domingo, 7 de março de 2021

Cine Clássico



As chaves do reino

Padre recém-ordenado, Francis Chisholm (Gregory Peck) recebe o convite para viajar à China com a missão de formar uma congregação católica num povoado. Haverá entre ele e os aldeões um choque de cultura, mas nada tirará as convicções do religioso.

Baseado no romance idealista do escritor e médico escocês A.J. Cronin, publicado em 1941, com roteiro escrito por dois nomes importantes do cinema antes de se tornarem diretor, Joseph L. Mankiewicz (que roteirizou diversos longas no início de carreira, entre os anos 20 e 30) e Nunnally Johnson, “As chaves do reino” (1944) acaba de ganhar edição especial em DVD pela Obras-primas do Cinema. É uma fita esquecida, porém louvável na cinematografia americana por propor reflexões acerca do choque de culturas e da devoção. Na década de 40 vários filmes trataram do tema, e esse aqui está na galeria dos melhores. Recebeu quatro indicações ao Oscar, de melhor ator para Gregory Peck (que estreava na telona), fotografia (do mestre Arthur C. Miller, ganhador de três prêmios da Academia e fotógrafo de filmes monumentais, como ‘Como era verde o meu vale’ e ‘A canção de Bernadette’), direção de arte e trilha sonora (de outra sumidade do cinema, Alfred Newman, ganhador de nove estatuetas da Academia, e, impressionem-se, indicado a outros 36 Oscars – são dele trilhas marcantes como “A malvada”, “Aeroporto” e “A conquista do oeste”, além de outros 210 filmes).
Numa parte da China isolada do mapa, chega um pároco novato para pregar o Catolicismo, com o objetivo de formar um centro religioso nas aldeias. A cultura dele com a dos aldeões pobres (que acreditavam em algo místico) se mostra incompatível, e mesmo assim a generosidade e coragem do padre frente aos problemas sociais ganham bons olhos dos moradores. Obviamente ocorrerão atritos, fundamentados em religião e poder, e enquanto o tempo passa num intervalo de meio século, acompanhamos essa história emocionante de cuidado, empatia, existência e convicção.


A figura de Peck sustenta o filme que já tem suas qualidades. Ele tinha então 27 anos, já demonstrando um talento impressionante – de quebra recebeu indicação ao Oscar, e ganharia o único da carreira 20 anos depois, por “O sol é para todos” (1963). Até o fim da vida recebeu quatro indicações e foi agraciado com um Oscar humanitário, pelas causas defendidas (Peck esteve ligado a movimentos humanitários, principalmente em prol da cultura e da diversidade). Olhando hoje, um pouco da história de Peck se confunde com a do personagem do padre, aqui.
Há participações legais de astros e estrelas, como Thomas Mitchell, Vincent Price, Edmund Gwenn, o garoto Roddy McDowall e Anne Revere, nessa fita bem bonita do diretor John M. Stahl, de “Imitação da vida” (1934) e “Amar foi minha ruína” (1945).

As chaves do reino
(The keys of the kingdom). EUA, 1944, 137 minutos. Drama. Preto-e-branco. Dirigido por John M. Stahl. Distribuição: Obras-primas do Cinema

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