quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Viva Nostalgia!

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A história sem fim

Fascinado por leitura, o garoto Bastian (Barret Oliver) foge com um misterioso livro de uma livraria e o esconde em casa. Quando começa a folhear aquelas páginas, percebe estar dentro de “Fantasia”, uma longínqua terra habitada por elfos, um gigante de pedra, um dragão da sorte com rosto de cachorro e um guerreiro chamado Atreyu (Noah Hathaway). Junto com esses personagens, Bastian se envolverá em aventuras inesquecíveis.

Quem nunca ouviu falar de “ A história sem fim”? Grande sucesso no mundo inteiro (menos nos EUA), essa encantadora fita de aventura cativou toda uma geração dos anos 80, sendo reprisada na TV infinitas vezes. Façanha brilhante!
O cineasta alemão Wolfgang Petersen contabilizou pontos na carreira ao acertar no roteiro, baseado no romance de Michael Ende. Ele escreveu em parceria com o amigo conterrâneo Herman Weigel, que optaram em manter os aspectos originais da história. O resultado não poderia ser outro: uma produção mágica, com visual rico em detalhes que remonta um espaço onírico, a terra de “Fantasia”, onde vivem figuras míticas do bem e do mal. Aliás, os personagens das páginas do livro que o garoto Bastian lê são perseguidos por uma força maior, sobrenatural, chamada de “Nada”, que só assume forma real no desfecho.
A mensagem é positiva, e o filme registra uma direção de arte impecável, que reúne elementos visuais do nosso imaginário para compor a criatividade do jovem fissurado em ler “A história sem fim”. Ou seja, é uma fita que dialoga sobre a imaginação e o poder que a leitura exerce sobre nossa capacidade de enxergar o mundo (e conhecê-lo melhor).
Rodado em estúdios em Munique, custou muito para a época (U$ 27 milhões), sendo o filme mais caro produzido na Alemanha. Virou uma das obras cinematográficas mais populares e famosas dos anos 80, abrindo caminhos para o diretor Petersen, que logo foi para Hollywood trabalhar – nos Estados Unidos dirigiu filmes nervosos de ação, como “Mar em fúria” e “Força Aérea Um”.
Traz cenas emocionantes e memoráveis, como a do cavalo branco atolado no lamaçal. E quem não se lembra da música-tema, “Neverending story”, cantada pelo inglês Limahl, sucesso nas rádios brasileiras inclusive?
Devido ao sucesso estrondoso, teve duas sequências inferiores – a primeira em 1990, “A história sem fim II”, com elenco diferente e outro diretor (George Miller, da trilogia “Mad Max” e “Babe – O porquinho atrapalhado”), e a outra em 1994, ainda mais irregular.
No Brasil saiu em versão reduzida com oito minutos a menos que a chamada versão internacional.
Já disponível em DVD, com dublagem em português da época, sem extras, e em duas edições: uma com o filme original e a outra com a segunda parte. Por Felipe Brida

A história sem fim
(The neverending story). EUA/ Alemanha Ocidental, 1984, 94 min. Diigido por Wolfgang Petersen. Distribuição: Warner

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Viva Nostalgia!

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Tron – Uma odisséia eletrônica

Em uma de suas experiências, o hacker Kevin Flynn (Jeff Bridges) invade o sistema operacional de um computador. Ele, de carne e osso, agora está dentro desse misterioso mundo particular. Rapidamente é pego por soldados e forçado a participar de um jogo de gladiadores. A cada partida só sobrevive uma pessoa. Flynn ganha o status de herói, e as etapas vão se tornando mais difíceis, com inimigos poderosos e máquinas indestrutíveis.

Pioneiro em computação gráfica, não fez sucesso essa fita de aventura/ficção científica, produzida pela Disney em 1982. Na época, impressionou pelos efeitos visuais estilizados, que tinham como proposta recriar o mundo virtual do ponto de vista de um personagem humano (Flynn, o hacker). Era um espetáculo de cores neon, personagens reluzentes, máquinas possantes e outras voadoras com contornos coloridos. Analisando hoje, esses recursos inovadores soam ingênuos e precários, já que o avanço na computação gráfica tem sido incrementado desde as últimas duas décadas.
Apesar de ter obtido bilheteria rasa, “Tron” marcou gerações e virou cult. Foi a primeira fita comercial a relacionar hacker, informática e videogames (antes mesmo de “Jogos de guerra”, que era politizado e menos cômico). Previa a agressividade dos jogos de luta na cultura jovem, com a máxima “violência gera violência” (uma metáfora à parte, pois Flynn ataca até a morte os inimigos para salvar a pele).
A história sem surpresas é salva pela cuidadosa produção técnica e pela participação de Jeff Bridges, bem novo, em início de carreira.
O cineasta Steven Lisberger dirigiu poucos filmes, sendo “Tron” a fita mais lembrada de sua carreira inexpressiva. Ah, foi ele o criador do argumento, dos personagens e do roteiro.
Recebeu duas indicações ao Oscar em 1983 – melhor figurino e som, e concorreu ao Bafta de melhor efeitos visuais. O filme tem seus admiradores e pode agora ser visto em versão remasterizada em DVD, pela Disney/ Buena Vista.
Em 2010, um grupo de produtores de Hollywood retomou a ideia e rodou a sequência, “Tron: O legado”, um entretenimento de primeira, com o filho de Flynn assumindo as rédeas da história (o ator do primeiro, Jeff Bridges, aparece bem pouco). Ao contrário do original, este foi bem recebido pelo público – contabilizando bons milhões de dólares nas bilheterias. Por Felipe Brida

