A menina e o dragão
(2024)
Em exibição nos cinemas
brasileiros, a animação deve agradar e atrair a atenção dos mais pequenos
apenas, já que é uma fitinha derivativa e bem infantil – há muitos desenhos sobre
dragões e fantasia na China antiga, a Disney mesmo fez alguns exemplares, com
resultados melhores. Coprodução Espanha/China, é uma adaptação do livro infanto-juvenil
de Carole Wilkinson, sobre uma garota órfã que fica amiga de um dragão
imperial, após os animais serem destruídos e exilados pelo exército. Os dois se
juntam para uma aventura mágica, fortalecendo a amizade e os destinos dos dois.
A história tem certo movimento e doçura, o roteiro é superficial, porém o
problema está no formato da animação, cujo desenho de produção deixa a desejar.
O filme ficou pronto há dois anos, teve lançamento prorrogado duas vezes e
somente agora chega aos cinemas do mundo todo, inclusive no Brasil – aqui a
distribuição é da Imagem Filmes.
Saudade fez morada
aqui dentro (2022)
Nessa semana quatro
filmes brasileiros entram em cartaz nos cinemas. Algo digno de aplausos – e todos
eles bons, o que demonstra a força do cinema nacional. O poético título “Saudade
fez morada aqui dentro” alicerça um dos filmes mais bonitos e sensíveis da
temporada. E que demorou para estrear, já que a produção é de 2022, foi exibido
em festivais e naquele ano ganhou prêmios nacionais e internacionais, como melhor
filme e o prêmio do público no Festival de Mar del Plata, melhor filme na
Competição Novos Rumos da Première Brasil do Festival do Rio e os prêmios
Netflix e Paradiso na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Rodado na Bahia, tem uma
direção caprichadíssima de Haroldo Borges, que já havia trabalhado com o jovem
ator principal Jonas Laborda no emotivo drama ‘Filho de boi’ (2020). Conta a
história de um menino de 15 anos que recebe um diagnóstico médico que mudará
sua vida – ele tem uma doença na visão, que o faz ficar cego paulatinamente. A
relação dele com a família e os amigos ficará estremecida com o choque da
notícia e com a espera dos próximos dias. O elenco se entrega num trabalho
impressionante, com atores mirins em atuações realistas e naturais – como Jonas
Laborda e Ronnaldy Gomes, bem como a própria comunidade do sertão da Bahia que
participa do filme. É um trabalho feito com o coração, com cenas emocionantes e
outras bem humoradas. O filme integra a lista dos 12 filmes brasileiros que tentam
uma vaga na categoria de melhor filme estrangeiro para o Oscar de 2025.
Produzido pelo coletivo
Plano 3 Filmes, o longa conta com o apoio do Projeto Paradiso para sua
distribuição nas salas de cinema.
Prisão nos Andes (2023)
Um dos lançamentos mais extraordinários
do ano, é o longa-metragem de estreia do diretor chileno Felipe Carmona, uma coprodução
Chile/Brasil. Fiquei com ele na cabeça vários dias e recomendo assistirem na
tela grande do cinema. No pé da Cordilheira dos Andes, uma prisão especial abriga
cinco militares da Ditadura de Pinochet acusados de tortura e assassinatos. Eles
cumprem pena, têm regalias na cadeia e são vigiados por seguranças treinados,
alguns deles que serve até como confidentes. A entrevista de um dos militares
presos a uma emissora de TV (que vai na prisão gravar com ele) dá origem a uma
série de situações assustadoras.
Com um roteiro certeiro
e cruel, tem uma fotografia esplêndida e um trabalho visceral do elenco, que
interpreta bem os militares e os guardas. Além da história dos militares, há subtramas
interessantes, e muito do filme fica subentendido, aberto a interpretações
variadas. A cena final do banquete é um primor – e que nos deixa enjoados!
Exibido em festivais de
cinema como Londres, Chicago, Guadalajara, Huelva e na Mostra Intl. de Cinema
de São Paulo. Nos cinemas pela Retrato Filmes, distribuidora recém-lançada no
mercado focada em filmes independentes.
Sofia foi (2023)
Outro bom filme
brasileiro em cartaz nos cinemas – e são quatro longas estreando nas salas em
uma só semana! Selecionado para a Sessão Vitrine Petrobras desse mês, é uma obra
em tom experimental, com uma narrativa ousada e instigante. É um drama sobre
uma estudante apreciadora de tatuagem chamada Sofia forçada a se mudar do
apartamento onde vive. Sem lugar para ir, percorre os espaços da Universidade
de São Paulo. Lá é confrontada com memórias e dilemas, e terá de se adaptar a
sua nova realidade. É o longa de estreia do
diretor Pedro Geraldo, um filme sobre amadurecimento e incertezas. Inventivo na
técnica, tem enquadramentos ousados em close-up, cenas fechadas e escuras intercaladas
a ambientes abertos e com muita luz, provocando um choque visual. Curtinho, tem
apenas 68 minutos de duração.
A atriz Sofia Tomic assina
o roteiro com Pedro Geraldo, produz e faz ainda o trabalho de direção de arte e
captação de som. Exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes deste ano.
PS – A Sessão Vitrine
Petrobras é uma iniciativa que traz uma vez por mês um filme brasileiro aos
cinemas de todo o país a preços acessíveis.
Quando eu me
encontrar (2023)
Esse é o filme de
estreia da dupla Amanda Pontes e Michelline Helena, corroteiristas do filme ‘A
filha do palhaço’ (2022). Vencedor dos prêmios de melhor filme e melhor roteiro
pelo Júri da Crítica no Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba de
2023, é um drama leve, espirituoso e com momentos musicais, sobre partidas,
reencontros e adaptações da vida. Acompanha uma jovem que sai de casa sem dizer
para onde vai e deixa para trás a família, a melhor amiga e o noivo, que ficam
perdidos em busca de respostas sobre seu paradeiro. Com bons diálogos e conduzido
pela clássica música de Cartola ‘Preciso me encontrar’, é um filme independente
e bem realizado que foi inspirado no primeiro trabalho da dupla de diretoras, o
curta-metragem ‘Do que se faz de conta’ (2016). Produzido pela Marrevolto
Filmes, está nos cinemas distribuído pela Embaúba Filmes.
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