quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Cine Cult


Salò, ou Os 120 dias de Sodoma


Em 1944, na República de Salò, no norte da Itália, um grupo de fascistas, dentre eles políticos e empresários, sequestra 16 jovens e aprisiona-os num castelo. Lá, por 120 dias, as vítimas serão alvo de torturas e violência sexual.

Uma das obras mais cruéis e contraditórias do cinema, filme derradeiro de Pier Paolo Pasolini, assassinado no final das gravações em 1975. Indigesto, com imagens fortes e ousadas, veio na fase desregrada e de contestações política e social do cineasta italiano que fez “Mamma Roma” (1962), “Édipo rei” (1967), “Teorema” (1968), “Decameron” (1971) e outros filmes marcantes. Pasolini escreveu o roteiro ao lado de Sergio Citti e Pupi Avati adaptando-o do romance “Os 120 dias de Sodoma” (ou “A escola da libertinagem”, de 1785), do polêmico escritor Marquês de Sade (1740-1814), que viveu no período ferrenho do Absolutismo pouco antes da Revolução Francesa (que viu acontecer). Pasolini transpôs o pano de fundo das orgias da França libertina para a Itália fascista, mais precisamente na republiqueta de Salò, no norte do país. Dividiu o filme em capítulos com estrutura semelhante a “O inferno”, de Dante Aligheri, em ciclos que ficam mais pesados a cada passagem. Na trama, fascistas prendem adolescentes num castelo por 120 dias e lá praticam violência sexual, tortura, sodomização e assassinatos dos mais perversos, com a ajuda de mulheres e homens da sociedade. Pasolini, sem meios termos, criticou aqui ferrenhamente as atrocidades do fascismo italiano que devastou a Europa ao lado do Nazismo nos anos 30 e 40.
Recebeu censura de 18 anos, foi proibido em vários países (no Brasil não chegou a ser exibido, estávamos na ditadura) e unanimemente a crítica rotulava de “depravado”, “repulsivo”, “chocante” (o filme continua forte e toca em questões atuais, mas veja com cuidado!).


Vintes dias antes da estreia no festival de Paris, Pasolini foi encontrado morto na praia de Ostia, perto de Roma, em 2 de novembro de 1975 – quem foi preso e acusado foi um garoto de programa. O crime nunca ficou esclarecido.
Um destaque vai para a parte técnica: os maiores nomes da Itália da época se envolveram no projeto: Alberto Grimaldi assina a produção, Dante Ferretti o design de produção, fotografia de Tonino Delli Colli, figurinos de Danilo Donati e trilha sonora com participação de Ennio Morricone.


Ganhou há poucos meses edição nova, com luva, em disco duplo e duas horas de extras, com metragem original, de 117 min, pela Obras-primas do cinema. Já existia no mercado uma versão antiga, de revista, de mesma metragem, porém com imagem inferior, da extinta Wave Filmes.

Salò (ou Os 120 dias de Sodoma) (Salò o le 120 giornate di Sodoma). Itália/França, 1975, 117 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Pier Paolo Pasolini. Distribuição: Obras-primas do cinema

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