sábado, 13 de novembro de 2021

Resenha Especial


Resenha escrita especialmente para o livreto da edição em bluray de "A bolha assassina" (1988), lançada pela Obras-primas do Cinema. O filme acaba de sair numa luxuosa edição de colecionador com luva numerada, em disco duplo - disco 1 com o filme em bluray e extras, e disco 2 com mais de três horas de extras, além do livreto de 32 páginas, três cards colecionáveis e pôster. 



A criatura gosmenta que veio dos céus

Por Felipe Brida*

Tremendo fracasso de bilheteria na estreia nos cinemas em 1988 (com orçamento de U$ 19 milhões, não rendeu nem U$ 9 milhões), rapidamente “A bolha assassina” virou um cult movie nos Estados Unidos, exibido zilhões de vezes na TV aberta tanto lá como no Brasil e ainda reúne fãs por todo o mundo.
Assustador, o emblemático filme é um terror com uma fórmula básica que pegava carona nas ideias estrambólicas do cinema scifi da década de 50, na linha das produções sobre criaturas vindas do espaço sideral que caçava os humanos. Aqui a criatura é uma estranha bolha dentro de um meteorito que cai numa pacata cidadezinha americana. Gosmenta, ela tem vida própria, arrasta-se para se locomover e precisa se alimentar de carne humana – à medida que come as pessoas, cresce numa velocidade absurda, cobrindo carros e destruindo tudo o que vê pela frente. Salve-se quem puder!
Autoproclamado entretenimento de terror com cara de filme B, tem baldes de absurdos e uma série de mortes inusitadas, algumas com direito à sangue explícito - em uma das cenas, a bolha entra pelo encanamento externo de um bar, chega pelo ralo da pia da cozinha e puxa uma vítima para dentro dos dutos, dissolvendo-a – isso mesmo, a gosma da bolha é mortal, derrete tudo que toca.


Para quem não sabe, o macabro longa-metragem é, na verdade, uma refilmagem de “A bolha” (1958), fita B scifi superdivertida com Steve McQueen em início de carreira, com roteiro praticamente idêntico da primeira para a segunda versão. A ideia original era de Irvine H. Millgate, com roteiro bolado por Theodore Simonson e pela atriz Kay Linaker; no remake, o roteiro passou por um novo tratamento, com subtramas paralelas, mortes escabrosas (no anterior nem morte tinha) e mais violência, assinado por Frank Darabont, que um ano antes estreava escrevendo “A hora do pesadelo 3: Os guerreiros dos sonhos” (1987), depois dirigiria dois clássicos modernos do cinema americano sobre prisão, “Um sonho de liberdade” (1994) e “À espera de um milagre” (1999), e por Chuck Russell, que também assina a direção (uma curiosidade, Darabont e Russell se conheceram em “A hora do pesadelo 3”, o primeiro era o roteirista e o segundo, diretor, e Russell, mais tarde, dirigiria um grande sucesso mundial do cinema, o inimitável “O Máskara” (1994).
É nostálgico assistir ao filme depois de tanto tempo! Ver, por exemplo, Shawnee Smith e Kevin Dillon novinhos, Candy Clark como uma garçonete (a atriz havia sido indicada ao Oscar por “Loucuras de verão”), veteranos do cinema como Del Close (no papel do padre misterioso), Jeffrey DeMunn (o xerife) e Joe Seneca, já falecido, como um cientista. As tramas paralelas conduzidas por esses múltiplos personagens se encaixam completando bem esse entretenimento marcante e empolgante, que gerou imitações – por exemplo, um ano depois, em “Os caça-fantasmas 2” (1989), aparece uma gosma rosa que invade os dutos da cidade, tem vida própria, sobe pelos prédios... coincidência, não?
Agora “A bolha assassina” pode ser conferida em grande estilo, em bluray, com o máximo de som e imagem (sem contar os inúmeros extras que vem num disco à parte, em DVD)! Vale lembrar que em fevereiro de 2020 a Obras-primas do Cinema tinha lançado o filme em DVD, no box “Sessão de terror anos 80 – Volume 1”, em disco duplo, contendo extras e cards; além de “A bolha assassina”, vinham os cultuados “O cérebro” (1988), “Palhaços assassinos do espaço sideral” (1988) e “Shocker – 100 mil volts de terror” (1989) – todos eles ganharam amplo espaço na TV, nos antigos Cine Trash, Cinema em Casa e outras sessões nos anos 90.
Agora você tem o seu exemplar em bluray em casa! Divirta-se!


* Felipe Brida é jornalista e crítico de cinema, autor do livro “Cinema em Foco: Críticas selecionadas” (2013). Como crítico de cinema, mantém o blog Cinema na Web (de sua autoria, fundado em 2008), a coluna semanal “Cinema em Foco” (no jornal O Regional) e a coluna mensal “Middia Cinema” (na Revista Middia), além dos quadros semanais “Mais Cinema” (na Nova TV/TV Brasil) e “Palavra do Especialista – Cinema” (rádio Câmara de Bauru). Atua como palestrante em festivais de cinema em todo o Brasil e presta trabalho como curador e júri em festivais de cinema. É professor de Cinema, Comunicação e Artes no Senac, Fatec e Imes Catanduva (cidade onde reside). É pós-graduado em Artes Visuais pela Unicamp e Gestão Cultural pelo Centro Universitário Senac SP, e mestrando em Comunicação e Artes pela PUC-Campinas. Para contato: felipebb85@hotmail.com

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