Tron – Uma odisséia eletrônica (TRON). EUA, 1982, 96 min. Ficção científica/ Aventura. Dirigido por Steven Lisberger. Distribuição: Disney/ Buena Vista

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Resenha

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Tropa de Elite

Rio de Janeiro, 1997. À frente do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), Capitão Nascimento (Wagner Moura) é designado para chefiar um grupo de policiais para vigiar o Morro do Turano. Ao mesmo tempo em que aceita a missão, procura por um substituto, a pedido da esposa, que está nos últimos meses de gravidez. Em um treinamento depara-se com dois aspirantes ideais para o cargo. Só que Nascimento encontra dificuldades em se “desligar” do serviço que tanto gosta. Os dias se passam, e uma série de incidentes no Morro, entre traficantes e milícia, acaba aproximando ainda mais o capitão da rotina no Bope.

O filme brasileiro mais comentado de todos os tempos, aplaudido de pé pelas plateias, por ser corajoso, retratar a verdadeira realidade social do nosso país. Assistido pela maioria dos brasileiros, “Tropa de Elite” percorre caminhos tristes do Rio de Janeiro, uma cidade que é um barril de pólvoras com o pavio aceso. As favelas dominadas pelo tráfico de drogas, a milícia conivente com as atrocidades nos morros cariocas, a polícia dividida entre homens do bem e cidadãos corrutos e inescrupulosos, o descaso do governo, tudo o que vemos há anos na mídia está agrupada no precioso trabalho de José Padilha, um dos cineastas notórios da última década.
Conquistou inclusive a crítica estrangeira e as plateias americanas e europeias. Participou da Seleção Oficial do Festival de Berlim, onde ganhou o Urso de Ouro em 2008, e de forma merecida venceu quase todas as categorias do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, considerado o Oscar tupiniquim.
Infelizmente a pirataria fez parte do processo de disseminação do filme, fato este que ficou famoso, foi divulgado aos quatro cantos e irritou os produtores. Durante a inserção de legendas em estúdio, a cópia foi pirateada e vazou para a internet. Antes da estreia, mais de 10 milhões de pessoas haviam assistido a “Tropa”. Virou caso de polícia.
Mas logo o sucesso nas salas de cinema abafou aquela triste situação. Jornais de grande circulação apontaram o filme como o melhor trabalho brasileiro dos últimos anos – Folha de SP e O Globo foram alguns dos veículos.
Não há como negar: “Tropa de Elite” virou febre nacional e é obrigatório, assim como a sequência, lançada três anos depois. Ambos são contundentes, sem concessão. Não há disfarces nem fantasias nem pisadas em ovos.
Ficou polêmico por questionar o trabalho da Polícia Militar (o Bope é uma força especial dela), mostrar corrupção dentro dessa organização que, supomos, serve para deter o bandido e barrar o avanço das drogas. Aqui nossas ideias do que é certo e errado andam na contramão...
Submete a uma extensa análise fatos corriqueiros nos morros, que chocam o público. Por um lado é a rede de drogas que começa no distribuidor, passa pelos traficantes até chegar dinheiro na mão da polícia, que é passiva; por outro é a milícia com seus acertos e execuções sumárias; na ponta de lá está um grupo de PMs sérios, no encalço de perigosos bandidos; e na extremidade oposta, muitos policiais corrompidos. Quer mais verdade?
“Tropa” denuncia o sistema, algo que se aprofunda veemente na continuação, “Tropa de Elite 2: O inimigo agora é outro” (repare na inversão dos papéis, somente pelo título).
Um trabalho primoroso, jóia do cinema brasileiro, com elenco consistente (Wagner Moura, o melhor ator da geração, consagrou-se aqui), edição nervosa e um roteiro brilhante.
O cineasta José Padilha (acusado de ter feito aqui uma obra fascista, pela truculência da polícia, comparando-a a um regime ditatorial), realizou antes o surpreendente documentário “Ônibus 174” e pouco depois o premiado “Garapa”. Hoje é respeitado pela carreira centrada em trabalhos sólidos, encarados com distinta seriedade. Por Felipe Brida

Tropa de Elite
(Idem). Brasil/ EUA/ Argentina, 2007, 116 min. Ação/ Policial. Dirigido por José Padilha. Distribuição: Universal Pictures

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Cine Lançamento

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Premonição 5

Grupo de universitários sobrevive ao desabamento de uma ponte. Com o decorrer dos dias, a Morte passa a espreitar o caminho daqueles jovens.

