quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Resenhas especiais


Filmes para ver em casa - em DVD e no streaming.

A assassina

Durante a Dinastia Tan, na China do século IX, Nie Yinniang (Shu Qi), uma jovem educada nas artes marciais, volta para a casa da família depois de viver no exílio. Ela vive escondida, pois é uma justiceira contratada para matar tiranos. Nie entra em conflito quando recebe uma missão, de difícil escolha, do antigo mentor – eliminar um líder político de uma província militar, que é seu primo e no passado foi seu noivo.

As belíssimas locações campestres e a fotografia iluminada com cor de ouro trazem elegância para esse filme cult e poético do chinês Hsiao-Hsien Hou, que pelo trabalho ganhou o prêmio de melhor diretor em Cannes – o longa foi indicado ao Bafta de filme estrangeiro e representante de Taiwan ao Oscar de 2016, sem ser selecionado na lista dos cinco finalistas.
Antes de assistir, saiba que o diretor realiza obras íntimas e lentas, e aqui repete a narrativa; tudo é muito demorado, com cenas minimalistas em câmera lenta e planos longos. Ele dirigiu diversos dramas nos anos 80, como ‘Um verão na casa do vovô’ (1984), e esse ‘A assassina’ foi seu último trabalho, onde também fez o roteiro e produziu; hoje está dedicado à produção executiva de filmes taiwaneses. ‘A assassina’ foi sua única investida no cinema de artes marciais – mas não há nada de ação, e sim é um drama sobre vingança repleto de flashs do passado. Há uma ou duas cenas de luta, mas rápidas e bem coreografadas, que aludem ao gênero milenar Wuxia, presente na literatura e no cinema - sobre conflitos em dinastias na China medieval com lutas marciais e espadas, trazendo heróis reais/mortais; no cinema chinês e de Hong Kong muitos filmes Wuxia foram feitos e se popularizaram nos anos 70 e 80, como a franquia ‘Shaolin’, e depois nos anos 2000 com fitas premiadas no Oscar, celebrado, por exemplo, pelo taiwanês Ang Lee em ‘O tigre e o dragão’ (2000) e o chinês Zhang Yimou em ‘Herói’ (2002) e ‘O clã das adagas voadoras’ (2004).




Em ‘A assassina’, não há grandes efeitos visuais nem pirotecnias ou batalhas épicas, a proposta é outra, mais um drama familiar, com vingança e honra. E que traz um conflito interno da protagonista, uma jovem assassina que, sozinha, precisa se reencontrar para cumprir uma missão complexa, que é matar seu ex-noivo, hoje um governador dissidente numa província militar. Se gostou da trama e dos comentários, tente assistir, mas, de novo, é um filme para público específico, acostumado a narrativas lentas, em que imperam os elementos técnicos, e ao mesmo tempo em que nada parecer acontecer, tudo acontece. É um filme lindo, de cenários grandiosos, cores impressionantes e uma história trágica e cheia de dúvidas. Recomendo. Em DVD pela Imovision ou na plataforma em streaming da Reserva Imovision.

A assassina (Cike Nie Yin Niang). Taiwan/Hong Kong/China, 2015, 105 minutos. Drama/Ação. Colorido. Dirigido por Hsiao-Hsien Hou. Distribuição: Imovision


Legítimo rei

Coroado rei dos escoceses, Robert I (Chris Pine), conhecido como ‘Robert the Bruce’, lidera a Escócia contra as forças inglesas na Guerra de Independência do país.

Com ar de filme épico, ‘Legítimo rei’ é um bom filme de luta de espada, baseado em história real e produzido e lançado pela Netflix em 2018. Foi exibido no Festival Internacional de Toronto, com 20 minutos a menos, onde causou burburinhos por causa de uma cena de nu frontal do astro Chris Pine, o galã desse filme e da franquia para cinema de ‘Star Trek’. O filme tem uma parte técnica excepcional, já começando com um travelling longo, de nove minutos, onde a câmera passa por uma vela, depois um juramento, uma rápida batalha e um ataque ao castelo.
Narra a jornada do jovem rei Robert I, conhecido como ‘Robert the Bruce’ (1274-1329), que, no século XIV, lutou bravamente para conquistar a independência da Escócia, travando batalhas intermináveis contra o temível exército inglês. Foram muitas as guerras de independência da Escócia, e aqui o foco são nas duas últimas, entre 1303 e 1328, ano de sagração da libertação do país, período quando Robert desafiou tanto o rei inglês Eduardo I quanto seu filho, Eduardo, Príncipe de Wales. Devido ao comportamento intimidador e corajoso, Robert foi tido pelos rivais como um ‘fora-da-lei’, e, portanto, procurado por todos os lugares como um bandido – o título original do filme, reparem, é ‘Rei fora-da-lei’.
Há cenas bem executadas de batalha com trabucos/trebuchet, invasões ao palácio real pelas muralhas e luta de espadas, e algumas sanguinárias, como um estripamento chocante. A fotografia é uma façanha primorosa, assinada por Barry Ackroyd, indicado ao Oscar por ‘Guerra ao terror’ (2008). Direção e roteiro caprichados do britânico David Mackenzie, diretor de ‘O jovem Adam’ (2003), ‘Sentidos do amor’ (2011) e ‘A qualquer custo’ (2016).



A independência da Escócia já apareceu em pelo menos dois filmes, no clássico ganhador do Oscar ‘Coração valente’ (1995), de e com Mel Gibson, e em ‘O rei da Escócia’ (2019), um spin-off do filme citado. Assistam, está na Netflix.

Legítimo rei (Outlaw king). Reino Unido/EUA, 2018, 121 minutos. Drama/Ação. Colorido. Dirigido por David Mackenzie. Distribuição: Netflix


O rei da polca

Conhecido como ‘Rei da Polca’, Jan Lewan (Jack Black) é um compositor polonês radicado nos Estados Unidos que leva seus shows para diversos clubes e também se apresenta em programas de TV. É uma lenda da música e uma pessoa muito querida. Porém, Lewan é acusado de criar um esquema milionário aplicando golpes em idosos, que o leva para a cadeia.

Baseado numa incrível e ao mesmo tempo maluca história real, o filme produzido pela Netflix foi uma das melhores comédias daquele ano, 2017, infelizmente mal divulgado, o que fez com que poucas pessoas assistissem. É um trabalho curioso e divertido da diretora Maya Forbes, indicada a quatro prêmios Emmy, produtora do seriado ‘The Larry Sanders Show’ e que dirigiu e escreveu o drama ‘Sentimentos que curam’ (2014). Exibido no Festival de Sundance, é uma comédia dramática que nos faz ficar vidrados na tela. Jack Black, de ‘Escola do rock’ (2003), brilha no papel principal – o ator acerta bastante em seus papéis cômicos e debochados, e aqui faz um polonês com forte sotaque que mora há anos na Pensilvania, é um astro da polka music, diverte as pessoas em shows nos clubes e na TV, e acaba se envolvendo no mundo do crime. Jan Lewan foi acusado de participar de um ‘esquema Ponzi’, fraudes em formato de pirâmide, em 2004, que atingiu 400 pessoas em 22 estados americanos, onde embolsou milhões de dólares. Ele ficou preso por cinco anos, chegou a ser ferido gravemente na cadeia e quase morreu no hospital; depois voltou para a prisão e cumpriu pena até 2009.
Jan Lewan se mudou da Polônia para os EUA em 1972, onde pretendia ser maestro, chegou a se apresentar em mais de 30 países com suas turnês, gravou discos e indicado ao Grammy por um álbum em 1995. Está com 83 anos e ainda faz apresentações – sua vida virou documentários e filmes para TV, e esse aqui da Netflix é o melhor deles, muito por causa do trabalho de Jack Black e da boa direção de Maya Forbes.



No filme participam ainda Jason Schwartzman, como um dos músicos da banda, Jenny Slate, no papel da esposa, e a indicado ao Oscar duas vezes Jackie Weaver, a sogra de Jan.

O rei da polca (The polka king). EUA, 2017, 94 minutos. Comédia/Drama. Colorido. Dirigido por Maya Forbes. Distribuição: Netflix

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