quarta-feira, 3 de março de 2021

Na Netflix


A caminho da fé

O pastor evangélico Carlton Pearson (Chiwetel Ejiofor) mantém altos índices de audiência com seu programa de TV nos anos 90. Os cultos que ministra no templo são abertos para mais de cinco mil pessoas, e aos poucos constrói uma carreira de fé e devoção. Até que é afastado de sua igreja após pregar que o inferno não existe. Pearson entra em profunda crise a ponto de reavaliar suas convicções.

Estreou no Festival de Sundance essa ambiciosa produção de cunho religioso sobre a vida de um bispo evangélico americano que lutou por suas convicções e pagou um preço caro por isso. Ele é o pastor Carlton Pearson, interpretado magistralmente por Chiwetel Ejiofor, que pertencia à Igreja de Cristo, pregava para mais de seis mil pessoas, sem contar os milhões de telespectadores que o assistam pela TV. O filme, de drama, começa em 1998, quando ele já fazia sucesso, era respeitado, herdando o cargo de um pastor famoso da TV, o veterano televangelista pentecostal Oral Roberts (Martin Sheen). Porém, aos poucos, as ideias de Pearson tornaram-se discutíveis pelos fiéis; ele dizia que o inferno não era real, que todos os cristãos poderiam ser salvos independente do que fizessem na terra. Muitos pregadores se afastaram dele, o bispo perdeu fiéis, e foi acusado de herege. Segundo o próprio pastor, duvidava da existência de um Deus quando se indagava por que Ele deixava crianças morrer de fome na África, questionando que Deus punitivo era aquele. A partir da crise do personagem quando afastado das tarefas da igreja, o filme se torna eloquente em suas indagações, de como acreditar e lutar por algo vira uma tarefa árdua, com consequências danosas.
Traz outras discussões interessantes, como os dilemas de um jovem gay rejeitado por ter HIV, interpretado por um grande ator do momento, Lakeith Stanfield (de “Corra!”).
O filme conta com participações de nomes de peso, como Danny Glover, Jason Segel, o já mencionado Martin Sheen e, claro, Ejiofor, brilhante no papel difícil do protagonista em crise de identidade (reparem que o ator está com uma maquiagem diferenciada para se assemelhar ao verdadeiro pastor).


É um filme de tema restrito e ousado, para público definido, e eu, por não gostar de filmes de pregação religiosa, até que me dei bem com esse, pelas suas qualidades (pelo drama sincero, pela condução da narrativa e pelo bom elenco).
Do diretor Joshua Marston, de “Maria cheia de graça” (2004), um filmão nada a ver com Maria de Nazaré, na verdade faz alusão à personagem bíblica, porém é sobre tráfico de drogas, e revelou a atriz colombiana Catalina Sandino Moreno, que pelo papel foi indicada ao Oscar). Produzido por Marc Forster, diretor de “O caçador de pipas” e “Guerra mundial Z”. Assista se tiver curiosidade.

A caminho da fé (Come Sunday). EUA, 2018, 105 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Joshua Marston. Distribuição: Netflix

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