Este é o melhor filme da franquia “Premonição” juntamente com os dois primeiros. Um espetáculo de efeitos visuais deslumbrantes e mortes horrendas, em estilo “gore” e bastante criativas (e todas possíveis de acontecer). A premissa sabemos de cor, pelas fitas anteriores: um jovem prevê um desastre calamitoso, e minutos depois o fato ocorre. Aqui, a desgraça envolve o desabamento de uma ponte suspensa sobre o rio, matando uma infinidade de pessoas. Aquele rapaz vidente salva os amigos, só que, posteriormente, a Morte persegue-os, e um a um é eliminado de maneira brutal.
A abertura, na ponte, é de tirar o chapéu e arrancar o fôlego, graças a uma recriação realista, feita com computação gráfica. O roteiro não muda nada, é sempre mais do mesmo, porém as situações inusitadas e as peripécias de cada sobrevivente para escapar vivo são o chamariz dessa produção caprichada. Quem tem aflição de agulhas e corte nos olhos é bom tomar cuidado: há duas sequências de verdadeira tortura, a de uma acupuntura malssucedida e outra de um exame de vista nada agradável.
Investiram pesado para o filme, com orçamento de U$ 40 milhões, rendendo pouco mais nas salas de cinema – ou seja, não teve o êxito esperado.
Como sempre, o elenco reúne jovens desconhecidos, grande parte vindos da TV, exceto dois atores negros, Courtney B. Vance, como o investigador, e Tony Todd, novamente na pele do assustador agente funerário. Um prato cheio (de sangue) para os fãs de fitas de terror. Por Felipe Brida

Premonição 5
(Final destination 5). EUA, 2011, 92 min. Horror. Dirigido por Steven Quale. Distribuição: Warner Bros

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Cine Lançamento

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Ataque ao prédio

Na periferia de Londres, gangue de rua aprisiona-se no prédio de um conjunto habitacional. A ideia do grupo é sobreviver, pois estão na mira de monstros alienígenas, famintos por carne humana. O local será palco de uma batalha entre humanos e seres do espaço sideral, com direito a granadas, tiros e muito sangue.

Ficou inédita no Brasil essa divertida comédia de humor negro britânica, que mistura dois outros gêneros codependentes, o terror e a ficção científica. Recebeu indicação ao Bafta de melhor direção e roteiro e ainda concorreu em festivais de cinema independente. Infelizmente obteve pouca repercussão, foi tremendo fracasso de público lá fora e pouca gente ouviu falar. Agora, em DVD, não há desculpa para perder.Um entretenimento excitante que celebra os filmes trash produzidos na década de 80.
A história é simples e se passa em um único cenário: o tal prédio referenciado no título, que fica no lado pobre do sul de Londres (lá existe periferia sim, como em todos os países, acreditem!). Dentro do edifício, jovens de uma gangue ficam escondidos com o intuito de planejar estratégias de sobrevivência. Isto porque o lugar está infestado de alienígenas em forma de enormes cães raivosos. E o resultado sabemos de cor – perseguições sem fim, muito tiroteio, escapadas, tudo em ritmo incessante. Ah, e um balde de sangue (não chega a ser ‘gore’ como o filme anterior dos mesmos produtores, a ótima comédia de humor negro “Todo mundo quase morto”, de 2004).
Visualmente o trabalho traz truques de iluminação bem curiosos, com cores azuis fortes – e toda a história acontece à noite. Outra diferença crucial (e uma das boas surpresas da fita) está na criação dos monstros: como já mencionado, cães selvagens com aparência de ursos pretos, com dentes fluorescentes, super assustadores e rápidos no ataque.
Atores ingleses desconhecidos compõem o elenco. Dos inúmeros, há dois rostos familiares, a do humorista Nick Frost e da jovem atriz Jodie Whittaker, lançada em “Vênus” (2006).
Em sua estreia no cinema, o diretor Joe Cornish, um dos roteiristas de “As aventuras de Tintim” (2011), acertou em cheio, sabendo dosar momentos cômicos (o restrito humor inglês, com piadas subentendidas, diálogos afiados, tiradas metafóricas), horror, ficção, toques de suspense e aventura. Por isso merece ser descoberto pelo público. Boa diversão (e cuidado com os sustos!). Por Felipe Brida

Ataque ao prédio
(Attack the block). Inglaterra/ França, 2011, 88 min. Comédia/ Ficção científica/ Horror. Dirigido por Joe Cornish. Distribuição: Sony Pictures