sábado, 27 de dezembro de 2008

Entrevista Especial


Selton Mello estréia como diretor em filme sobre desestruturação familiar (*)

Felipe Brida

Mineiro natural de Passos, o ator Selton Mello, que completa 36 anos na próxima terça-feira, dia 30, assinou recentemente seu primeiro filme como diretor de cinema. O drama “Feliz Natal” teve estréia nos cinemas brasileiros no dia 21 de novembro e, devido às críticas positivas, deverá permanecer nas salas de projeção até o próximo mês.
Premiado em festivais de cinema de todo o país, dentre eles três prêmios no Festival de Paulínia – melhor diretor, atriz coadjuvante (Darlene Glória e Graziella Moretto) e menção especial para o ator Fabrício Reis, e nove troféus no Festcine Goiânia, “Feliz Natal” é um dramático painel sobre desestruturação e tragédia familiar.
O longa-metragem narra a história de Caio (Leonardo Medeiros), um homem de 40 anos que, no dia de Natal, decide retornar à casa dos pais após vários anos longe da família. Lá reencontra o pai, Miguel (Lúcio Mauro), que não aceita a sua volta, o irmão Téo (Paulo Guarnieri), que enfrenta uma crise conjugal, e a mãe, Mércia (Darlene Glória), alcoólatra e perturbada. A presença de Caio altera a vida de todos os membros da família, provocando comportamentos extremos, como ódio e reconciliação.
Confira abaixo a entrevista exclusiva concedida pelo diretor Selton Mello ao Notícia da Manhã.


NM – Selton, nessa primeira investida como diretor de cinema você resolveu rodar um projeto de carga dramática densa, que aborda a desestruturação no ambiente familiar. Como foi levar essa temática tão séria ao cinema?

Mello – Foi uma tentativa de dizer algo que eu vinha querendo me expressar há tempos, mas como ator não tive a possibilidade de fazer. Resolvi então ir a fundo num projeto cuja idéia principal era de fazer um filme intenso sobre incomunicabilidade entre pais e filhos e ao mesmo tempo o da solidão em suas diversas formas. Outro diferencial do meu primeiro longa é que o caso gira em torno de uma família classe média, tão pouco abordada no cinema brasileiro hoje em dia. Espelhei-me nos ensinamentos de Arnaldo Jabor, que fazia tão bem filmes sobre a classe média em sua fase inicial da pornochanchada.


NM – Pelo fato de o filme ser dramático, pesado, angustiante, o que foge do gosto habitual do telespectador, acredita que “Feliz Natal” atingirá o público?

Mello – Espero que sim. As críticas são positivas, e o público vem demonstrando calorosa aceitação. Destaco que o longa é uma história próxima de nós; existe uma família em ruínas, o filho sai de casa, a mãe é alcoólatra e separou-se do marido, o irmão está infeliz com o casamento. Há um passado negro na vida do personagem central, só revelado nos momentos finais da fita, em uma seqüência marcante, puramente visual e poética. Estou confiante: acredito que fui feliz nesse projeto.

NM – Uma das críticas positivas sobre seu trabalho é de que você “dirige atores”. Por ser um estreante tal comentário torna-se um grande empurrão para continuar nesse ramo. No entanto, “dirigir atores” atrapalha num momento em que o cinema prefere almejar o mercado e a indústria?

Mello – O diferencial do filme é justamente ter reunido um time de atores e atrizes de primeira categoria, e, claro, ter rodado um projeto de cunho autoral e bastante peculiar. Cada um dos personagens traz uma história diferente. Darlene Glória não atuava há muito tempo, pelo menos num papel de destaque. Uma atriz grandiosa nos anos 70 e que hoje estava esquecida. E seu papel é uma explosão. Paulo Guarneiri não atuava desde 1996, e é um dos grandes atores brasileiros, também esquecido. Tem ainda Lúcio Mauro, Graziella Moretto e o principal, Leonardo Medeiros, que vem firmando carreira e é sem duvida um dos maiores nomes da geração atual de atores.

NM – Recentemente, no Festival de Cinema de Goiânia, você declarou ao público que irá a partir de agora dedicar-se à direção e possivelmente dará uma freada como ator. Você pretende deixar de atuar?

Mello – Não pretendo, por enquanto, deixar o trabalho de ator. Apenas estou me sentindo cansado, meu emocional anda esgotado. Eu sou uma pessoa bastante crítica; considero que meus trabalhos como ator, nos últimos tempos, vem se repetindo. E eu não quero continuar na mesmice. Por isso minha intenção é tirar férias, repensar meu trabalho e me reinventar.

(*) Entrevista publicada no jornal Notícia da Manhã, periódico de Catanduva, na edição do dia 27/12/2008. Crédito para as duas fotos: Divulgação.

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