continua até hoje no cinema independente, realizou, por exemplo, ‘A chave da liberdade’ (1996, com John Turturro, Sam Rockwell e novamente Catherine Keener), ‘Uma loira de verdade’ (1997, com Daryl Hannah e Matthew Modine) e ‘Delírios’ (2006, com Steve Buscemi e Michael Pitt).


‘Vivendo no abandono’ saiu em DVD recentemente pela Obras-primas do Cinema, numa boa edição, com uma hora de extras, incluindo cena deletada, making of e entrevista do diretor e com Steve Buscemi.


Vivendo no Abandono (Living in oblivion). EUA, 1995, 89 minutos. Comédia/Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Tom DiCillo. Distribuição: Obras-primas do Cinema

Nenhum comentário: