domingo, 19 de março de 2023

Resenha especial


Vingança


Um rico empresário leva a amante e dois comparsas para caçar no deserto. Tudo vai bem, até que a jovem é estuprada por um dos amigos do empresário, sem ele saber. Ela tenta fugir, e após discutir com o amante, é jogada de um penhasco. Sobrevive e inicia um plano de vingança contra os algozes, com direito a armadilhas e muito sangue.

Nos anos de 1970 o cinema dos EUA, da França e de outros países inauguraram um subgênero do terror chamado “rape and revenge”, dentro da linha dos filmes exploitation, aqueles que exploravam a violência e a tortura. “A vingança de Jennifer” (1978) é o mais conhecido deles, refilmado em 2010 como “Doce vingança”. Wes Craven também realizou “Quadrilha de sádicos” (1977), outro bom exemplo, e até Ingmar Bergman fez um filme que anteciparia a ideia, em “A fonte da donzela” (1960). Nos anos de 1990 e 2000, o “rape and revenge” (na tradução, “estupro e vingança”), voltaria com tudo, foram feitos filmes fortes e violentos como “Viagem maldita” (2006) e “A última casa” (2009). “Vingança”, de 2017, retoma agora esse aclamado subgênero do cinema independente atrelando uma história sobre empoderamento feminino, mesmo que levado às últimas consequências. A trama é de um tom só, e nela se inserem reviravoltas e muita, mas muita violência, com banhos de sangue. Três amigos, casados e ricos, organizam anualmente uma caçada no deserto. Dessa vez, um deles leva a amante, uma jovem de beleza estonteante, que acaba estuprada enquanto o namorado está fora. Há uma discussão, a garota tenta fugir, mas é jogada num desfiladeiro. Eles acham que ela morreu, mas não... Abandonada à própria sorte, machucada (fica presa num galho que vara seu corpo), com formigas picando-a debaixo de um sol de lascar, miraculosamente renasce como uma fênix para se vingar dos criminosos. E daí é uma caçada infernal, com armadilhas, mortes brutais etc
Foi vendido como terror, com uma capa sanguinária da personagem ensanguentada segurando um rifle, no entanto é ação e um drama pesadíssimo – mas entendo que o que a personagem vive é um terror real, que dói na alma.
São apenas quatro atores em cena – a jovem e os três homens (destaque para a italiana Matilda Lutz, que tem forte presença em cena, é bonita e chama a atenção, e assume a figura de uma ‘final girl’). O filme é econômico nos diálogos, investe-se em cenas tensas que deixam o coração na mão. A diretora e roteirista francesa Coralie Fargeat, estreante em longa-metragem aqui, usa uma boa direção de arte e fotografia que incomodam: no meio do deserto acalorado, vidros rosas, brincos da protagonista que reluzem, em formato de estrela, sem falar do sangue que explode na tela. Há cenas criativas, com destaque para a da fênix, citada acima, que estampa o rótulo de uma lata de cerveja e é usada pela personagem para cicatrizar a ferida provocada pelo galho – a fênix acaba como um decalque na barriga dela. E o desfecho do filme é terrivelmente violento.





Polêmico e simbólico, com sequências chocantes que podem incomodar (como a do vidro no pé, que se assemelha a uma vagina), o filme teve exibições altas horas da noite nos festivais de Sundance e Toronto devido à violência, para selecionar o público.
Lançado em bluray pela Versátil numa edição especial em parceria com a Fênix Filmes – em disco único, com uma hora e meia de extras, acompanhado de um pôster, um livreto e dois cards colecionáveis.

Vingança (Revenge). França/Bélgica, 2017, 108 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Coralie Fargeat. Distribuição: Versátil Home Video

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