sábado, 15 de julho de 2023

Resenhas Especiais


A aparição


Numa cidadezinha do Arizona, um jovem é morto pelo líder de uma gangue. Tempos depois, um homem misterioso de capacete, roupas pretas e portando uma arma surge em um carro futurista. Ele vem desafiar os membros da gangue com o intuito de vingar a morte daquele rapaz.

Cultuado pelos jovens nos anos de 1980 e 1990, “A aparição” é uma fita scifi com terror e ação que mais parece um faroeste sobrenatural, uma mistura de “O estranho sem nome” (1973, de Clint Eastwood) com “O carro – A máquina do diabo” (1977, de Elliot Silverstein). Isso porque na trama um homem misterioso surge numa pequena cidade do Arizona para se vingar da morte de um rapaz, crime cometido por uma perigosa gangue de rua. Não se sabe a identidade desse cara, nem se ele é deste mundo; veste roupas pretas de couro com acessórios de metal, semelhante a um robô, usa um capacete que tapa inteiramente o rosto e os olhos, e porta uma arma destruidora. Paralelamente à vinda dele, chega à cidade um jovem em busca de um lar (Charlie Sheen, filho do astro Martin Sheen e irmão de Emilio Estevez, em início de carreira, meses antes de protagonizar “Platoon”, o clássico de guerra de Oliver Stone).
A trama fica célere com as brigas entre as gangues de rua e os rachas no meio da poeira e do deserto (com boas cenas de corridas de carro). A trilha é embalada em alta frequência por clássicos do rock’n roll, em que ouvimos Ozzy Osbourne e Lion, por exemplo. No elenco, além de Sheen, tem Nick Cassavetes (filho do cineasta John Cassavetes e da atriz Gena Rowlands, que viraria diretor depois), Sherilyn Fenn (atriz da série “Twin Peaks”), Randy Quaid (irmão mais velho de Dennis Quaid, de “A última missão”) e Clint Howard (de “Um sonho distante”).





Um dos pouquíssimos filmes dirigidos por Mike Marvin, que realizou mais séries televisivas e no mesmo ano de “A aparição” estreou com o popular besteirol “Hamburguer: O filme”.
Quem devorava filmes nas antigas sessões da tarde na TV nos anos 90 vai se lembrar de “A aparição”, agora lançado em DVD numa boa cópia pela Obras-primas do Cinema. No disco há 30 minutos de extras, além de capa dupla face e junto com um card com a capa original do filme.

A aparição (The wraith). EUA/Canadá, 1986, 93 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Mike Marvin. Distribuição: Obras-primas do Cinema


Ressurreição: Retalhos de um crime


Detetive do departamento de homicídios, John Proudhomme (Christopher Lambert) trabalha num complexo caso de um serial killer que mata homens levando consigo partes do corpo da vítima. No corpo das pessoas assassinadas, escreve versículos Bíblia e na parede, a inscrição “Ele está vindo”.

Derivado de “Seven: Os sete crimes capitais” (1995), com forte semelhança na trama (incluindo a complexidade do caso envolvendo assassinatos brutais), na fotografia escura e na investigação da identidade do assassino, “Ressurreição” (1999) fez carreira no circuito de home video, numa distante época na qual o VHS reinava. O roteiro se apropriava de ideias de “Seven” trazendo com mais ênfase mortes horrendas, exibidas sem restrições na tela, reforçando a crueldade do assassino. Foi escrito por Brad Mirman, de fitas policiais com assassinos como “Corpo em evidência” (1992) e “Face a face com o inimigo” (1992), este com Christopher Lambert, onde conheceu o ator e voltaria a trabalhar com ele em pelo menos três outros longas-metragens. Na realidade, o argumento original do filme é de Lambert, que auxiliou Mirman não script (é o único trabalho de roteiro creditado de Lambert, que foi um dos produtores aqui). Ou seja, um filme dele, para ele, bem pessoal. Convidou para dirigir Russell Mulcahy, australiano, velho conhecido de Lambert, que o tornou famoso quando o dirigiu no cultuado “Highlander: O guerreiro imortal” (1986) – e depois fariam a continuação, “Highlander 2: A ressurreição” (1991).
O filme foca integralmente na investigação, um caso complicado de assassinatos cometidos por alguém insano, possivelmente um abitolado religioso, que inscreve no corpo das vítimas versículos da Bíblia e arranca os membros delas, levando-os consigo - a ideia do serial killer é recriar o corpo de Cristo. Traz imagens fortes e até desagradáveis, por exemplo, dos corpos em decomposição).




Para provocar medo e gerar o clima de estranhamento da história, há uma fotografia estilizada, amarronzada, com enquadramentos que deformam a tela nos momentos de sufoco dos personagens (foto de Jonathan Freeman, de séries como “Game of thrones” e “Boardwalk empire”).
Não acho Lambert bom ator (às vezes é canastrão), mas neste filme faz um esforço e não desagrada. Atenção para personagens secundários que auxiliam o tom firme e sinistro da trama: Leland Orser (de “O colecionador de ossos” e que fez ponta em “Seven”), como o detetive auxiliar de Lambert, e Robert Joy (de “Atlantic city”), como um cidadão que ajuda os detetives fornecendo pistas para desvendarem o caso. Há também uma rápida aparição, no papel de um padre, do diretor David Cronenberg (que fez “A mosca” e “Crash: Estranhos prazeres”).
Lançado em DVD numa boa cópia pela Obras-primas do Cinema. No disco há extras, além de capa dupla face e junto com um card com a capa original do filme.

Ressurreição: Retalhos de um crime (Resurrection). EUA/Canadá, 1999, 107 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Russell Mulcahy. Distribuição: Obras-primas do Cinema

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