Terrifier 3 (2024)
O palhaço Art está de volta, ainda mais insano e cruel. Agora ele ataca
no Natal, vestido de Papai Noel e com um machado na mão! Preparem-se para o
filme de terror mais agressivo e sanguinário do ano, com cenas brutais de assassinato
que chocam e podem incomodar os mais sensíveis na plateia. Lógico que é um
filme que não deve ser levado a sério, porém a violência gráfica perturba. É
feito de propósito, um slasher com litros de sangue e tortura sem fim.
‘Terrifier’ nasceu em 2011, a partir de um curta-metragem de baixíssimo
orçamento, escrito e dirigido pelo americano Damien Leone, na época com 26
anos. Trazia a história de um palhaço maluco que perseguia pessoas numa rua
escura. Leone ainda produziu, editou, fez a maquiagem, o som e a direção de
arte, e o curta venceu prêmios em festivais independentes de cinema de horror
nos Estados Unidos. O projeto cresceu, e dois anos depois fez o longa ‘All
Hallows' Eve’, aqui no Brasil chamado de ‘Terrifier – O início’ (2013). A história
se passava no Halloween, em que uma babá assistia um antigo VHS com contos de terror,
e numa das histórias o palhaço Art aparecia. Leone então deu mais vida ao
assassino nos dois filmes seguintes, os verdadeiros Terrifier, ‘Terrifier’ (2016)
e ‘Terrifier 2’ (2022), expandindo uma franquia inconcebível e impossível. No
Brasil botaram os títulos de “Aterrorizante 1 e 2”, e ambos os filmes se passavam
em apenas uma noite e madrugada, a de Halloween, em Miles County, com Art atacando
com requintes de crueldade os moradores. O primeiro custou U$ 35 mil e rendeu
U$ 417 mil nos cinemas, quase 12 vezes mais, e o segundo, com mais violência e
maior qualidade técnica, teve orçamento de U$ 250 mil, com bilheteria de 60
vezes mais, US$ 17 milhões, um feito louvável se pensarmos em mercado de filmes
de horror de baixo orçamento.
Eis que Leone ressurge agora com o capítulo 3, cuja história é no Natal,
cinco anos após o massacre em Miles County. Abre com Art invadindo uma casa na véspera
do Natal e trucidando uma família inteira com um machado. Em seguida, ajuda a ressuscitar
a personagem do final do capítulo anterior, Victoria Heyes, num hospital psiquiátrico,
e já tomada por uma força sobrenatural voraz - o palhaço, que era para estar
morto, volta por meio de uma misteriosa entidade demoníaca. Art e Victoria (a
maquiagem dos dois dá medo) formam um par destruidor, e unidos cometerão as piores
atrocidades imaginadas, na encantadora época de Natal.
Gore, bizarrices, gritos e tortura em máxima potência nesse filme brutal
e com uma avalanche de humor negro. Art já entrou para a galeria dos assassinos perversos do cinema, um palhaço que não fala, só gesticula e faz caretas, o que o torna ainda mais amedrontador – interpretado pela terceira vez pelo ator David Howard Thornton.
O filme traz referências a slasher movies dos anos 80 com Papai Noel macabro, como a franquia ‘Natal sangrento’, e conta com uma rápida participação de Tom Savini, diretor e maquiador de filmes de horror. Lançado nos cinemas brasileiros pela Diamond Films no dia de Halloween, 31/10, segue bem de bilheteria mundial, o que surpreende por ser filme de terror – com orçamento de U$ 2 milhões, o mais caro da franquia até agora, já fez U$ 63,5 milhões. Se curte o gênero, vai gostar - só cuidado com a classificação indicativa, que é de 18 anos.
OBS – Em setembro de 2023, publiquei resenha dos filmes ‘Terrifier’ (2016)
e ‘Terrifier 2’ (2022), devido ao lançamento dos filmes num box especial em DVD
e Bluray pela Classicline. Texto disponível em https://cinema-naweb.blogspot.com/2023/09/especial-de-cinema_20.html
Malu (2024)
Recém-premiado no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de
SP, esse é um dos grandes filmes brasileiros do ano. Uma história intensa, de
amor e fúria, com um trabalho fenomenal da atriz principal, a mineira Yara de Novaes,
de ‘Os 12 trabalhos’ (2006) e ‘Depois a louca sou eu’ (2019). Ela tem um papel
extraordinário e real, interpretando a atriz brasileira Malu Rocha (1947-2013),
que fez muita novela, teatro e cinema nos anos 70 e 80. O filme se passa nos
últimos anos de Malu, atriz de meia-idade, com dificuldades financeiras tendo
de conviver com a mãe conservadora, com quem não se dá (papel nota 10 de
Juliana Carneiro da Cunha, outra atriz fantástica). Ela também tem conflitos
com a filha (Carol Duarte, cada vez mais em evidência no cinema dentro e fora
do Brasil, e aqui seu timing é perfeito), com quem passa a se relacionar com
mais frequência. Pensativa, questionadora e de espírito livre, Malu incomoda
muita gente com suas opiniões fortes. A reaproximação com a mãe e a filha
tornará seu mundo mais caótico, até descobrir uma doença incurável. Exibido no
Festival de Sundance, onde concorreu ao Grande Prêmio do Júri, o filme é
tocante, mistura humor e drama conflitante na medida certa, e reserva para o
desfecho momentos emocionantes. Adorei o filme, que é dirigido pelo filho de
Malu Rocha, Pedro Freire, ou seja, uma obra fortemente pessoal do cineasta, que
expõe na tela os dilemas e os desejos da mãe, entregando-a uma bonita homenagem
póstuma. Produzido pela Bubbles Project e TvZero, com coprodução da RioFilme,
Telecine e Canal Brasil, está nos cinemas pela distribuidora Filmes do Estação,
depois de uma boa carreira em festivais de cinema.
A última invocação (2023)
O diretor japonês Hideo Nakata tornou-se mundialmente conhecido pela
franquia de terror ‘Ring – O chamado’, lançada no fim dos anos 90 e que depois
seria refeita nos Estados Unidos na década seguinte. Dirigiu também a primeira
versão de ‘Dark water’, em 2002, outro bom filme inesperado e assustador que
ganhou remake americano pelas mãos de Walter Salles. Seu mais novo trabalho
chega agora nos cinemas brasileiros, um terror menos notório e mais explícito
de Nakata, que procura manter os traços do ‘J-horror’. ‘A última invocação’ é
uma adaptação do romance de estreia de Shimizu Karma, de 2019, obra campeã de vendas
no Japão. É a história de um garoto, enlutado pela morte da mãe, que realiza um
ritual para ressuscitá-la. Só que quem aparece no lugar dela é uma entidade
maligna capaz de destruir todos que estão ao redor do menino. Ao longo da trama
misteriosa, mas fácil de se desvendar, conhecemos personagens secundários que cruzam
o caminho do pequeno protagonista e têm segredos em comum para tratar com ele. Temas
como luto, culpa, solidão e o desconhecido circulam no filme de terror que
também é apresentado como drama. Não é uma grande obra, tampouco memorável, porém
é consumível e poderá agradar os fãs do cinema oriental de terror – o Japão foi
pioneiro em realizar filmes modernos de fantasmas e entidades malignas, como os
cultuados ‘Kwaidan’ e ‘O gato preto’, exemplares preciosos dos anos 60. Em
exibição nos cinemas pela Sato Company, distribuidora fundada em 1985, pioneira
na distribuição de animes e Tokusatsu, e que mantém um cinema no bairro Liberdade,
em São Paulo, o Sato Cinema.
O dia da posse (2021)
Independente e experimental, o documentário de Allan Ribeiro é a
terceira investida do diretor em longa-metragem, depois de uma carreira sólida em
curta-metragem. Rodado na pandemia da Covid-19 (o filme é de 2021 e só agora
chega aos cinemas), acompanha o jovem estudante de Direito Brendo Washington que,
no isolamento social, teve o sonho de se candidatar à presidência da República.
Em seu pequeno apartamento no Rio de Janeiro, ele ensaia o discurso de posse,
caso vença as eleições, estuda a fundo as leis, grava vídeos para a internet
falando sobre política, onde interage com os seguidores, e compartilha o sonho
de ajudar as pessoas caso seja político. Tudo ocorre naquele espaço confinado, e
as lentes de Ribeiro captam a rotina de idas e vindas de Brendo. Um roteiro feito
entre os dois, com improvisos e muita garra, que entrega um filme consciente sobre
os sonhos dos jovens durante um período cruel e temível, o da pandemia, que
assolou Brasil e o mundo. Gosto da forma como o diretor fez o documentário e
recomendo conhecerem. Recebeu menção honrosa na seção ‘Novos Rumos’ do Festival
do Rio de 2021. Produção da Acalante Filmes, tem distribuição nos cinemas pela Embaúba
Filmes.
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